Parceria entre FEAC e Sorri Campinas promove inclusão por meio do cinema
Por: Fundação FEAC| Notícias| 21/12/2022O vídeo "Como eu me sinto" é uma iniciativa dos programas Fortalecimento de Vínculos e Mobilização para Autonomia, da Fundação FEAC, em parceria com a Organização da Sociedade Civil (OSC) Sorri Campinas
No dia 3 de dezembro, Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, a Fundação FEAC lançou em suas redes sociais o clip Como eu me sinto, primeiro filme da quarta edição do projeto CinemAQUI – ação Curta o Território e da campanha Reveja Seus Conceitos (saiba mais no box), que convida a população a uma reflexão sobre sua própria visão a respeito das pessoas com deficiência.
Para debater o tema, o vídeo campanha, que é protagonizado por pessoas com deficiência, ganhou lançamento oficial no CIS Guanabara – Centro Cultural Unicamp, em Campinas, nesta quarta-feira (14), em evento especial que promoveu a oportunidade de compartilharem sobre esta experiência (saiba mais sobre o evento abaixo).
O vídeo Como eu me sinto é uma iniciativa dos programas Fortalecimento de Vínculos e Mobilização para Autonomia, da Fundação FEAC, em parceria com a Organização da Sociedade Civil (OSC) Sorri Campinas, que atende pessoas com múltiplas deficiências e tem o objetivo de dar visibilidade e voz a esse público.
No Brasil, há ainda muito o que avançar no que diz respeito à plena inclusão de pessoas com deficiência, mais impactadas pela desigualdade social, como altas taxas de desemprego e maior incidência em empregos informais, além da falta de acesso a serviços de saneamento básico, como água potável, rede de esgoto e coleta de lixo. É o que mostra o estudo Pessoas com deficiência e as desigualdades sociais no Brasil do IBGE divulgado neste ano, com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019.
CinemAQUI: o poder de transformar
“Nós acreditamos no poder que as boas histórias têm de sensibilizar as pessoas e pautar causas e temas sociais”, diz Adriana Silva, analista de projetos do Programa Fortalecimento de Vínculos. “Por isso, decidimos fazer uma edição do CinemAQUI voltada às pessoas com deficiência e convidamos o Programa Mobilização para Autonomia, que atua com esse público, para participar e trazer temáticas da campanha para os vídeos”, explica.
Helen Araújo, analista de projetos do Programa Mobilização para Autonomia, reconhece o potencial do CinemAQUI e acredita que ele fortalecerá a campanha. “Nós conhecemos a trajetória do CinemAQUI e o quão importante ele é para o município nas áreas de arte e cultura. Introduzir a pessoa com deficiência nesse meio prova que ela é capaz e pode mostrar isso por meio da arte”, diz.
Criado em 2019, o CinemAQUI leva a experiência do audiovisual para áreas de vulnerabilidade social em Campinas. A ação Curta o Território, realizada nas edições anteriores, capacitou jovens a desenvolver um olhar aguçado sobre o bairro em que vivem por meio da produção de curtas-metragens filmados com dispositivos móveis.
“O propósito é despertar a sensação de pertencimento e fortalecer os vínculos nas comunidades”, diz Adriana. Nesta edição, o CinemAQUI direcionou os holofotes a pessoas com deficiência e à pauta da inclusão. O Programa de Fortalecimento de Vínculos convidou a Sorri Campinas para executar o projeto e iniciar a produção do primeiro vídeo para a campanha Reveja Seus Conceitos.
Oficinas e noções básicas de cinema
Antes da gravação do vídeo campanha, foram realizadas algumas das primeiras oficinas que vão compor o projeto em 2023. Os participantes trabalharam ao lado de profissionais de audiovisual e conheceram equipamentos cinematográficos com uma linguagem simples e adaptada. Aprenderam, por exemplo, o que é um roteiro, a função da claquete, como se paneja a iluminação, como manusear a câmera e decidir os figurinos.
Ester Piza, pedagoga, terapeuta ocupacional e gerente da Sorri, disse que no começo da gravação os jovens estavam ansiosos. Para ajudá-los a relaxar, foi colocada uma música ao fundo. “Foi muito legal. Eles disseram que ‘jamais pensaram que a música pudesse ajudá-los a perder o medo, relaxar e a fazer as coisas de forma mais natural'”, relata Ester.
Todos da organização participaram ativamente da produção do vídeo. Além de promover a autonomia dos jovens, houve incentivo ao trabalho em equipe. “O convívio social é importante. Colocá-los em uma mesma posição que a gente e tratá-los como iguais. E em nenhum momento da oficina desmerecemos isso”, conta Juliana Bombrim, mestre em Cinema Documentário e uma das parceiras mais antigas do CinemAQUI. Ao lado de Juliana, as oficinas também contam com a orientação do cineasta e professor de Linguagem Audiovisual e Antropologia da PUC-Campinas Caue Nunes.
No ano que vem, outras OSC que também atuam com pessoas com deficiência serão convidadas a participar e construir suas próprias produções para esta campanha. As oficinas serão adaptadas e todos os curtas terão recursos de acessibilidade, como legendas, Língua Brasileira de Sinais (Libras) e audiodescrição.
Assista aos curtas produzidos nas edições anteriores:
O audiovisual como ferramenta para inclusão
Esta não é a primeira vez que a Sorri Campinas participa do CinemaAQUI. Na edição de 2021, 27 pessoas da organização realizaram oficinas em formato on-line e produziram 17 curtas-metragens com o celular sobre o dia a dia deles. A OSC também já participou de outros projetos de arte e inclusão da Fundação FEAC.
Após a experiência, alguns participantes se interessaram em construir uma carreira em artes cênicas e audiovisual. Ester conta que um dos jovens do grupo queria estudar Engenharia Florestal, mas quando pegou na câmera formou o sonho de trabalhar com cinema. Hoje, graças ao que aprendeu nas oficinas, ele tem um canal no YouTube.
“É mais uma quebra de tabu. E a empregabilidade não precisa ser só jovem aprendiz ou voltada à parte administrativa. Por que não um cineasta? Por que não ter uma profissão voltada à arte?”, diz Helen.
Outras duas jovens da Sorri, que também participaram do Projeto Arte e Cultura da Fundação FEAC, expressaram o desejo de se tornarem atrizes. Elas receberam todo o apoio da OSC e realizaram um vestibular que possuía algumas características de acessibilidade, mas que não foram suficientes para se adequar à uma pessoa com deficiência intelectual e, por isso, não foram aprovadas. Ester explica que a acessibilidade numa prova não inclui apenas os recursos disponíveis. Também precisa ser refletida no conteúdo abordado e na sensibilidade do corretor.
Apesar disso, as jovens e a equipe não desistiram. Elas participaram de outro processo seletivo de uma escola de artes em Campinas e foram aprovadas. “A gente tem uma frase muito forte dentro da Sorri que é ‘Nunca deixe ninguém dizer que você não é capaz’. Somos todos capazes”, fala Ester.
Encontro numa noite especial
Lançamentos e debates
Na noite do dia 14/12, aconteceu no CIS Guanabara – Centro Cultural Unicamp o lançamento oficial do vídeo Como eu me sinto ao público, marcando o início da nova edição do projeto CinemAQUI e da campanha Reveja Seus Conceitos.
Após o vídeo, foi realizado um momento de relato sobre a experiência e, para encerrar a noite, a exibição do documentário Longe da árvore (2019), baseado no livro Longe da árvore: pais, filhos e a busca da identidade, do escritor norte-americano Andrew Solomon. O documentário narra a história de famílias que precisaram aprender e valorizar as diferenças.
O evento contou com a presença dos participantes da produção do vídeo-campanha, da Sorri Campinas, de OSC que atuam com pessoas com deficiência e com arte e cultura e público em geral. Para mais informações, acompanhe a Fundação FEAC nas redes sociais.
Campanha Reveja Seus Conceitos
Impacto pela arte
A campanha Reveja Seus Conceitos, do Programa Mobilização para Autonomia, tem o objetivo de propor à população uma reflexão sobre a forma de enxergar e tratar as pessoas com deficiência. Assim, busca contribuir para promover a inclusão, conforme políticas públicas, eliminando as barreiras comunicacionais, atitudinais, urbanística, tecnológica entre outras enfrentadas por esse público.
De acordo com Helen Araújo, a parceria com o projeto CinemAQUI, do Programa de Fortalecimento de Vínculos, é uma iniciativa importante para a campanha: “É um grande impacto para a gente, uma vez que a arte é singular e afeta as pessoas de forma única. A pessoa com deficiência quer conquistar o espaço dela e garantir que seus direitos sejam vivenciados. Estamos com uma grande expectativa.”
Por Pietra Bastos