Participação cidadã no Brasil é maior via internet e tem baixa ação dos jovens

Por: GIFE| Notícias| 05/12/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A elaboração do Índice de Participação Cidadã (IPC) é um dos projetos centrais da Rede Interamericana para a Democracia (RID). Trata-se de um instrumento orientado à avaliação periódica e sistemática dos âmbitos e níveis de participação cidadã na região e em alguns dos países que participam da iniciativa.

O projeto começou a ser desenvolvido no Chile, em 2003, passou para sete países da América Latina no ano seguinte e alcançou oito em 2005 (Argentina, Peru, México, Republica Dominicana, Costa Rica, Brasil, Chile e Bolívia). Este é o segundo ano em que a pesquisa é realizada no Brasil, onde foi constatado que a participação é maior via internet – e menor por correio, telefone e manifestações de rua -, de homens e das classes sociais mais altas. Outro indício foi o de baixa participação dos jovens.

O Movimento Voto Consciente faz parte do grupo coordenador da Rede Interamericana pela Democracia e atua desde 1987 no acompanhamento do Legislativo no Brasil e na educação para o exercício da cidadania. Rosangela Giembinsky, coordenadora geral do Movimento, explica que, embora neste ano o Brasil tenha demonstrado o maior nível de participação, todos os oito países pesquisados apresentam um baixo índice mediano na América Latina.

“”Constatamos que aqui, ′a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo′, e que há uma ampla predisposição (cerca de 80%) a participar dos processos eleitorais””, afirma Rosangela. Em entrevista ao redeGIFE, ela fala sobre o que é considerado para a medição do índice e as características da participação cidadã no Brasil.

redeGIFE – Como é feito o cálculo do Índice de Participação Cidadã? Quais aspectos são considerados?
Rosangela Giembinsky – O Índice de Participação Cidadã está baseado em um modelo variável para produzir uma média resumida, que se baseia em uma escala numérica de 1 a 10 e incorpora diferentes componentes envolvendo a participação cidadã. É feito um estudo quantitativo, através de pesquisa telefônica, sobre uma base de oito amostras probabilísticas independentes. Mede-se em suas perguntas com qual intensidade os cidadãos atuam em benefício do coletivo, levanta os diferentes níveis de compromisso assumidos em associações e organizações na vida comunitária e a participação política. A pesquisa também considera as diferenças por sexo, faixa etária e nível socioeconômico.

redeGIFE – Foi identificado um alto nível de participação cidadã no Brasil (o maior índice entre os países pesquisados). A que podemos atribuir isso?
Rosangela – O índice neste ano é resultado da pesquisa realizada em junho e julho no Brasil. Portanto, estávamos em um momento bastante agudo da crise política e acreditamos ter registrado um apelo e participação neste sentido, inclusive mostrando uma grande participação via internet e maior que nos demais países, que registram manifestação por correio e telefone e maior mobilização de rua e protesto do que nós temos aqui.

redeGIFE – O Brasil se destaca no que diz respeito à participação direta, que inclui atuação em ONGs e ações de responsabilidade social. A que isso se deve?
Rosangela – Penso que, antes da década de 90, a participação política era maior e as pessoas se envolviam em partidos. Hoje, a organização em entidades e associações está evoluindo muito e grande foi a contribuição inclusive nos avanços democráticos e na conquista de instituições mais fortes. O conceito de responsabilidade social em larga escala avançou no Brasil, fruto de organizações que abraçaram esta causa e com resultados relevantes.

redeGIFE – Quais fatores facilitam e quais dificultam a participação cidadã nos países latino-americanos?
Rosangela – Vivemos, há algumas décadas, demandas sociais importantes e crescentes, carências que não foram resolvidas pelas ações do Estado, onde a sociedade civil teve um grande papel neste protagonismo, e hoje existe um clamor para formas novas e cada vez mais dinâmicas de participação cidadã. O grau de organização da sociedade civil, os âmbitos de participação e seus resultados constituem talvez o dado mais relevante na evolução recente das sociedades do continente. A organização de grupos de participação envolve a valorização do conceito do coletivo e, culturalmente, este está sendo modificado. Porém, o individualismo e a defesa dos interesses pessoais ainda prevalecem. Mesmo diante de complexos problemas sociais, temos uma das maiores desigualdades na distribuição de renda na América.

redeGIFE – Uma das conclusões do relatório é que “”a falta de participação cidadã na construção da agenda pública por meio de canais de opinião tende a enfraquecer um dos principais veículos identificados para a participação nas sociedades modernas””. Quais seriam estes canais?
Rosangela – A imprensa e os meios de comunicação têm papel relevante na agenda pública. Acreditamos ser importante que as organizações da sociedade civil conquistem espaços nesta agenda pública também, aproveitando os canais de comunicação existentes para a participação de opinião e a busca de solução, ao mesmo tempo em que podem dar novos rumos no direcionamento das políticas públicas com toda sua vivência social e noção de responsabilidade social crescente.

Clique aqui para acessar o relatório completo do Índice de Participação Cidadã 2005.

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