Participação de atletas é importante no desenvolvimento social

Por: GIFE| Notícias| 03/06/2002

Será apresentado durante a 5ª Conferência Internacional da International Society for Third-Sector Research (ISTR) o estudo Esportes, Filantropia e Ação sem Fins Lucrativos.

Realizada por Andrés Thompson, diretor de programas para a América Latina e Caribe da Fundação Kellogg, e Juan Vallejos, do Centro de Estudos de Estado e Sociedade (Cedes), da Argentina, a pesquisa explora o potencial da união esporte e ação social e mostra possíveis formas de atuação. Em entrevista ao redeGIFE, Andrés Thompson fala sobre o estudo.

redeGIFE – Quais os principais pontos que você abordará em sua conferência no ISTR?
Andrés Thompson – Tendo como base a análise de iniciativas no campo não-governamental e filantrópico, apresentaremos modelos distintos por meio dos quais os esportistas exercem ações sociais. Esta investigação tem sido desenvolvida por uma equipe do Cedes (Centro de Estudos de Estado e Sociedade), da Argentina, com o apoio da Fundação Kellogg. Além dos resultados da investigação, também será apresentado o site http://www.clubsocial.org.

redeGIFE – Qual o potencial que existe na união entre causas sociais e esportistas?
Thompson – Os esportistas são ícones sociais e modelos para a juventude. Eles representam uma série de valores, tais como o trabalho em equipe, a superação pessoal, a dedicação e o esforço constante. Além disso, têm vínculo direto e capacidade de pressão sobre o mundo empresarial. Neste sentido, o esporte e os atletas são instrumentos importantes para o desenvolvimento social, em particular quando se trabalha com jovens.

redeGIFE – Este ainda é um campo pouco explorado?
Thompson – Ele é muito pouco explorado, embora eu desconheça os motivos. Existe uma grande disposição por parte dos atletas e uma infra-estrutura institucional importante envolvida para que o esporte possa ser aproveitado para promover causas sociais e para produzir uma importante diferença em torno da infância e da adolescência. Mas, em geral, tem-se tratado de utilizar os esportistas com fins comerciais, e muito pouco com fins altruístas.

redeGIFE – Quais casos você cita como modelos de sucesso nesta área?
Thompson – Alguns casos exemplares no Brasil são o Instituto Ayrton Senna, a Fundação Gol de Letra, criada pelos ex-jogadores Raí e Leonardo, o Instituto Correndo pela Vida, de Zequinha Barbosa, e o projeto Vila Olímpica, da Xerox. Na Argentina, temos a escola para tenistas portadores de necessidades especiais de Claudia Casabianca, o Clube Defensores del Chaco, liderado pelo ex-jogador de futebol Fabián Ferraro, e a Fundação Corazoncito, encabeçada pelo jogador de basquete Hector Pichi Campana. Além disso, a maioria dos clubes argentinos de futebol desenvolve ações sociais importantes.

redeGIFE – Quais as principais dificuldades encontradas pelos esportistas quando eles decidem iniciar uma ação social?
Thompson – A principal dificuldade é a desconfiança e a utilização comercial que se faz deles. A maioria sente que não tem controle sobre o que desenvolve e que não tem capacidade de decisão. Por isso é que geralmente eles criam as próprias instituições, sempre com o apoio de suas famílias. Outra dificuldade é a notável falta de conhecimento sobre as ações que eles desenvolvem, que pode levar à falta de recursos e de incentivos pessoais.

redeGIFE – Qual a melhor forma de superar os problemas e potencializar os investimentos nesta área?
Thompson – Um primeiro elemento importante é dar visibilidade às diferentes formas de investimento e apoiar os esportistas técnicamente no trabalho que realizam, já que eles têm muita sensibilidade, mas pouca formação na área social. Paralelamente, temos comprovado que o intercâmbio e o conhecimento mútuo das experiências criam um sentimento de cooperação muito poderoso entre eles.

redeGIFE – A Fundação Kellogg mantém iniciativas para incentivar o investimento social por parte dos atletas? Por que a organização decidiu investir nesta área?
Thompson – A Fundação está desenvolvendo várias ações nesta área. Temos apoiado economicamente vários projetos-modelo que podem servir de exemplo e de estímulo para outros atletas. Por outro lado, promovemos reuniões de intercâmbio com esportistas, nas quais tivemos a oportunidade de conhecer o trabalho que eles desenvolvem e para que eles nos mostrassem suas idéias sobre o que a Fundação Kellogg poderia fazer neste campo. Como resultado destas ações, começamos um trabalho muito ambicioso que resultará na criação de uma fundação global liderada por esportistas. Queremos promover um espaço de intercâmbio de conhecimento e assessoria em ações que unam o esporte, a filantropia e a transformação social.

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