Participação de empresas em programas de prevenção e combate à Aids pode aumentar com incentivo do governo

Por: GIFE| Notícias| 19/07/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Na última semana aconteceu em Bangcoc, na Tailândia, a 15ª Conferência Internacional de Aids. Bienal, o evento reúne os maiores especialistas do mundo e é considerado o mais importante sobre o tema. Um dos documentos apresentados mostra que os recursos destinados a programas de combate e prevenção à doença têm crescido nos últimos anos, mas ainda são insuficientes.

De acordo com o relatório, feito pela Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), estima-se que serão necessários, em 2007, US$ 20 bilhões por ano para programas nesta área em países da América Latina e do Caribe. No entanto, os recursos destinados para eles não devem ultrapassar os US$ 10 milhões.

Os maiores financiadores dessas ações são os governos locais e as iniciativas multilaterais. No setor privado, as fundações internacionais são as mais importantes fontes de recursos. Entre 1997 e 2002, o financiamento por parte delas passou de US$ 7 milhões para US$ 260 milhões. Porém, a Unaids alerta que esses recursos têm flutuado nos últimos anos e devem diminuir.

No Brasil, que tem um dos programas de combate e tratamento da Aids mais elogiados do mundo, o governo investe cerca de R$ 700 milhões por ano. As organizações não-governamentais têm desenvolvido um importante trabalho de sensibilização sobre a prevenção e contra a discriminação aos portadores do vírus, mas muitos consideram que a participação efetiva das empresas, fundações e institutos empresariais nacionais ainda está aquém de sua capacidade.

A coordenadora do Projeto Viva Voz do Grupo Pela Vidda (Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids) do Rio de Janeiro e assessora técnica do Conselho Empresarial de Aids do estado, Ana Bontempo, conta que as instituições internacionais sempre foram mais sensíveis à questão desta doença. Ela acredita, porém, que por conta da divulgação do Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde como sendo um sucesso, as ofertas de recursos vindos do exterior vêm se reduzindo.

“”Realmente tivemos um avanço, obtido pela pressão da sociedade civil sobre o governo, fazendo-o despertar para uma ação efetiva. Entretanto, ainda há muitos desafios a serem transpostos para uma atenção integral às pessoas vivendo com HIV/Aids. Devemos ampliar o diálogo com outros setores da sociedade, além da área de saúde, pensando na Aids dentro de um contexto mais amplo, que envolva temas como educação, desenvolvimento econômico e social, segurança e direitos humanos””, afirma Ana.

Desmistificar nos empresários e executivos a ligação da Aids com a morte e estimulá-los a enfatizar a prevenção nos programas de qualidade de vida promovidos pelas empresas são, segundo Ana, os principais desafios. “”Ainda existe muito preconceito neste sentido, e isso só será reduzido com a difusão de informações corretas e atualizadas, por meio de palestras e workshops sobre o tema.””

Para José Carlos Veloso, presidente do Gapa (Grupo de Apoio à Prevenção à Aids) de São Paulo, a questão da sexualidade ainda é uma forte barreira para a sensibilização sobre a Aids. “”Mitos e preconceitos são reforçados dia-a-dia. Além disso, uma das principais dificuldades é que ainda se confunde muito assistência, assistencialismo, controle social e políticas públicas””, explica.

Ele defende a importância das parcerias entre os programas nacional e estaduais de DST/Aids, as ONGs que atuam nesta área e o Conselho Empresarial Nacional de Prevenção ao HIV/Aids (CEN). O CEN foi criado em 1998 pelo Ministério da Saúde, buscando fortalecer as iniciativas das empresas brasileiras e otimizar esforços e recursos para atingir mais pessoas e tornar as ações voltadas para o combate à Aids mais efetivas.

O presidente do comitê executivo do CEN e gerente executivo de serviços corporativos da Volkswagen, Murilo Moreira, explica que o conselho realiza duas grandes campanhas ao grande público por ano: uma no dia 12 de junho (Dia dos Namorados) e outra no dia 1º de dezembro (Dia Mundial de Combate ao HIV/Aids). Neste ano, foi criado o Dia Nacional de Prevenção ao HIV/Aids, que será comemorado em 8 de outubro, quando será realizado o 2° Semcen (Seminário do Conselho Empresarial Nacional).

O CEN também participa de encontros internacionais e produz materiais de apoio para que as empresas desenvolvam suas ações preventivas. Para Moreira, trabalhar na disseminação da mensagem prevencionista internamente, em treinamentos, eventos empresariais e programas de qualidade de vida, é a melhor forma de participação das empresas nesta área.

“”Claro que, frente ao universo de empresas existentes no país, o número das que apóiam programas de combate e prevenção à Aids ainda é pequeno. Mas ele está em constante crescimento. Já existem conselhos estaduais no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, O outros estados, como São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e Pernambuco, vêm estudando a sua criação””, conta.

A Volkswagen tem uma política de prevenção e assistência às DST/Aids para seus funcionários. Um de seus principais programas nesta área é o Aids Care, criado há oito anos e que já resultou em maior controle clínico e prevenção de manifestações da doença, diminuição dos períodos de afastamento do trabalho, racionalização dos custos assistenciais e melhor qualidade de vida para os funcionários.

A Philips do Brasil faz parte do CEN desde a sua criação. Elizabeth Amadei Nogueira, gerente da área de saúde e qualidade de vida da empresa, acredita que um dos fatores que têm levado as empresas a se mobilizarem cada vez mais para este tema é justamente o incentivo do Ministério da Saúde.

Em 2001, a Philips criou o projeto de voluntariado Doe Vida, direcionado a estudantes de escolas públicas, entre 14 e 18 anos, nas cidades de São Paulo (SP), Mauá (SP), Varginha (MG), Recife (PE) e Manaus (AM). A iniciativa já atendeu 41 mil jovens, com a participação de funcionários na conscientização sobre doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), e agora também está atendendo algumas ONGs e comunidades locais.

Trabalhar em prevenção, valendo-se de um efeito multiplicador, de acordo com Elizabeth, é o que fará a diferença na redução desta epidemia. “”A inclusão social dos portadores do HIV e a colaboração para projetos preventivos é uma das principais responsabilidades da sociedade civil. Temos que deixar nossos preconceitos de lado e entender que o combate à Aids é feito pela prevenção, que tem início na educação e na informação””, afirma.

A ainda baixa adesão das empresas no desenvolvimento de programas específicos contra a Aids pode ser explicada pelo custo elevado destas iniciativas, segundo o diretor de relações no trabalho do Unibanco, Marcos Próspero. Mas ele também acredita que grandes esforços têm sido realizados para aumentar o número de organizações que atuam com este tema.

“”O governo brasileiro tem ensinado ao mundo que, na luta contra o HIV/Aids, a melhor arma é a ação em múltiplas frentes. Sua abordagem garante o tratamento e mantém estratégias agressivas de prevenção, por meio de campanhas direcionadas. A sociedade civil organizada deve apoiar projetos e acompanhar as ações e os orçamentos públicos destinados para este fim.””

Também integram o CEN a Natura Cosméticos, membro da rede GIFE, e Avon Cosméticos, Bradesco e Editora Abril, empresas mantenedoras de outros associados.

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