Pelo combate à insegurança alimentar, campanha Mobiliza Campinas está chegando aos que mais precisam
Por: Fundação FEAC| Notícias| 20/09/2021Foto: divulgação/Fundação FEAC
Uma avaliação parcial da segunda edição do Mobiliza Campinas mostra que, em comparação com 2020, a campanha está beneficiando um público ainda mais vulnerável.
“A criação esse ano do Comitê Executivo [do qual participam organizações da sociedade civil parceiras da FEAC e que atuam na ponta] permitiu um olhar mais atento para o território. Tivemos mais tempo para buscar as famílias que mais precisavam”, ressalta Sílnia Prado, do Programa Fortalecimento de Vínculos da FEAC e membro do Comitê Executivo da campanha.
Um dado que revela a assertividade da nova edição é que a maioria das famílias participantes da primeira fase (57,8%) não havia sido beneficiada pelo Mobiliza Campinas no ano passado, o que mostra que “a campanha está chegando em um novo público, afetado pela segunda onda da pandemia e que passou a depender da assistência social”, conclui Sílnia, ao analisar os dados relativos à primeira fase da iniciativa, que aconteceu entre maio e junho de 2021.
Perfil
A campanha, que distribui cartões alimentação carregados mensalmente com R$ 120 por quatro meses, fez uma pesquisa com 3.728 pessoas beneficiadas para saber qual era seu perfil e o de suas famílias. Como na edição passada, há uma prevalência das mulheres (veja o infográfico).
“Ter uma maioria de mulheres beneficiadas mostra uma realidade do Brasil e do mundo. Elas mantêm a família unida e alimentada, enquanto muitos homens abandonam o lar quando a situação aperta”, avalia Daniel Balaban, representante no Brasil do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e diretor do Centro de Excelência Contra a Fome.
Outros dados que chamam a atenção para o grau de vulnerabilidade dos beneficiados é que quase a metade das famílias são monoparentais e 54,4% têm renda familiar de até R$ 550 (veja o infográfico).
Ao olhar os resultados da pesquisa, o prefeito de Campinas, Dário Saadi, ressalta que “o Mobiliza Campinas é um instrumento fundamental para ajudar as pessoas que estão em um grau de vulnerabilidade acentuada”.
Insegurança alimentar entre crianças e jovens
Dentre as famílias que participaram da avaliação da primeira fase da segunda edição da campanha, quase a metade delas tem ao menos uma criança com menos de 6 anos dentro de casa.
Os efeitos da desnutrição nessa faixa etária podem ter consequências para toda a vida. “É um momento em que as crianças estão com o cérebro em desenvolvimento, a fome pode levar a deformações importantíssimas, e isso é um problema que ainda vamos enfrentar durante muitos anos”, ressalta Daniel, do WFP.
A estratégia de distribuir cartões alimentação pode ajudar no enfrentamento a esse grave problema, pois permite, por exemplo, que as famílias complementem itens industrializados com opções mais saudáveis. “A cesta básica é importante, mas não tem alimentos in natura. O cartão dá autonomia para as pessoas comprarem o que falta, conseguindo uma alimentação mais nutritiva”, diz Sílnia, da FEAC.
A crise continua
Sílnia aponta que “a questão alimentar vai ter de ser pauta nos próximos anos”. Segundo ela, já havia uma tendência de aumento da fome desde 2017, e a pandemia só agravou isso.
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, ressalta que o tamanho é muito grande e que “o poder público sozinho não consegue dar a proteção social que a população precisa. É muito importante que a sociedade civil seja nossa parceira no enfrentamento dessa questão”.
Essa relação entre poder público e sociedade civil já acontece na cidade. Em março de 2021, por exemplo, a prefeitura lançou a campanha Campinas sem Fome para dar conta da continuidade da insegurança alimentar. Dário destaca que “a parceria com mais de 150 OSC da cidade acelerou e colaborou acentuadamente para o sucesso dessa ação e para que os alimentos chegassem rapidamente a quem precisa”.
Já Daniel, do WFP, finaliza dizendo que a sociedade civil vai ter de buscar um outro papel num cenário de continuidade da fome. “Além de dar alimentos, é preciso tornar essa uma pauta nacional. O estado brasileiro não tem feito absolutamente nada, enquanto a sociedade civil é quem tem de correr atrás. É preciso advocacy para levar esse tema para Brasília.”