Pesquisa revela comportamento dos empresários ao investir em educação

Por: GIFE| Notícias| 11/11/2002

MÔNICA HERCULANO

Desde o início dos anos 90, as empresas têm atuação cada vez mais consciente e pró-ativa no setor educacional brasileiro. Em contraposição ao aspecto meramente filantrópico visto a partir da década de 30, hoje se observa que o setor privado busca melhor articulação e estruturação para o desenvolvimento de projetos.

É o que afirmam Helena Bomeny e Marcela Pronko no estudo Empresários e Educação no Brasil, lançado no final de outubro pelo Preal (Programa de Promoção da Reforma Educativa na América Latina e Caribe), com apoio das fundações Ford e Getúlio Vargas.

Outra publicação sobre este tema, que trará recomendações para o empresário que pretende investir em educação, será lançada pelo Grupo de Afinidade de Educação do GIFE.

Já a publicação do Preal apresenta os resultados da pesquisa de mesmo nome, que consultou mil empresas com o intuito de aprofundar e qualificar a variedade, a extensão e a natureza dos investimentos empresariais em educação no país. De acordo com o levantamento, 70% das 300 empresas que afirmaram investir em educação foram motivadas pela melhoria da qualidade dos funcionários.

Helena conta que a principal revelação do estudo foi o tipo de investimento feito pelas organizações. “”Diferentemente do trabalho de aperfeiçoamento do funcionário para o exercício da sua função na empresa, os programas estão sendo direcionados para a escolarização””, explica. Segundo ela, isso reflete a preocupação das empresas em suprimir uma deficiência de formação que deveria estar a cargo do Estado.

Educação pública – De todas as organizações que afirmaram ter programas educacionais, apenas 20% fazem investimentos para o público externo, e, deste grupo, 7,5% têm projetos dirigidos a crianças ou ao ensino fundamental, sendo a maioria (54%) para estudantes da rede escolar pública.

Conceição Bongiovani, gerente de projetos de educação da Vitae, ressalta que é prioritário que o setor privado apóie as redes públicas, não apenas de educação infantil ou do ensino fundamental, mas também de ensino médio. Porém, ela alerta que há uma tendência das empresas a atuarem mais em suporte a instituições sociais que oferecem educação complementar do que nos sistemas formais e regulares.

“”Falta uma ação mais eficaz do Estado para coordenar, integrar e orientar as empresas, as fundações e os institutos empresarias, que muitas vezes não sabem selecionar adequadamente as prioridades dos sistemas públicos de ensino. Também falta ao Estado disposição para colher dados e informações de experiências bem-sucedidas do setor privado, que poderiam inspirar políticas públicas mais eficazes””, avalia.

A questão da participação das empresas na educação pública também foi analisada na pesquisa. Das 100 que afirmaram não investir em educação, 90% acreditam que o Estado deveria destinar mais recursos para a área, mas concordam que a iniciativa privada também deve promover programas educativos. 67% consideram que a educação constitui um dos principais problemas nacionais.

Para Sílvia Zanotti, coordenadora de projetos do Instituto C&A, mais empresas podem atuar na área de educação, mas os projetos financiados pela iniciativa privada não têm a possibilidade de universalização que possui o Estado. “”Acredito que o investimento social privado poderia ser mais articulado com o Estado, de forma que os espaços de educação já existentes fossem fortalecidos, o que aumentaria o impacto das ações governamentais e não-governamentais.””

Entre os motivos pelos quais não desenvolvem ou apóiam projetos, os empresários apontam que: quem deve investir é o Estado (25%), não há interesse social para que isso aconteça (18%) ou faltam recursos disponíveis para o investimento (12%).

Parceria – Das organizações que investem em educação, constatou-se que em 51% delas o planejamento dos projetos é realizado por uma equipe da própria empresa e, em 44%, a execução também fica por conta dessa equipe. Esses dados são avaliados pelas autoras do estudo como indicação de que existe ainda uma baixa taxa de parceria para o desenvolvimento dos investimentos empresariais em educação.

Conceição considera essas práticas inconvenientes para a produção dos resultados educacionais de que a sociedade brasileira realmente precisa. Para ela, o setor empresarial deve contribuir, além de destinar recursos, transmitindo aos possíveis parceiros o conhecimento gerencial para a execução dos programas.
“”Penso que as empresas não deveriam assumir nem executar projetos próprios diretamente, pois há instituições que têm a missão específica de oferecer educação aos nossos jovens e são elas que precisam ser fortalecidas e apoiadas no desempenho da sua missão””, explica Conceição.

Sílvia diz que a parceria com outras organizações exige tempo e abertura da empresa para conhecer a cultura dessas entidades. “”Além disso, é preciso maturidade para que se estabeleça um diálogoentre empresariado, mais ágil e em busca de resultados concretos e de curto prazo, e as organizações sociais, que têm critérios de atuação mais subjetivos e com resultados de longo prazo.””

A grande maioria (78%) dos projetos em execução passa por algum tipo de avaliação, sendo que em 57% dos casos isso também é feito por uma equipe de funcionários da empresa. Helena Bomeny, no entanto, lembra que, com a complexidade que os programas vêm atingindo, já existe dentro das empresas a consciência e a busca pela especialização dessa equipe na área dos projetos.

Colaborou Roberta Pavon

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