Pesquisas traçam panorama do investimento social global

Por: GIFE| Notícias| 24/02/2011

Qual o contexto do investimento social privado global? Como explicar a multiplicação de fundações comunitárias no mundo durante a última década? Estas questões foram respondidas, no último dia 24 de fevereiro, durante a apresentação de duas pesquisas no Seminário Investimento Social Global e o Papel das Agências de Desenvolvimento, realizado pelo GIFE e a WINGS – Worldwide Intiatives for Grantmaker Support, rede mundial que reúne associações de fundações de mais de 50 países.

Segundo o secretário-geral do GIFE e chairman da WINGS, Fernando Rossetti, os dadoslevantados pela organização internacional são importantes, pois mostram o contexto da filantropia mundial aos brasileiros. “Esses estudos mostram como o Brasil pode se colocar internacionalmente, pois além de se tornar um importante player global, também é um dos atores de destaque no investimento social, na busca de soluções estratégicas aos desafios socioambientais”, afirmou.

O evento contou com o apoio do Consulado do Canadá e do Instituto BM&FBOVESPA.
Fundações Comunitárias
A primeira pesquisa,The 2010 Global Status Report on Community Foundations, apontou o crescimento das fundações comunitárias pelo mundo. Segundo o levantamento, apresentado pela vice-presidente da Community Foundations of Canada, Jane Humphries, a Europa foi a grande incubadora dessa modalidade de organização na última década, ao apresentar um crescimento de aproximadamente 600%.
Globalmente, mostra a pesquisa realizada pela WINGS, o número de fundações comunitárias quase dobrou nos últimos 10 anos – de 905 em 2000, para 1680, em 2010. Muito desse crescimento provém da América do Norte (de 700 para 880), apesar de grande parte dessas organizações ter se formado antes de 2003. Em outros continentes, o surgimento de novas organizações (quase 100) está concentrado na África e Ásia.

Para entender, essa modalidade de organização da sociedade civil se define por atuar em uma base territorial definida, articulam investimentos de uma ampla gama de investidores, são geridas por representantes da comunidade local e que criam mecanismos de sustentabilidade que permitem investimentos locais em longo prazo.

“A pesquisa mostra o cenário dessas organizações em 27 países, incluindo o Brasil. O que se percebe é a falta de uma cultura de doação em muitos países, tal como a falta de incentivos por parte do marco regulatório, daí o crescimento em determinadas regiões, como América do Norte e Europa. A boa notícia é que nas demais regiões esse contexto começa a mudar”, afirmou Jane Humphries.

Além de fatos, números, as relações comunitárias, a mobilização por recursos e a pressão por mudanças no marco regulatório dos países analisados, um dado importante do levantamento é a própria importância dessas fundações. Principalmente no que tange o valor das pequenas doações – maximizadas nessa modalidade institucional – e a valorização dos vários atores sociais, para que tenham voz, promovendo, mesmo que indiretamente, o conceito de justiça social.

Filantropia Institucional
Já a segunda pesquisa, Global Institutional Philanthropy Report, divulgada pelo vice-presidente do Council on Foundations (CoF), Matthew Nelson, trouxe um perfil da filantropia internacional, por regiões e países. Ao mesmo tempo, o material traz uma série de relatórios que demonstram as lacunas de informação sobre investimento social privado na maior parte dos países e o imenso obstáculo para que ele cresça e se torne uma prática ainda mais efetiva.

“O levantamento pode não ter números perfeitos, mas apresenta um quadro rico sobre o investimento social privado no mundo. Quem pretende realizar investimento no exterior deve ler este material”, garantiu Mathew Nelson.

Ele dá como exemplos da pesquisa a análise elaborada sobre a região da África subsaariana, a partir de dados extraídos do Quênia e África do Sul. Segundo o vice-presidente do CoF, as empresas nessas localidades, por lei, devem destinar um percentual para filantropia. Por outro lado, as fortes tradições populares na região norteiam os investimentos. “São exemplos de singularidades de cada lugar”.

“É a primeira vez que fazemos esse levantamento, em que percebemos os gaps de informação, as diferentes definições e metodologias utilizadas para levantar dados e a falta de padronização”, ressaltou Nelson.

Oportuno, no entanto, é o trabalho da WINGS, do qual a pesquisa faz parte. Ao criar ações em prol de um marco regulatório mais estimulante à filantropia pelo mundo, a organização pretende ampliar o trabalho das associações e fundações com governos, muitos deles alinhados a políticas públicas. “A filantropia é uma gota no oceano”.

Entre os principais highlights da pesquisa, destacam-se: o aumento do capital filantrópico; a melhoria das estratégias de investimento social privado e seu impacto; um marco regulatório para o campo social favorável à cultura de doação e; o fortalecimento da sociedade civil.

Cooperação Internacional
No encontro, também será realizado debate com agências de desenvolvimento sobre o seu papel na promoção do investimento social no mundo. Para a mesa foram convidados o Chefe do Departamento de Economia Solidária do BNDES, Angelo Fuchs, e o diretor da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), Ministro Marco Farani.

“”O objetivo dessa mesa foi explorar as possibilidades de articulação entre o investimento social privado brasileiro – que enfrenta o desafio de internacionalização – com a atuação das agências governamentais e multilaterais que promovem a cooperação internacional””, justificou Fernando Rossetti, que mediou o debate.

Para saber, a ABC faz parte da estrutura do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e tem como objetivo negociar, coordenar, implementar e acompanhar os programas e projetos brasileiros de cooperação técnica. Todos eles, executados com base nos acordos firmados pelo Brasil com outros países e organismos internacionais.

“O Brasil alcançou um papel importante no campo político e na busca de soluções para crises internacionais. Não por acaso, na última semana a Hillary Clinton (secretária de Estado dos EUA) defendeu a ajuda brasileira na reconstrução da democracia do Egito. O Brasil vai ser cada vez mais chamado para cooperação internacional”, alegou o Ministro Marco Farani.

A agência, apesar de contar com o diminuto orçamento de pouco mais de R$ 100 milhões, está à frente de 350 projetos, em 70 países. ”O Brasil é hoje a moça bonita do baile, que todo mundo quer tirar para dançar”, brincou.

No que se refere a colaboração de investidores sociais de origem privada e a agência de cooperação, o ministro foi enfático: “ela é bem-vinda. Mas a agência não pode ser instrumento de interesses privados, nem mesmo da política externa. Ela deve ser autônoma”.


Para assistir a gravação do Jornal Futura sobre a cobertura do evento, clique aqui.

As fotos do evento podem ser visualizadas no facebook do GIFE.

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