Planejamento aumenta eficácia de projetos sociais, diz professora

Por: GIFE| Notícias| 15/07/2002

No próximo dia 26 de julho em São Paulo e em 20 de setembro no Rio, o curso Ferramentas de Gestão, do GIFE, abordará o planejamento e a elaboração de projetos, tema que ganha cada vez mais espaço no gerenciamento das organizações da sociedade civil. A aula será ministrada pela professora Thereza Christina Holl Cury, mestre em Filosofia pela PUC-SP e que desenvolve, desde 1997, trabalhos nesta área. A seguir, ela adianta alguns pontos que serão abordados em sua exposição.

redeGIFE – Por que é importante para uma organização da sociedade civil planejar seus projetos?
Thereza Christina Holl Cury – Em diferentes momentos e níveis, o processo de planejamento é fundamental tanto para as organizações quanto para seus projetos sociais. Um planejamento bem-feito incide diretamente no aumento da eficácia e, mais importante do que tudo, no aumento da efetividade dos resultados. Mesmo que não tenhamos controle total sobre nossos resultados – e não temos -, planejando minuciosamente nossa ação podemos influir no futuro, prevendo possibilidades e dificuldades, criando e antecipando respostas.

redeGIFE – Existem dados que mostrem um aumento do número de organizações da sociedade civil que utilizam o planejamento de projetos? A tendência é isso crescer com o tempo?
Thereza – Não conheço dados estruturados a este respeito, mas, se levarmos em conta os inúmeros cursos de metodologias de planejamento que estão sendo ofertados e os livros editados atualmente sobre este tema, poderíamos afirmar que as organizações começam a perceber a importância de ter um planejamento bem-feito e eficiente.

redeGIFE – O que deve constar num planejamento eficiente?
Thereza – Clareza e definição quanto a objetivos, público-alvo, estratégias, foco, resultados e efeitos esperados. Além disso, é preciso saber o que, para que, quanto, quando e para quem eu quero fazer o projeto. Soma-se a isso o sistema de avaliação: é necessário saber quais serão os indicadores e os instrumentos de verificação mais adequados para medir os resultados do planejamento ou do projeto. Resumindo: eu planejo a organização, planejo a ação e planejo a avaliação da ação.Também gostaria aqui de falar de dois pressupostos que considero essenciais para um bom planejamento. Se de um lado cada vez mais é preciso desenvolver nossa capacidade de uma gestão compartilhada entre agentes governamentais, organizações da sociedade civil e a iniciativa privada, desenvolvendo projetos articulados, também é preciso compreender algumas diferenças essenciais existentes entre a esfera pública e a esfera privada. Por sua natureza e objetivos, a esfera pública tem especificidades que não estão sendo levadas em conta pelos outros atores. Por outro lado, metodologias e técnicas da esfera privada vêm sendo transplantadas, mecanicamente, para a esfera pública. É preciso adequá-las, o que nem sempre é feito.O outro pressuposto para um bom planejamento de que gostaria de falar, indispensável a um bom gestor social e que se relaciona intimamente com o pressuposto anterior, é a capacidade de olhar para a realidade. Muitos projetos, ainda hoje, reclamam uma leitura mais densa do real. Não basta ter vontade. É preciso mais conhecimento e informação, mais criatividade, mais imaginação, mais ousadia e sensibilidade para as respostas aos problemas públicos. É necessário trazer para nossa prática diária o conceito de diversidade cultural, tão falado, mas ainda tão teórico. Precisamos perceber o real em toda a sua complexidade, ou seja, as heterogeneidades envolvidas, as diferentes subjetividades presentes, as necessidades, os desejos e os interesses escondidos. E isso é muito difícil e “”lento””. Mas sem esta densidade, sem este esforço, por mais que planejemos, dificilmente teremos um projeto articulado, compartilhado e, realmente, emancipatório e transformador.

redeGIFE – A definição de objetivos e metas para o projeto é importante para que ele não perca seu foco? Um projeto bem-elaborado ajuda na avaliação final dos resultados?
Thereza – São os objetivos e as metas que irão orientar a ação. Todo o projeto irá se estruturar em razão dos objetivos e das metas traçados. Assim é preciso que eles sejam muito claros, bem delimitados e compreendidos por todos – pela equipe do projeto, pelos parceiros e pelos beneficiários da ação. Além disso, um objetivo bem-elaborado se refletirá diretamente na construção e na definição de bons indicadores, que possibilitarão um bom sistema de avaliação.

redeGIFE – Uma referência nesta área é a publicação Elaboração de Projetos Sociais (Coleção Gestores Sociais, da AAPCS – Associaçãode Apoio ao Programa Comunidade Solidária, 1999), de sua autoria. Há outras bibliografias aos interessados?
Thereza – Existem hoje várias publicações sobre planejamento e elaboração de projetos sociais. Dentre as muitas existentes que, com diferentes propostas, identificam-se no esforço de contribuir para a melhoria do quadro social brasileiro, eu citaria:
ARMANI, Domingos – Como elaborar Projetos? Porto Alegre, Tomo Editorial, 2000.BAPTISTA, Myrian Veras – Planejamento Social. Intencionalidade e Instrumentação. São Paulo, Veras Editora, 2000.KISIL, Rosana – Elaboração de Projetos e Propostas para Organizações da Sociedade Civil. São Paulo. Global Ed., 2001. Coleção Gestão e Sustentabilidade.

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