Planejamento exige dedicação e comprometimento

Por: GIFE| Notícias| 24/09/2001

Planejamento estratégico é pensar o futuro de uma maneira madura. É um jeito de refletir sobre o amanhã considerando a situação atual e a passada.”” Esta é a definição de Antonio Luiz de Paula e Silva, especialista que ministrará o módulo sobre o tema no curso Ferramentas de Gestão no mês de outubro. Em entrevista ao redeGIFE ele fala porque este assunto é tão debatido e temido nas organizações sem fins lucrativos.

redeGIFE – As organizações resistem à idéia de desenvolver um planejamento estratégico?
Antonio Luiz – Para falar a verdade, existe uma série de mitos que geram insegurança, fazendo com que as palavras “”planejamento estratégico”” sejam horripilantes para algumas organizações. Esta insegurança vem do fato das pessoas em geral não saberem do que se trata e acharem que é algo muito formal, feito por empresas.

redeGIFE – Quais as principais dificuldades que as organizações encontram no processo de desenvolvimento do planejamento estratégico?
Antonio Luiz – A primeira é ter coragem de começar. A segunda é se organizar corretamente para isso. É preciso ordenar como vai ser o planejamento e não entrar nele direto. Muita gente tem dificuldade de parar e pensar o processo.

redeGIFE – Qual o momento ideal para o dar início ao processo?
Antonio Luiz – É importante estar atento às perguntas que existem dentro da organização, como as questões relacionadas ao futuro, a resolução de problemas ou mesmo aquelas que vêm de fora. Por exemplo, quando os doadores começam a perguntar “”quais são seus objetivos a longo prazo?”” ou “”qual sua missão?””. Talvez aí resida o momento de se responder, desencadeando um processo consciente de planejamento. Mas é importante não fazer isto só porque outros estão demandando. Tem que ser algo que vem de dentro da organização, que representa assumir um compromisso com o que será feito no futuro.

redeGIFE – O que precisa ser discutido para a concepção do planejamento de uma organização? Quais são os pontos imprescindíveis?
Antonio Luiz – A primeira coisa é entender que existem dois elementos: o conteúdo e o processo. O primeiro diz respeito ao que se está discutindo. Já o processo diz como se vai discutir. A arte do planejamento é saber conciliar. O outro ponto é estar atento às questões que estão desencadeando este trabalho. No fundo, elas são o norte de para onde deve seguir o processo. Não se deve abafar dúvidas ou seguir roteiros muito rígidos.

redeGIFE – O conselho é o único responsável pelo planejamento estratégico?
Antonio Luiz – Não. O planejamento tem a ver com questões de desenvolvimento da instituição que exigem um amadurecimento dela como um todo. Como o futuro está em jogo, é importante que se tome uma decisão consciente. A questão não é quem participa, mas sim com qual papel, em que momento e com que intenção.

redeGIFE – Por que muitas vezes o planejamento não é seguido?
Antonio Luiz – Quando um processo não considera questões reais das pessoas, sua tendência é ficar no papel. Porém é importante não tomar o plano como algo rígido. Deve-se estar aberto para ir amadurecendo as idéias.

redeGIFE – Porém, que cuidados devem ser tomados para que esse planejamento não mude toda hora?
Antonio Luiz – Não fazer com pressa. Fazer com cuidado, com profundidade, incorporar pontos de vista diferentes e ter o tempo de ouvir as dúvidas que as pessoas têm para organizar corretamente o processo.

redeGIFE – É possível uma organização ter um plano de ação de suas atividades sem ter um planejamento estratégico para se guiar?
Antonio Luiz – Sim. Em instituições que são comandadas por líderes visionários e que contagiam todos com seu carisma é perfeitamente aceitável que não exista um planejamento estratégico. Não é porque não há planejamento que as ações necessariamente serão ruins. Existem pessoas que pensam em longo prazo e as conseqüências de suas visões são geniais.

redeGIFE – Mas, nos casos de organizações sem estes líderes, a falta de um planejamento estratégico não pode gerar angústia?
Antonio Luiz – Se uma questão de desenvolvimento não é resolvida, ela provavelmente voltará em breve e em uma situação pior ainda. Até que ela fique insuportável e inicie uma crise onde não se pode mais enganar.

redeGIFE – E como fica o planejamento estratégico preparado em um momento de crise?
Antonio Luiz – Ele é difícil. Tem que ser muito bem preparado. Talvez só ele não seja suficiente e seja necessário fazer um plano emergencial ao mesmo tempo. É como uma pessoa que chega ao pronto-socorro. Primeiro é preciso mantê-la viva para depois pensar no seu futuro.

redeGIFE – O desenvolvimento de um planejamento estratégico deve ser guiado por um consultor externo?
Antonio Luiz – Esta é uma decisão que deve ser feita caso a caso, de maneira bem ponderada. É importante considerar a experiência do grupo em outros processos de discussão e o relacionamento interno entre as pessoas de uma organização. Além disso, deve-se avaliar como será a participação de um consultor. Ele pode apenas guiar uma reunião para que se forme uma linguagem comum a respeito do planejamento. Ou outra para que se discuta o que é isto e como pode ser feito. Esta não é uma pergunta de sim ou não. Existem soluções intermediárias e considerá-las é muito sábio.

redeGIFE – Decidido pela utilização de um consultor, quais os critérios que uma organização deve avaliar para ser bem orientada?
Antonio Luiz – Deve-se conversar com o consultor a respeito da experiência que ele traz sobre o assunto. Além disso, o grupo deve sentir uma empatia por ele. Tem que ser uma pessoa que consiga ouvir e facilitar o grupo adequadamente. Porém é importante dizer que nenhum consultor é perfeito. Quando pensar nesse profissional, considere o quanto ele consegue construir uma relação com o cliente e quanto ambos podem aprender no meio do caminho. Esta é uma trilha de descoberta. O currículo é importante, mas avaliá-lo de forma fria não é a melhor escolha.

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