Pnud recomenda investimento social nas regiões Norte e Nordeste do país

Por: GIFE| Notícias| 21/07/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no início de julho, o Relatório do Desenvolvimento Humano 2003 apontou que, apesar da pobreza no Brasil ter diminuído, isso ocorreu de modo irregular. Mesmo com o aumento do índice de desenvolvimento humano – o país passou da 69ª para a 65ª colocação -, os indicadores de pobreza variam de forma desigual em cada região do país.

Na região Norte, a pobreza aumentou, passando de 36% em 1990 para 44% da população em 2001. O Nordeste, por sua vez, abriga os cinco estados com menor IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal): Alagoas (0,633), Maranhão (0,647), Piauí (0,673), Paraíba (0,678) e Sergipe (0,687).

A recomendação feita pelo Pnud é que recursos sejam eficientemente dirigidos ao Norte, por causa da tendência negativa, e ao Nordeste, devido aos seus ainda baixos índices de desenvolvimento humano. Ao mesmo tempo, os recursos das agências internacionais – que por muito tempo financiaram iniciativas sociais nessas regiões – são cada vez mais escassos, pois os financiadores externos já não têm investido em países no estágio de desenvolvimento como o do Brasil.

Nesse cenário, empresas e organizações da sociedade civil têm tido um papel fundamental, investindo recursos e desenvolvendo projetos que visam à melhoria das condições de vida dessas regiões.

Dificuldades – A pesquisa Ação Social das Empresas, feita pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), apontou que 49% das empresas da região Norte realizam algum tipo de ação social voltada para o atendimento à comunidade. Na região Nordeste, realizar ações sociais faz parte da estratégia de 79% das empresas.

No entanto, o levantamento apontou que o setor privado atua de forma isolada e não se observa a prática da parceria para uma ação mais eficaz no campo social.

No Ceará, por exemplo, uma pesquisa da Universidade de Fortaleza, feita pela assistente social Ana Maria Vasconcelos, mostra que a articulação entre empresas, órgãos governamentais e sociedade civil ainda é frágil. “”As ações precisam ser orientadas para uma intervenção articulada com todos os setores e atores sociais, com vistas a ampliar o alcance dos resultados e maximizar o aproveitamento dos recursos alocados””, afirma Ana Maria na conclusão da pesquisa.

Susana Leal, superintendente do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania, de Recife (PE), concorda que há uma baixa articulação entre empresas e sociedade civil organizada, mas afirma que este cenário está mudando. “”Há uma vontade de aproximação e consciência de que a interdependência entre os setores pode ser uma possibilidade para o sucesso do desenvolvimento social da região.””

Por meio de fóruns de debates e palestras, publicação de informativos eletrônicos e realização de cursos e workshops, o Instituto Ação Empresarial pela Cidadania procura mobilizar e apoiar o empresariado pernambucano para investir em práticas que contribuam para eqüidade social e o desenvolvimento sustentável da região.

“”Além disso, estimulamos uma participação mais pró-ativa do empresariado nas comunidades onde está inserido e direcionamos seu olhar para a importância de uma articulação com a sociedade civil e o governo.””

A Fundação Vale do Rio Doce já trabalha nesse sentido. “”Temos como conceito atuar sempre com a população local, criando condições de melhoria da qualidade de vida no entorno da comunidade que atuamos. Buscamos parcerias com as empresas locais do grupo e apoiamos sua atuação, com projetos da fundação ou desenvolvidos por eles próprios””, conta Alexandre Stussi, gerente de projetos da organização.

A fundação desenvolve nos estados do Pará e do Maranhão os programas Escola que Vale, Educação nos Trilhos e Vale Informática/CDI. Esse último também é realizado na Bahia e em Sergipe. Além disso, está desenvolvendo o Marabá Vale Mais, um projeto de desenvolvimento comunitário para a cidade paraense.

Stussi também lembra que, além da falta de articulação entre os setores, outra dificuldade a ser superada é a distância do Norte e do Nordeste dos grandes centros financeiros.

A diretora do Instituto Academia de Desenvolvimento Social, Ana Paula Lucena, concorda que a questão geográfica pode representar impedimento para algumas organizações. “”A maioria das organizações está instalada nos grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e concentram sua atuação nestas regiões. Outro fator dificultoso é a falta de informação a respeito das novas idéias e práticas que surgem na nossa região””, afirma.

A Academia é uma instituição sem fins lucrativos, com sede em Recife (PE), que conta com o apóio de empresas privadas e de organizações da sociedade civil para promover o fortalecimento do terceiro setor.

Prioridades – Educação, saúde, desenvolvimento comunitário são consideradas áreas prioritárias de investimento no Norte e no Nordeste. Segundo Susana, elas são estratégicas para a melhoria da situação social nessas regiões. “”Tudo o mais seria naturalmente alavancado a partir do sucesso dessas ações””, afirma.

A Fundação Demócrito Rocha, de Fortaleza (CE), tem na educação uma de suas prioridades. Atualmente, um de seus projetos é o curso Orçamento Público – Planejamento, Execução e Controle. A iniciativa estimulará 8 mil cearenses a participar e a controlar os gastos públicos. “”Estamos desenvolvendo uma ação de significativa importância para a formação de uma consciência cidadã””, afirma Albanisa Pontes, diretora executiva da organização.

Para ela, devemos caminhar na direção de uma sociedade mais engajada com as causas sociais. “”Não há mais muros que tapem a miséria de tantos, que não nos avilte a todos””, ressalta.

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