População idosa cresce, mas investimento social ainda é baixo

Por: GIFE| Notícias| 19/08/2002

MÔNICA HERCULANO

Um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgado no final do mês passado, apontou que a proporção de pessoas da terceira idade vem crescendo mais rapidamente que a de crianças. Foi constatado que, nos próximos 20 anos, o contingente idoso no Brasil poderá ultrapassar os 30 milhões de pessoas, o que equivalerá a 13% da população. Além disso, a análise do IBGE identificou um aumento da participação das pessoas com mais de 60 anos na administração das residências, contabilizando 62,4% dos brasileiros desta faixa etária como responsáveis pelos domicílios. Esses números fazem parte do Censo Demográfico de 2000.

Na contramão deste aumento, levantamentos mostram que os investidores sociais privados preferem desenvolver programas para crianças e adolescentes e que os idosos ainda são um público pouco beneficiado. Segundo o estudo Ação Social das Empresas, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a terceira idade é apenas o sexto público (23%) mais atendido pela ação social das organizações privadas. Já as crianças estão em primeiro lugar, com 62%. A pesquisa Investimento Social Privado no Brasil – Perfil e Catálogo dos Associados GIFE, realizada em 2000, mostrou que, dos 48 associados participantes, apenas sete (14,6%) desenvolviam programas que beneficiam a terceira idade.

Para João Roncati, vice-presidente do GIFE, existem dois motivos básicos para esse baixo investimento: um é o fato de que o Brasil é um país jovem e que as pessoas se sensibilizam quando se expressa uma carência do público infantil; o outro está diretamente ligado à falta de instigação das organizações em relação aos idosos. “”Existe pouco estímulo do próprio terceiro setor, que tem tido uma forte estruturação nos projetos voltados para a infância e adolescência. Tenho certeza que o número de solicitações de apoio que as empresas recebem para projetos ligados aos jovens é muito superior.””

Segundo Roncati, é fundamental desenvolver ações para o público de mais idade, pois certamente os jovens atendidos pelos projetos sociais de hoje, no futuro, serão pessoas que cobrarão por condições de realização e sobrevivência. A diretora executiva do GIFE, Rebecca Raposo, diz que os investidores sociais privados, em especial aqueles que vão iniciar uma nova atividade, têm o desafio de considerar outras áreas de atuação e outros segmentos populacionais. “”Precisamos diversificar os investimentos e contemplar também outros cidadãos também brasileiros, portadores de direitos e de conhecimento””, alerta. Mas ela ressalta que isso não significa pulverizar os recursos nem desfocar a missão. “”Considerando que nenhum investimento privado eficaz pode abarcar em um projeto ou programa o conjunto dos vários temas que compõem a área social, é recomendável que, ao escolher um foco prioritário, o investidor estabeleça parcerias, trabalhe em rede””, analisa Rebecca.

Um exemplo de diversificação do atendimento é o da Fundação Acesita, com o Programa Andanças, que é feito em parceria com Associação dos Aposentados e Pensionistas de Timóteo (MG) e a prefeitura do município. A iniciativa inclui capacitação da equipe técnica das entidades, difusão de práticas para melhoria da saúde e projetos de cultura, lazer e alfabetização dos idosos.

Para o presidente da Fundação, Anfilófio Salles Martins, as situações socioeconômica e educacional do país podem ser fatores que justificam o pouco investimento na terceira idade. “”Existe uma grande preocupação com o público infanto-juvenil, que é o maior contingente da população e precisa ter mais perspectiva no cotidiano.””

A assistente social Tânia Mara Moumeso, do Departamento de Gestão Social da Fundação Feac, lembra que ainda existe o paradigma de que só tem valor quem está na produção. E vai além, solicitando que as ações sejam coordenadas de maneira a incentivar a participação mais ativa dos idosos na elaboração das políticas públicas destinadas a eles. “”Só aproximando a população da terceira idade dos agentes dos projetos, para que possam dizer exatamente quais são as suas necessidades, é que haverá um atendimento qualificado para esse público””, defende.

A Fundação Feac mantém o projeto Caminhando, neste ano ligado ao Conselho Municipal do Idoso, que pretende ajudar na implementação das políticas públicas em Campinas (SP), além de auxiliar entidades do município. O trabalho envolve assessoria, consultoria, projetos de treinamento para os funcionários dos abrigos da terceira idade, gerenciamento das entidades e representação no Conselho.

Outra empresa que patrocina programas para a terceira idade é a Pfizer. Em parceria com o Instituto Kaplan, que desenvolve projetos na área da sexualidade, o laboratório promove orientação para instituições de atendimento ao idoso no tratamento de questões como prevenção e combate à Aids e a DSTs (doenças sexualmente transmissíveis).

Para a diretora executiva do instituto, Maria Helena Vilela, a população dessa faixa etária está desamparada no que diz respeito à sua sexualidade. Daí a importância de programas como esse, que devem conseguir mais apoio agora, acredita Maria Helena, graças aos números que estão sendo divulgados recentemente.

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