Por mérito, relevância, e impacto

Por: GIFE| Notícias| 18/02/2008

Não é pouco o trabalho sistematizado no livro “”Juventude Popular Urbana. Educação – Cultura – Trabalho”” (United Way)*. Editado com apoio da Lei Rouanet, o livro que retrata todas as faces e caminhos para a atuação responsável entre empresas e organizações da sociedade civil na área da juventude.

A proposta é compartilhar histórias e métodos aplicáveis, tal como resultados, com foco na inserção da juventude popular urbana no mundo do trabalho. Desta forma, a publicação detalha as parcerias entre ONGs de base comunitária e Empresas vinculadas à Associação Caminhado Juntos (ACJ Brasil – United Way).

No Brasil, a ACJ é uma “”associação de funcionários de empresas””, cujo objetivo maior é articular o setor privado e o universo social que lida com juventude. Desde 2003, a associação apoiou a capacitação direta e indireta de cerca de nove mil jovens integrantes da rede – que conta com 13 organizações sociais parceiras.

A convite do GIFE, a superintendente de Projetos da ACJ, Jaqueline de Camargo e a professora de Antropologia da USP, Maria Lucia Montes, entrevistam o autor do livro, o professor Antonio Carlos Gomes da Costa.

Membro do Comitê Internacional dos Direitos da Criança em Genebra, o celebrado especialista explica como as relação entre setores são determinantes para o sucesso de qualquer empreitada social.

Jaqueline Camargo: Qual o papel das ongs e associações comunitárias, ao lado da escola pública e das famílias?
Antonio Carlos Gomes da Costa: A lógica das relações entre escolas, ONG′s e empresas deve ser de convergência e intercomplementaridade. É muito difícil que qualquer um desses atores consiga fazer sozinho o que os três pode fazer, atuando de forma solidária.

O novo mundo do trabalho está assentado sobre um conjunto inovador de conceitos: empregabilidade (preparação do jovem para ingressar, atualizar-se de forma permanente, manter-se e ascender nas organizações empregadoras) e trabalhabilidade (preparação do jovem, através do empreendedorismo, para gerar trabalho e renda sem que isso implique necessariamente a obtenção de um emprego).

Com habilidades básicas para a prática destes conceitos inovadores a polivalência, a flexibilidade e a criatividade são requisitos de tipo novo. Os itinerários formativos das novas organizações de formação para o trabalho devem tomá-los em conta e incorporá-los em seus projetos pedagógicos, estendendo essas inovações às escolas públicas e às famílias, que não podem, em hipótese alguma, ficarem alheias a esse movimento.

JC: As Ongs de base comunitária, que têm programas de capacitação profissional de jovens, têm sido colocadas numa fronteira entre as políticas públicas de Assistência e do Trabalho. Isso faz com que haja uma fragmentação entre os objetivos de “”favorecer os espaços de convivência””, como preconiza a Assistência, e os treinamentos profissionais de curta duração. Como o senhor avalia essa questão no marco das políticas públicas de juventude?
ACGC: Essa modalidade de atuação foi típica do Século XX e correspondeu ao modelo taylorista-fordista. Hoje, estamos vivendo no mundo da globalização dos mercados da Era do Conhecimento e da Pós-industrialidade.

O tipo de relação interinstitucional mencionado na pergunta está em pleno processo de caducidade histórica. Trata-se de um fóssil vivo. É preciso superar relacionamentos deste tipo por formas de convívio entre as agencias formadoras mais condizentes com as exigências dos novos tempos.

JC: O livro Juventude Popular Urbana sistematiza as ações do Programa da Associação Caminhando Juntos (ACJ Brasil), que capacita jovens para o mundo do trabalho. Qual a sua relevância para as organizações que, em geral, atuam no campo das políticas de juventude? ACGC: Uma iniciativa social permite três ângulos de avaliação o mérito, a relevância, e o impacto. O mérito diz respeito à eficiência, eficácia e efetividade das ações desenvolvidas. O impacto nos dá a ver as modificações positivas e negativas, diretas e indiretas ocorridas junto ao público destinatário do programa.

Finalmente, vamos tratar do ponto específico a que se dirige a pergunta: a relevância. Como ocorre com a semente dos produtos agrícolas, uma parte vai para o consumo direto da população e a outra parte volta para a terra, sob a forma de sementes, para gerar novas safras.

A relevância consiste justamente nisso: difundir conceitos e práticas inovadores entre as entidades que atuam neste campo (juventude, educação e trabalho), disseminando práticas inovadoras e factíveis nas áreas de conteúdo, método e gestão. Se ACJ, através dos materiais formativos produzidos conseguir fazer isso, ela terá atingido o patamar da relevância.

Maria Lucia Montes: Nos anos 60, a experiência de criação do Sistema de Ensino Vocacional na rede pública de São Paulo desenvolveu-se como um projeto de reforma do Ensino Técnico e profissionalizante, reformulando-se currículo e métodos com base em uma visão humanística da educação. Como o senhor vê essa herança na educação dos jovens para o mundo do trabalho hoje?
ACGC: Maria Nilce Mascellani, com suas idéias e práticas, prefigurou muito do que hoje estamos ainda lutando para conquistar. Embora seu trabalho tenha se dado na Era Industrial, nele já havia muitos grãos de futuro germinando, florescendo e dando frutos. Ela conseguiu enxergar a unidade indissolúvel no processo formativo da pessoa, do cidadão e futuro profissional. Foi uma pioneira. Por isso esse livro lhe é dedicado. Devemos muito a ela.

JC: Para a ACJ uma das principais lições aprendidas no livro possibilitou com que nos reconhecêssemos como uma “”associação de funcionários”” com foco em uma causa específica, “”juventude e trabalho””; fortalecendo a perspectiva da cooperação entre os universos da empresa e das comunidades.

Por ser a ACJ uma organização afiliada à United Way, o tema criação de impactos sustentáveis nas comunidades tem bastante relevância, o que gerou um segundo passo em nosso programa de apoio às Ongs, que é apoiar a criação e fortalecimento de redes inter-setoriais e mercados locais para viabilizar a inserção dos jovens na vida produtiva. Como voce vê o tema?
ACGC: O tema juventude, educação e trabalho é interdimensional. Ele exige para seu pleno êxito esforços nos campos da valorização do ensino básico, da educação profissional, do empreendedorismo, do cooperativismo e de outras formas de associativismo de base, além do fortalecimento da auto-estima individual e coletiva dos jovens (culturas juvenis).

Um conjunto de ações de tal envergadura e complexidade pressupõe e requer para sua consecução a adoção, no plano da consciência, da ética da co-responsabilidade. Por outro lado, no campo da ação concreta a lógica da intersetorialidade entre ONG′s, políticas públicas e mundo empresarial torna-se um imperativo inarredável.

É por essa senda que visualizamos o desenvolvimento de uma política articulada e conseqüente de inserção produtiva dos jovens neste início de Século XXI.

*Os livros são também distribuídos a organizações sociais interessadas. Basta solicitar via email: [email protected].

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