Primeira infância em pauta: evento e publicações discutem o papel do Estado e da família

Por: GIFE| Notícias| 24/11/2014

O mês de novembro foi marcado por importantes eventos na área da educação. Alinhado aos encontros, o lançamento de importantes publicações movimentaram a área e ajudaram a promover reflexões relevantes sobre a educação brasileira. O redeGIFE acompanhou as iniciativas e destaca o que houve de mais marcante nesse segmento.

Entre os dias 12 e 13, São Paulo recebeu o IV Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância, um dos mais importantes eventos voltados ao tema no Brasil. O encontro é anualmente organizado pelo Núcleo Ciência pela Infância (NCPI), uma iniciativa colaborativa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV) com o Center on the Developing Child da Universidade de Harvard, o Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa, o David Rockefeller Center for Latin American Studies, da Universidade de Harvard, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e o Hospital Infantil Sabará.

Nessa edição, a programação se voltou especificamente para o tema “Fortalecendo as potencialidades dos adultos para que promovam o desenvolvimento das crianças”. Especialistas de diversas áreas discutiram o papel do Estado e da família na promoção do desenvolvimento infantil, destacando casos que mostram o exercício da parentalidade (conjunto de ações que ações que visam assegurar a sobrevivência e o desenvolvimento da criança) como ponto fundamental para o crescimento pleno e seguro das crianças. Ao todo, o evento recebeu cerca de 400 profissionais das áreas de saúde, educação, assistência social, economia e psicologia.

O papel da família

O simpósio dedicou boa parte da programação para discutir o papel da família na formação e desenvolvimento da criança, campo que ainda se apresenta cheio de oportunidades para investidores sociais e iniciativas de parceria entre poder público e setor privado.

Joan Lombardi, doutora norte-americana em políticas sociais, e um dos principais nomes dessa edição do evento, explica que, quando a pauta é primeira infância, a tendência atual dos esforços governamentais e de organizações sociais é promover ações que assegurem o desenvolvimento das crianças ao mesmo tempo que fortaleçam o bem-estar das famílias.

A especialista destacou que, hoje, a família já deixou de ser vista apenas como uma testemunha do desenvolvimento das crianças, assumindo papel central no estímulo ao desenvolvimento e na cobrança por direitos da infância. Para ela, já podemos verificar uma percepção geral entre as famílias sobre a importância que os estímulos recebidos nos primeiros anos de vida têm na vida de qualquer ser humano.

Nisha Patel, consultora de políticas filantrópicas com mais de 18 anos de experiência em desenvolvimento e implantação de iniciativas para expansão de oportunidades econômicas para famílias de baixo poder aquisitivo nos Estados Unidos, concorda mas alerta para a importância do envolvimento dos homens nesse processo. “Apesar de muitos programas serem feitos pensando no responsável pela criança, seja a mãe, o pai, a avó, o avô, tios, ainda é um grande desafio envolver os homens.”

A consultora trouxe também o exemplo do programa Jeremiah, desenvolvido em Minneapolis, no Estados Unidos. A iniciativa foi criada para reverter o quadro de pobreza de mães solteiras em idade universitária. Com o programa, as jovens podem morar com seus filhos em uma residência estudantil dentro do campus, com toda a infraestrutura necessária para garantir o desenvolvimento das crianças, como uma creche, por exemplo.

Os resultados são impressionantes: ao término da graduação, 100% das participantes estavam empregadas em tempo integral, sendo que 86% haviam conseguido trabalho em sua área de estudo. Cerca de 57% ganhavam um salário de U$40 mil por ano e 71% sentiam que haviam alcançado independência econômica. “O nível de educação dos pais é o melhor indicador de mobilidade econômica, por isso, investir nessas mães é investir no futuro das crianças”, concluiu Nisha.

Políticas públicas voltadas à primeira infância no Brasil

Um dos pontos altos do seminário foi a participação do ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Marcelo Neri. Ele levou para o encontro uma reflexão sobre os desafios das políticas públicas no desenvolvimento da primeira infância no Brasil.

Junto com o diretor-presidente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Eduardo Queiroz, comentou alguns casos de sucesso já observados. Um dos exemplos foi o

programa Família que Acolhe, da prefeitura de Boa Vista, que é considerado um modelo de trabalho em rede. A iniciativa funciona a partir de um cadastro único e oferece atenção integrada das áreas de saúde, educação e desenvolvimento social às crianças participantes e sua família – do período de gestação até os 6 anos de idade.

“”A sequência ideal de fases na construção de um sistema de atenção integrado para o desenvolvimento da primeira infância envolve, em primeiro lugar, a expansão de cobertura, em segundo, a melhoria da qualidade dos serviços públicos e privados e, por último, a integração da oferta de serviços e programas visando o desenvolvimento da Primeira Infância. No Brasil, nós temos como exemplo o Família que Acolhe, da prefeitura de Boa Vista, programa que atinge todas as etapas”, afirmou o ministro Marcelo Neri.

O diretor presidente da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Eduardo Queiroz, usou o exemplo do programa roraimense para chamar a atenção sobre o quanto é importante olhar para essa questão no cenário nacional. “Boa Vista é uma das pioneiras no Brasil nesse investimento nas crianças desde a gestação até os 6 anos. Hoje a compreensão dos gestores públicos, líderes de ONGs e até dos empresários é de que, se nós não investirmos na criança pequena, não estamos investindo no futuro do nosso país.”

Evento destaca lançamento de pesquisas na área

Um dos momentos mais aguardados do IV Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância foi o lançamento de dois importantes estudos realizados por pesquisadores de diversas instituições de ensino do país.

Um deles é voltado para o impacto do desenvolvimento na primeira infância sobre a aprendizagem e têm como objetivo orientar políticas públicas. Trata-se da primeira publicação do Comitê Científico do Núcleo de Ciência Pela Infância. “”Não se trata de um trabalho científico, mas a divulgação de artigos acadêmicos para o público geral, com linguagem adaptada””, explicou o coordenador do Centro de Políticas Públicas do IFB Insper – Instituto de Ensino e Pesquisas, Naercio Aquino, um dos autores da coletânea.

Segundo ele, o documento foi preparado para apoiar os gestores públicos e legisladores que queiram criar políticas e programas para gestantes e crianças pequenas. “”Os textos tratam da importância que os primeiros anos de vida têm sobre a capacidade de aprendizagem das crianças””, informou Aquino.

O outra publicação é uma pesquisa que abrangeu uma revisão extensa de documentos pertinentes sobre o assunto no Brasil e em Portugal bem como visitas ao país português em 2012. Confira:

– O impacto no desenvolvimento da Primeira Infância sobre a aprendizagem. Leia aqui.

– Educação Infantil em debate: A experiência de Portugal e a realidade brasileira. Leia aqui.

Para conferir todos os vídeos das mesas do seminário, baixar materiais e conferir outros assuntos relacionados à primeira infância, acesse o site da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal.

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