Programa articula cidades pela melhorar educação pública

Por: GIFE| Notícias| 25/05/2009

Rodrigo Zavala

Qualificar o ensino público do país, a começar por 88 cidades, reunindo esforços de escolas, comunidades, administradores públicos e iniciativa privada. A proposta desenvolvida pela recém-lançada Parceria Votorantim Pela Educação pode não soar nova, mas reúne o que há de mais sofisticado em sensibilização e mobilização social pela causa.

Com apoio do Ministério da Educação (MEC), Movimentos Todos pela Educação, Canal Futura e do GIFE, a iniciativa irá disseminar ferramentas e metas de educacionais definidas pelo ministério e pela sociedade civil, como o Plano de Ações Articuladas (PAR), previsto no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do MEC, e as metas do Movimento Todos pela Educação.

Segundo Lárcio Benedetti, gerente de desenvolvimento sociocultural do Instituto Votorantim, a parceria tem início nos municípios em que a empresa opera – 88 cidades, em 18 Estados. Em cada uma dessas localidades será escolhido um agente mobilizador, a partir do corpo de funcionários da Votorantim. “”São pessoas ligadas, de alguma forma, aos trabalhos do instituto e afinadas com o tema””, afirma.

Em seguida, esse grupo selecionado passará por uma qualificação, oferecida pela empresa, para dar início à primeira fase da parceria: a mobilização. Os profissionais serão responsáveis pela participação dos diferentes atores envolvidos com educação em cada município: comunidade escolar (diretores, coordenadores, professores e alunos), famílias, imprensa e gestores públicos.

Tal como faz o Movimento Todos pela Educação, para melhorar o ensino, o projeto estimula ações de controle social a partir de metas e objetivos claros. Isto é, fará com que os atores envolvidos incorporem indicadores educativos em seu dia-a-dia, como forma de qualificar a demanda pelo tema. “”Ensinar é papel do professor, educar é de toda a sociedade””, argumenta o presidente executivo do MTPE, Mozart Neves.

Por exemplo, uma das metas do Movimento (link em nova páginaconheça as cinco) é que todo aluno esteja com aprendizado adequado à sua série. Os pais de um aluno da 4ª série do ensino fundamental de Cabaceiras do Paraguaçu (BA – 20 mil habitantes), uma das cidades envolvidas na parceria, saberia dizer qual é o “”aprendizado adequado”” ao seu filho? Em São Paulo ou no Rio de Janeiro, a reposta seria diferente? Não.

O plano do Instituto Votorantim vai buscar esse tipo entendimento, com oficinas de capacitação, identificação de agentes locais multiplicadores, elaboração e acompanhamento de planos de mobilizações locais. Há também estímulos por mérito, como os concursos Tempos de Escola, que envolvem o aluno e a memória da comunidade, e o Desafio Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que reconhecerá as escolas que melhorarem seus indicadores no índice do MEC.

Concomitante a esse trabalho, os mobilizadores da Votorantim também pretendem promover ações de sensibilização. Estas, por sua vez, serão focadas a grupos indiretamente envolvidos com o ensino. O principal destaque é o Blog Educação (www.blogeducaçao.org.br), que conterá os eixos estratégicos do projeto e será a principal ferramenta para disseminação de conteúdo e debate de assuntos ligados ao trabalho.

Para Benedetti, o site “”representa o projeto em espaço virtual, criado com o objetivo de fomentar a discussão de ideias e ser um canal direto de comunicação com agentes locais””. No Blog será possível encontrar pesquisas, artigos, matérias sobre educação e exemplos de práticas realizadas nos municípios.

Será realizado também o Prêmio Comunicador Parceiro da Educação, voltado a jornalistas dos municípios participantes da parceria. A partir dele será possível analisar como a imprensa local cobre Educação, servindo de parâmetro para rádios, tevês, jornais, revistas e veículos on-line dessas regiões. Qualifica-se também, assim, os formadores de opinião.

Por meio de um trabalho multisetorial, os organizadores do trabalho esperam que se crie uma rede comprometida com a causa. Tal como ocorreu no projeto piloto realizado no município de Nobres (MT), a rede não apenas formou um Conselho Municipal de Educação, como indicou o Secretário de Educação da cidade.

Qualificação
Durante o lançamento da Parceria, no último dia 20 de maio, a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, apontou dois dados que mostram a necessidade de programas como a Parceria Votorantim Pela Educação. O primeiro tem a ver com a formação dos gestores públicos de Educação.

Ao comentar sobre um trabalho do MEC para melhorar o desempenho de mais de 4 mil secretários municipais de Educação (com entregas de kits para uma gestão de qualidade), Maria do Pilar disse que mais de 70% deles não tinham qualquer afinidade administrativa. Em tom de brincadeira, revelou também que teve de fazer um “”workshop para ensiná-los a ligar o notebook””, que cada um recebeu para ter acesso rápido a diagnósticos e pesquisas para subsidiar seu trabalho.

Não por acaso, a Maria do Pilar diz lamentar que os secretários municipais ignoram sua missão mais básica: o de aumentar a escolaridade de seu município. Essa realidade mostra que, independentemente da precisão dos dados do MEC, das iniciativas da sociedade civil ou dos laboratórios de tecnologias sociais financiados pelos investidores sociais, os esforços serão nulos sem um trabalho prévio de sensibilização dos gestores públicos.

Nesse ponto, qualificar a demanda pela educação é fundamental para pressionar esses gestores. Segundo Maria do Pilar, embora não exista um perfil definido, uma das figuras que tem se mostrado mais apropriada no papel de mobilizador social é a mãe do aluno. “”Elas são as que mais cobram por uma educação de qualidade, quando percebem que o filho não está aprendendo””, garante.

Vexame
O projeto desenvolvido pela Votorantim e seus parceiros chega na ressaca das repercussões do Brasil no Pisa, exame internacional que compara o desempenho de jovens de 15 anos em leitura, matemática e ciências. Realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a prova revela que os alunos brasileiros têm nível mínimo de conhecimento sobre os temas eixos da prova. Pior: não escapam sequer as escolas particulares.

De acordo com o último exame, divulgado na semana passada, mais de um terço dos alunos brasileiros não entende questões ambientais – entre 57 nações comparadas, só três (Catar, Quirguistão e Azerbaijão) obtiveram resultados piores. Em uma questão sobre a chuva ácida, quando questionados a citar uma fonte de poluição -como emissões de gases por carros ou fábricas- metade não foi capaz de dar uma resposta correta.

É tanto o constrangimento, que a OCDE prepara uma prova diferente para os próximos anos, que poderá comparar entre aqueles que estão mal, daqueles que nada sabem, para diferenciá-los em grupos distintos.

Outro dado, este do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2007, o percentual de alunos com desempenho abaixo do adequado em matemática chega a mais de 96%. O mau desempenho dos 1,858 milhão de alunos avaliados também se repete no teste de língua portuguesa. O pior desempenho foi entre os alunos da 3ª série do ensino médio.

“”Queremos que as pessoas nos demandem mais educação. Temos que superar a indignação retórica e exigir melhorias. Por isso é importante qualificar aqueles que demandam o ensino””, enfatiza Maria do Pilar.

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