Programa baseado em prática esportiva requer ampla formação dos profissionais envolvidos

Por: GIFE| Notícias| 21/11/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

O Instituto Ayrton Senna, a Audi e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) estão promovendo, em parceria com a Escola de Educação Física e Esporte e o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo (Cepe/USP) e a ESPN Brasil, o Congresso Internacional de Esporte e Desenvolvimento Humano. O evento acontece nesta segunda (21) e terça-feira (22/11), em São Paulo (SP).

Um dos principais objetivos é promover o debate sobre a contribuição do esporte para o desenvolvimento integral da criança e do adolescente, com educadores, líderes sociais, empresas e ONGs, entre outros. A abordagem dos diferentes âmbitos nos quais o esporte exerce sua função de promotor de desenvolvimento humano e econômico, nos níveis global, nacional, comunitário e individual, conduz as discussões.

A ONU (Organização das Nações Unidas) instituiu 2005 como o Ano Internacional do Esporte e da Educação Física, visando chamar a atenção do mundo para a importância do esporte na sociedade e dos programas de educação física como ferramentas de combate à pobreza e ajuda no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

Governos e organizações sem fins lucrativos foram convidados a: incluir atividades esportivas em seus programas e políticas; promover a educação física como forma de conquistar saúde e desenvolvimento social e cultural; fortalecer a colaboração inter-setorial no sentido de elaborar, implementar e apoiar iniciativas, baseadas em atividades esportivas, que tenham como alvo os ODM.

“”Nos últimos anos, as organizações da sociedade civil que se propõem a trabalhar com o esporte como promotor de transformação social, de educação, de inclusão social e de desenvolvimento humano entraram num perceptível processo de amadurecimento. Esse princípio do esporte como meio tem se mostrado forte e introjetado nas instituições que percebem que não só podem se apoiar e acreditar no esporte como fim, mas irem além: fazer dele o caminho e a ferramenta para que crianças e jovens possam ganhar a oportunidade da qual precisam para desenvolver seus potenciais””, afirma Cléo Araújo, coordenadora do Programa Educação pelo Esporte, do Instituto Ayrton Senna.

Ela destaca que o esporte tem poder transformador e de desenvolver competências, transformando crianças e jovens em indivíduos e cidadãos mais realizados. “”E isso já parece ser uma certeza mais disseminada entre o mundo do esporte em seus diferentes âmbitos””, diz. O esporte é promotor da paz, explica Cléo, enquanto ferramenta para trabalhar, por exemplo, as competências sociais do indivíduo.

“”As crianças e jovens passam a ser mais solidárias, mais cooperativas, a respeitar mais o outro e o meio onde vivem. Na forma como abordados pelas Nações Unidas em documentos acerca do Ano Internacional do Esporte, a paz e o desenvolvimento podem ser promovidos por meio do esporte a partir do momento que aproximam nações e promovem, inclusive, o desenvolvimento econômico.””

Ferramenta – Para a diretora do Instituto Pão de Açúcar, Rosangela Bacima Quilici, o esporte deve ser abordado como um meio para a discussão sobre o cotidiano. O educador também atua como mediador na resolução de conflitos, na tomada de decisões e estabelecimento de regras e acordos que, assim como nas atividades esportivas, regulam a vida do coletivo.

“”Assim, não se trata de discutir sobre o esporte ou sobre a vida, mas de viver as situações e desvelar a realidade, para então transformá-la””, afirma Rosangela. Isso se evidenciará fortemente, segundo ela, no comportamento dos participantes. “”Para uma formação integrada, o ser humano deve ser, antes de tudo, visto como um todo.””

Por isso, é fundamental que aconteça uma formação contínua dos profissionais envolvidos, como garantia da coerência e do envolvimento necessários a este tipo de trabalho. “”A formação técnica é importante, mas em se tratando de profissionais da Educação Física, é imprescindível que tenham acesso aos subsídios pedagógicos que norteiam a proposta. Reflexões sobre a fundamentação teórica e a prática devem ser orientadas constantemente, para que também os educadores sejam cidadãos críticos, atuantes e conscientes de sua responsabilidade no processo de formação e transformação dos alunos””, defende Rosangela.

O Instituto Pão de Açúcar promove o Esporte & Ação, que alia diversas modalidades do atletismo a atividades pedagógicas que favorecem a reflexão sobre valores como autonomia, cooperação, limite e participação social. Desde junho de 2003, o Grupo Pão de Açúcar desenvolve também o Programa SuperBola, idealizado por Abílio Diniz. A iniciativa busca a transformação da realidade de garotos que desejam construir carreira no futebol ou que possam crescer dentro do varejo, por meio da prática esportiva aliada à educação, disciplina e qualidade de vida.

Cléo Araújo concorda que a principal peça para que um projeto voltado ao esporte promova o efetivo desenvolvimento das pessoas é o educador, e sua presença pedagógica. “”É no educador que está todo o poder de transformar uma atividade em algo que, de fato, transforme potenciais em realidade. O início e o fechamento de uma atividade – seja ela um jogo, uma brincadeira, a vivência de uma modalidade esportiva com todas as suas regras ou adaptada – é que dão a ela o caráter da ′educação′ pelo esporte””, explica.

Garantias de sustentabilidade e continuidade também são, de acordo com Rosamaria Durand, diretora interina da Unesco no Brasil, fatores essenciais para a eficiência de um programa neste sentido. “”Sem políticas que assegurem continuidade, tudo pode se perder””, afirma. Ela acredita que apenas recentemente, devido à própria evolução dos sistemas públicos de educação e saúde, a sociedade começou a internalizar o valor e a importância dos esportes “”para a formação e desenvolvimento de valores humanos fundamentais, indispensáveis ao pleno desenvolvimento dos povos””, conforme registra a Carta Internacional da Educação Física e dos Desportos da organização.

“”Quanto mais evoluírem os direitos à educação, à cultura e ao conhecimento, tanto mais lucidez pública haveremos de ter em relação ao lugar dos esportes no conjunto dos fatores que se tornaram indispensáveis à plena realização das pessoas””, afirma Rosamaria.

Segundo ela, para que o esporte seja um componente importante do desenvolvimento humano e da construção de uma cultura de paz, ele precisa ser entendido como os gregos o consideravam. “”Repetindo as palavras do emérito historiador da educação, Paul Monroe – antigo professor da Universidade de Columbia -, a educação grega atribuía aos esportes um valor moral com a missão, entre outras, de desenvolver a paciência, a coragem, a tolerância, a lealdade e o reconhecimento do direito dos outros.

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