Programa de Educação Afetivo-Sexual: Um Novo Olhar – Peas Belgo

Por: GIFE| Notícias| 06/12/2004

Nome da organização: Fundação Belgo-Mineira
Qual a missão da organização? Desenvolver esforços em prol dos segmentos menos favorecidos da população, de modo a contribuir para sua inclusão econômica, política, social, cultural e psicológica.
Qual(is) a(s) área(s) temática(s) da organização? Educação, Cultura, Saúde, Meio Ambiente e Assistência Social.
Qual(is) o(s) principal(is) público(s)-alvo da organização? Crianças e adolescentes.

IDENTIFICAÇÃO DO CASO DE PARCERIA

Caso de parceria: Programa de Educação Afetivo-Sexual: Um Novo Olhar (Peas)
Data do início da parceria (mês e ano): Agosto de 2000
A parceria está: Em andamento

DADOS DO CASO DE PARCERIA

Resumo da parceria:

O Programa de Educação Afetivo-Sexual: Um Novo Olhar (Peas) adota a filosofia de que a educação sexual é um direito de todos os jovens e deve ser parte da educação integral, preparando-os para a vida. Por meio do Peas, oferece-se aos meninos e às meninas a oportunidade de manifestarem seu potencial e suas habilidades.

O programa é desenvolvido inicialmente junto aos professores e, em seguida, transferido aos alunos. Suas atividades são desenvolvidas pelos jovens, que se tornam protagonistas das ações, uma vez que participam ativamente de todo o processo, implementado por meio de diferentes tipos de trabalhos. Dessa forma, o Peas procura estimular a autonomia e a responsabilidade dos adolescentes pela própria saúde. Com isso, espera-se promover maior equilíbrio nas relações entre mulheres e homens e reduzir a vulnerabilidade dos jovens, principalmente das meninas, à infecção pela Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, diminuir os índices de gravidez não-planejada, de violência e do uso de drogas.

Antes de iniciar a implantação do Peas, é necessário conhecer o ambiente, a cultura das comunidades e o nível de entendimento dos adolescentes sobre a sexualidade. Esse primeiro passo foi dado pela Fundação Belgo-Mineira que implantou o programa com o apoio técnico do Centro de Pesquisas sobre Doenças Materno-infantis da Unicamp (Cemicamp).

O Cemicamp fez um diagnóstico local que respondeu às questões. O resultado funciona como linha de base para a implantação do Programa. Essa pesquisa inicial foi fundamental para conhecer a efetividade e os resultados decorrentes da implantação do Peas. O universo pesquisado compreendeu escolas que participaram do Programa e escolas vizinhas nas quais, a princípio, o Peas não seria desenvolvido.

Concluído o diagnóstico inicial, foram capacitados profissionais de saúde dos respectivos municípios, professores e coordenadores das escolas envolvidas, num curso com duração de 80 horas, ministrado pela equipe técnica.

Na seqüência, os professores auxiliaram os jovens na elaboração de diferentes projetos ligados ao tema da sexualidade e da saúde reprodutiva. Nesse momento, os adolescentes tornaram-se os protagonistas do Peas e desenvolveram o conteúdo em atividades como a elaboração de programas de rádio, produção de jornal escolar, peças de teatro, dentre outras. As atividades discutem os danos provocados à saúde em busca de soluções relativas à sexualidade, levando os jovens a desenvolverem a auto-estima e a cuidarem de si mesmos.

Vale salientar que o Peas não é apenas um programa de educação sexual, mas de educação para a vida e, com isso, tem reflexos importantes no comportamento das pessoas, principalmente dos adolescentes. Sendo assim, quanto mais difundido for, maiores serão as chances de se alcançar os objetivos esperados.

A meta inicial da Fundação Belgo, quando o programa começou a ser implantado em agosto de 2000, era atingir 382 educadores e profissionais de saúde e 9 mil crianças e adolescentes de 20 escolas municipais e estaduais das cidades de Cariacica (Espírito Santo), Contagem, João Monlevade, Juiz de Fora e Vespasiano (Minas Gerais).

Com o desenvolvimento das ações e a percepção dos benefícios conquistados com o Programa de Educação Afetivo-Sexual: Um Novo Olhar, as cidades de João Monlevade e Vespasiano decidiram adotá-lo como política pública de ensino, beneficiando todos os jovens das escolas públicas desses municípios. Assim, a partir de 2002, o Peas ultrapassou sua meta inicial e alcançou maior abrangência: 718 educadores e profissionais de saúde e mais de 35,5 mil adolescentes. Em 2004, o Programa atinge números ainda maiores de educadores e jovens, uma vez que o município de Contagem também o adotou como política pública de ensino e o de Juiz de Fora levou o Peas para mais quatro escolas. Com isso o programa soma 851 educadores capacitados e quase 40 mil adolescentes.

Vale salientar que o programa reforçou o posicionamento da empresa Belgo-Mineira como referência em atuação social, conforme mencionado pelos Guias de Cidadania Corporativa da revista Exame, editados em 2000, 2001, 2002 e 2003. Além disso, sua importância foi reconhecida nacionalmente, uma vez que o programa foi merecedor dos Prêmios ECO e Racine 2003, e foi certificado para o Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil.

Quais os principais resultados já alcançados pela parceria?

Dezoito meses após o início das capacitações, o Cemicamp fez a segunda pesquisa para avaliar o impacto do Peas nos adolescentes, aplicando novamente o mesmo questionário que avaliou os conhecimentos antes da implantação do programa. O universo utilizado contemplou amostragem semelhamente à da pesquisa anterior (alunos da 6ª, 7ª e 8ª séries das escolas que receberam o Peas e das escolas controle), permitindo uma comparação entre as respostas apuradas antes e depois da implementação. Os resultados mostraram as mudanças no conhecimento, nas atitudes e na prática dos jovens em relação à sexualidade e à saúde reprodutiva. Essa pesquisa foi realizada somente nos municípios mineiros, pois em Cariacica o programa ainda não havia completado 18 meses de implantação.

Concluiu-se que o programa obteve êxito na mudança de aspectos fundamentais para a promoção do desenvolvimento pessoal e social dos adolescentes de ambos os sexos. A avaliação dos resultados mostrou as áreas em que o programa gerou mudanças positivas, aquelas em que as mudanças começam a ocorrer conforme as expectativas, apesar de ainda não serem estatisticamente significativas e, ainda, as áreas em que o Peas precisa reavaliar algumas de suas estratégias para alcançar os resultados.

Dentre os resultados apurados pode-se afirmar que os jovens que passaram pelo Peas têm hoje maior conhecimento e responsabilidade sobre sua saúde. Só para se ter uma idéia, na opinião de 71% dos adolescentes, a escola ganhou maior importância como fonte de informação sobre o serviço de saúde sexual e reprodutiva e 76% deles passaram a a procurar mais o professor para se orientarem quanto a questões relativas à sexualidade. Além disso, depois da implantação do programa, aumentou em 178% a chance de os jovens usarem preservativo (camisinha) com parceiros casuais e em 76% o número dos que usam preservativo mesmo confiando em seu parceiro. Outro resultado importante decorrente do Peas foi a redução do número de jovens que fumam cigarro, maconha e usam cocaína, em 28%, 53% e 51% respectivamente.

É importante considerar que cada escola tem a sua forma própria de desenvolver o Peas. Pode-se dizer que as que implementaram o programa a partir de 2000 tiveram dois anos de aprendizado e ajustes, definindo e acertando os passos. A partir do final do segundo ano de implantação, o programa começa a ser internalizado, tornando-se parte da escola, com grande adesão dos jovens, que passam a cobrar o desenvolvimento de atividades ligadas ao Peas. No entanto, na maioria das escolas, os resultados já começam a ser vistos logo no primeiro ano de implementação. O programa promove a melhoria no relacionamento entre os próprios alunos e entre alunos e professores, interferindo, inclusive, no rendimento e na motivação do estudante na escola.

A parceria possui instrumentos de avaliação?

Há duas formas de avaliação: a quantitativa e a qualitativa.

A quantitativa é realizada pelo Cemicamp. Num primeiro momento, verifica-se o conhecimento dos adolescentes a respeito da saúde sexual e reprodutiva e, num segundo, 18 meses após a implantação do programa, os resultados, conforme mencionado no item anterior.

Já a qualitativa é aplicada periodicamente pela coordenação do Peas, quando da realização das visitas de monitoramento às escolas, reuniões com os diretores, com os profissionais de educação do município e avaliações presenciais – pelo menos três a cada ano e sempre que necessário. Além disso, é feito, constantemente, o acompanhamento via telefone e internet.

Assim, a coordenação e os técnicos do Peas avaliam as ações já realizadas para a implementação do programa e orientam a continuidade ou a revisão de atividades com o objetivo de alcançar as metas propostas. Para a avaliação qualitativa, são também analisados os dados contidos nos instrumentos de monitoramento e avaliação das ações do programa nas escolas: abrangência e perfil dos profissionais capacitados, tipos de projetos em andamento, grau de participação dos adolescentes, indicadores de repetência e evasão escolar, ocorrências nas escolas e municípios, dentre outros.

Vale salientar que o comprometimento das secretarias municipais de educação e de saúde, da comunidade escolar, além das Secretarias de Estado da Educação e da Saúde e do apoio das delegacias regionais de saúde e superintendências regionais de ensino envolvidas foi fator fundamental para o sucesso do Programa de Educação Afetivo-Sexual: Um Novo Olhar.

Quais as três principais dificuldades enfrentadas pela parceria e como elas foram superadas?

Problemas com relação à liberação dos educadores para a capacitação – Demonstração da importância do desenvolvimento do Peas, o que só pode ser realizado com a participação efetiva dos educadores.

Mudança constante da equipe docente – Capacitação de multiplicadores do Peas na escola e no município e conseqüente internalização do programa às ações das escolas.

Formação Acadêmica dos Educadores – A participação dos educadores como facilitadores do Peas demanda e estimula a formação continuada desses profissionais, o que tem sido possível com o apoio das respectivas secretarias municipais de Educação.

Em seu entendimento, quais são as principais lições aprendidas na parceria que podem ser compartilhadas com os demais investidores sociais privados?

A possibilidade de promover a maior aproximação entre educadores e alunos, fator fundamental no desenvolvimento social e cultural do adolescente, com influências positivas na formação de seu caráter e personalidade.

O sucesso do programa tem como diferencial o comprometimento visível dos dirigentes e professores das escolas e da liderança municipal.

É necessário que o Peas seja adaptado ao ritmo de cada escola conforme demandas e realidades específicas.

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