Projetos de desenvolvimento rural incentivam a geração de renda e a valorização da cultura local

Por: GIFE| Notícias| 26/07/2004

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

Ainda no calor das discussões do 1º Encontro Nacional da Agricultura Familiar, realizado há uma semana pela Federação de Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf), em Brasília (DF), nesta quarta-feira (28/7) comemora-se o Dia do Agricultor. Durante o evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a organização dos trabalhadores em cooperativas e associações como maneira de garantir o seu acesso às políticas públicas.

A agricultura familiar responde por 70% dos empregos no campo e 40% da produção agropecuária nacional. Recentemente o governo federal anunciou novos planos para o financiamento dessas atividades. Do lado da iniciativa privada, algumas empresas e organizações da sociedade civil também têm apoiado ações na área rural, como o Instituto Votorantim, as fundações Avina e Kellogg e a Vitae – Apoio à Cultura, Educação e Promoção Social.

Iniciativas deste tipo incentivam a geração de renda, contribuindo para o desenvolvimento de pequenas comunidades rurais, e promovem uma diminuição do êxodo para as grandes cidades.

O diretor executivo da área de desenvolvimento social da Fundação Banco do Brasil, Almir Paraca, lembra que capacitar trabalhadores, disseminar conhecimento, adquirir equipamentos e oferecer condições para se viver com dignidade no campo são ações que contribuem para a redução das desigualdades e a transformação social do país. “”As pessoas passam a produzir e a gerar renda, o comércio começa a se expandir, a arrecadação tende a aumentar e o município passa a ter condições de oferecer serviços que podem proporcionar mais qualidade de vida para o cidadão””, aponta.

Há 18 anos a Fundação Banco do Brasil apóia iniciativas ligadas ao desenvolvimento rural. Priorizando o investimento em ações sustentáveis para geração de trabalho e renda, a organização tem atuado na formação de hortas comunitárias para atender associações e cooperativas de famílias de baixa renda, entre outras ações. Essas hortas são viabilizadas com o apoio de parceiros locais, que cedem terrenos e áreas desocupadas para o cultivo de legumes, verduras, frutas e hortaliças.

A Fundação Acesita é outro exemplo de organização privada que apóia ações para a comunidade rural. Desde 1999, com a implementação do Programa Vale Cidadania, a organização promove parceria entre diversas instituições para a viabilização do projeto de produção agrícola e desenvolvimento organizacional da Associação Comunitária dos Produtores Agrícolas de Timóteo (Acopat), em Minas Gerais.

Já foram apoiados um diagnóstico sobre a viabilidade econômico-financeira da associação, a construção da unidade de processamento de alimentos, a aquisição de equipamentos, a implantação de uma área de viveiro para experiências na produção de banana e a capacitação dos dirigentes e demais associados. Também é feito um acompanhamento e um monitoramento técnico dos produtores, com fornecimento de insumos básicos e auxílio na busca por clientes.

“”O apoio a projetos rurais é fundamental para o desenvolvimento do país, principalmente pela possibilidade de fixar o homem no campo e permitir a geração de renda. Mas faz-se primordial a participação do poder público municipal e estadual na implementação de políticas públicas eficientes e eficazes””, lembra a responsável pela área de desenvolvimento comunitário da fundação, Rosaly Todeschi.

Para ela, o apoio a projetos de desenvolvimento comunitário rural está crescendo. “”Se não se pensar no desenvolvimento para todos, a população rural vai continuar buscando melhores condições de vida nos centros urbanos. As ações devem estar voltadas para as potencialidades do meio rural, possibilitando seu desenvolvimento, criando condições de profissionalização, geração de renda e fixação do homem ao seu meio.””

Juventude – Neste sentido, o investimento em projetos voltados às crianças e aos jovens do campo também são fundamentais. Esta é a opinião de Márcia Regina Andrade, doutora em ciências sociais aplicadas à educação pela Unicamp (Universidade de Campinas) e psicóloga social com atuação nas áreas de educação rural, educação e movimentos sociais e juventude rural.

Ela conta que as práticas educativas devem envolver o sentimento de pertencimento, a valorização da cultura local, o sentido da comunidade, do associativismo e da cooperação. “”É necessário desenvolver projetos que integram educação e trabalho, fortalecendo a valorização do trabalho no campo, articulados a outras iniciativas de desenvolvimento sustentável.””

Esses projetos de educação devem, primeiramente, partir do princípio de que a escolarização aconteça no campo. A escola deve oferecer um conteúdo curricular que contemple a realidade rural, a identidade e as especificidades locais. “”No Brasil, a população do campo sempre sofreu com a falta de escolas, a oferta minimizada de ensino e a precariedade das condições de escolarização, fatores que a condenaram a concentrar um elevado índice de analfabetismo e um rebaixado nível de escolarização””, alerta Márcia.

Visando o atendimento à juventude das zonas rurais, a Fundação Cargill promove o resgate da cultura popular e incentiva a leitura por meio do Programa Fura-Bolo e lançou no início deste ano o projeto De Grão em Grão, que leva a escolas da rede municipal conceitos de agricultura familiar e segurança alimentar. Além disso, as famílias dos alunos aprendem técnicas para a aplicação desses conceitos em palestras ministradas por profissionais da Cargill.

A organização foi fundada há 30 anos com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento e a promoção da tecnologia e dos estudos científicos relacionados à agricultura e à agropecuária. As atividades envolvem ainda o patrocínio de publicações técnicas que abordam o desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas.

“”Podemos transformar dificuldades em oportunidades. O acesso às escolas participantes dos programas muitas vezes é um fator dificultador, mas as possibilidades aparecem. O envolvimento do nosso voluntariado é fator fundamental para superar dificuldades. Surgem alternativas criativas””, explica a coordenadora da fundação, Denise Cantarelli.

A Vitae também desenvolve, em nível nacional, programas de apoio a escolas técnicas e agrotécnicas, com investimentos de cerca da US$ 750 mil por ano para o segmento agrotécnico, e às Escolas Familiares Rurais de Alternância, com cerca de US$ 300 mil por ano.

Além da distância da zona rural, outro fator que dificulta e muitas vezes impossibilita a atuação das organizações sociais nessas regiões é a falta de conhecimento a respeito das questões do campo.

Segundo Fábio Rosa, líder da Fundação Avina e diretor executivo do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas e Auto-Sustentabilidade (Ideaas), do Rio Grande do Sul, é necessário que o poder concentrado no espaço urbano deseje encontrar a questão rural. “”Há necessidade de adentrar os espaços geográficos em busca de uma população muitas vezes dispersa, onde a velocidade dos processos é menor, a desestruturação e o desatendimento local são maiores que no espaço urbano. Isso gera projetos de maior tempo de incubação, com maiores desafios a serem resolvidos e, por fim, projetos mais caros.””

O Ideaas tem como missão desenvolver, instalar e demonstrar modelos de desenvolvimento auto-sustentável para populações rurais de baixa renda, empregando tecnologias de alta eficiência e baixo custo nos campos da energia renovável e ciência agronômica.

“”Os conceitos e o entendimento de tempo, valores e relações sociais evoluem com uma outra dinâmica no campo. Os processos e resultados podem ser mais lentos e isso pode não interessar a alguns investidores sociais””, explica Fábio. Por isso, encontrar instituições profissionais que já detêm cultura e experiência comprovadas pode ser a forma mais rápida e barata de superar a falta de conhecimento sobre este tipo de atividade e implantar projetos de sucesso e projeção.

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