Projetos de educadores aprimoram ensino e renovam relação dos jovens com a matemática
Por: Fundação Itaú| Notícias| 07/02/2025- Experiências comprovam que uso de abordagens inovadoras pode aumentar o interesse dos alunos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental pela matemática
- Propostas foram selecionadas no Edital Matemática nos Anos Finais do Ensino Fundamental, uma iniciativa do Itaú Social
Com a crescente necessidade de formar cidadãos críticos e preparados para um mundo cada vez mais dinâmico e complexo, e frente ao baixo desempenho dos estudantes brasileiros em matemática, as boas práticas no ensino se tornam ainda mais fundamentais. Em diversos municípios brasileiros, professores têm se destacado por investirem em projetos que buscam melhorar a compreensão da disciplina e aumentar o engajamento dos estudantes. Os resultados já mostram que, embora tradicionalmente encarada como um obstáculo para muitos alunos, a matemática pode ser ensinada de maneira acessível e interessante.
“O fortalecimento das competências matemáticas pode levar à redução das desigualdades sociais e ao aumento da mobilidade econômica. Ao desafiarmos a crença de que aprender matemática é uma matéria quase impossível de gostar e aprender, e que conseguir aprendê-la é quase uma questão de ‘dom’, ampliamos o acesso a oportunidades de trabalho que exigem a matemática”, comenta Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.
À medida que as redes de ensino celebram o novo ano letivo, experiências selecionadas pelo Edital de Matemática nos Anos Finais demonstram que a utilização de abordagens lúdicas e interativas pode tornar o aprendizado mais dinâmico e aumentar o interesse dos alunos pela matemática. A iniciativa foi desenvolvida pelo Itaú Social, envolvendo especialistas de matemática de diversas universidades no país.
“Nosso estudo mostrou que são as profissões mais rentáveis e resilientes a crises e transformações econômicas e, entretanto, ainda proporcionalmente pouco ocupadas por mulheres e pessoas negras. Portanto, investir na formação de professores e na implementação de metodologias eficazes de ensino do letramento matemático, da pré-escola ao Ensino Fundamental, é uma oportunidade para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária”, ressalta Patricia. Conheça alguns projetos que estão transformando as práticas de ensino-aprendizagem e o desenvolvimento docente nas escolas públicas.
Robótica com materiais recicláveis e tecnológicos no campo da matemática
Professor Antônio de Souza Silva – Povoado Luziana Município de Bacabal (MA)
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Antônio de Souza Silva, idealizador do projeto “Robótica com materiais recicláveis e tecnológicos”, pretende transformar a maneira como os alunos do 6º ao 9º ano da Unidade de Ensino Fundamental Raimundo Nonato de Sousa se relacionam com a matemática. Observando a desmotivação dos estudantes, Antônio decidiu integrar a robótica ao ensino da matemática. “Na escola, a gente tem curso de robótica, então optei por realizar um projeto referente a isso. Utilizando materiais recicláveis como papelão, os alunos constroem robôs enquanto aprendem conceitos fundamentais, como área e volume”, explica o professor.
A prática tem mostrado resultados positivos. “Os alunos se interessam mais em criar seus robôs, fazer suas medidas, calcular a área. O projeto não apenas resgata o interesse pela matéria, mas também promove uma consciência ambiental ao utilizar materiais sustentáveis” relata Antônio.
Antes da implementação completa, um projeto piloto foi realizado para avaliar a eficácia da abordagem. “Os resultados obtidos mostraram que os estudantes participaram mais das aulas de matemática e suas notas melhoraram, não apenas nessa disciplina como em outras”, conclui.
Laboratório de Matemática Móvel e Virtual
Professora Bruna de Sousa de Oliveira – Brasília (DF)
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“Sempre observei que, para muitos estudantes, os conceitos matemáticos parecem distantes da realidade e difíceis de aplicar no dia a dia”. Com isso em mente, a professora Bruna criou uma solução que tornou a matemática mais prática e tangível: o Laboratório de Matemática Móvel e Virtual.
Os desafios enfrentados no cotidiano escolar impulsionaram a concepção do projeto. “A falta de materiais pedagógicos dinâmicos e a carência de recursos tecnológicos em muitas escolas são problemas que precisam ser resolvidos”, afirma. Para superar essas barreiras, o laboratório oferece recursos interativos, como jogos didáticos e sólidos geométricos escaneáveis em 3D, além de um podcast sobre a história de grandes matemáticos.
O foco está em cativar os alunos de forma significativa. “Quando eles interagem com esses materiais, percebo que se sentem mais engajados e curiosos”, destaca. O projeto também inclui um laboratório virtual com materiais em PDF, permitindo que professores reproduzam a iniciativa em diferentes contextos.
Com essa abordagem, o Laboratório de Matemática Móvel e Virtual busca criar novas possibilidades de ensino, valorizando a criatividade dos educadores e o entusiasmo dos estudantes. A ideia é clara: transformar o aprendizado da matemática em uma experiência mais dinâmica e inspiradora.
Matemática e movimento corporal
Professora Márcia Viana – Petrópolis (RJ)
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Em 2018, uma atividade inovadora deu início a um projeto que, atualmente, vem transformando o ensino da matemática na Escola Municipal Bataillard. “Sempre gostei de diversificar e criar propostas diferentes nas aulas de matemática”, conta a professora Márcia Viana. A partir dessa paixão, ela elaborou uma atividade sobre transformações geométricas, inicialmente voltada para o 6º ano, e que posteriormente foi adaptada para o 8º ano.
O projeto ganhou novos contornos em 2024, quando foi selecionado pelo Itaú Social, em parceria com a Secretaria de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação). A proposta é estabelecer uma conexão entre as transformações geométricas no plano cartesiano e a dança, um movimento que possui simetria. “A geometria ajuda na disposição de dançarinos profissionais, e isso já era uma prática conhecida por grandes nomes da dança”, explica a educadora.
Os alunos foram desafiados a criar suas próprias coreografias, utilizando os conhecimentos adquiridos ao longo do bimestre. “Nunca os vi tão envolvidos. Embora as populares dancinhas do TikTok chamem a atenção dos jovens, o projeto se destaca por seu caráter colaborativo, em que cada estudante tem um papel fundamental. Foi algo que valeu muito a pena”, ressalta Márcia.
Para ela, esse tipo de abordagem não apenas estimula o aprendizado da matemática de forma lúdica, mas também promove o engajamento dos alunos em um ambiente colaborativo. O desafio se torna, assim, o protagonista das atividades matemáticas, mostrando que é possível unir criatividade e aprendizado em sala de aula.
Matemática com sabor de Quilombo
Coordenador pedagógico José Rosa de Brito – Quilombo de Queimada Nova – Morro do Chapéu (BA)
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Além do foco no ensino da disciplina, o projeto Matemática com sabor de Quilombo valoriza e resgata o patrimônio cultural dos quilombos, proporcionando um espaço de diálogo sobre a riqueza das tradições afro-brasileiras e seu legado na gastronomia. As receitas e os modos de preparo são direcionados com respeito à história e às vivências das comunidades quilombolas de Velame e Queimada, em Morro do Chapéu (BA), permitindo que os estudantes não apenas aprendam matemática, mas adquiram uma compreensão mais ampla sobre a diversidade cultural e o valor das tradições populares.
“A gente percebia que mesmo nos Anos Finais, os meninos não tinham assimilado conceitos e habilidades básicas de matemática. Por isso, resolvemos utilizar uma nova estratégia para fazer com que percebessem sentido nessa matéria”, explica o coordenador pedagógico, José Rosa de Brito.
Durante as oficinas, os alunos trabalham juntos para preparar receitas e resolver problemas matemáticos, o que promove um ambiente de aprendizagem colaborativo. “Quem vai aprendendo já ensina os demais. É uma abordagem coletiva que gera aprendizado e reforça conceitos de união e partilha, evidenciado, por exemplo, no momento em que trabalhamos frações e dividimos bolos e acarajés em partes iguais”, explica. A partir disso, a matemática vem sendo entendida como uma prática prazerosa, aplicável, estimulando a formação de cidadãos críticos, criativos e conscientes de sua diversidade cultural.
Mapas mentais como ferramenta de aprendizagem
Professora Liliane Rezende Anastácio – Contagem (MG)
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A proposta “Aprendizagem Ativa em Matemática: Mapas Mentais como Forma de Registro Próprio dos Estudantes dos Anos Finais do Ensino Fundamental” foi idealizada pela professora Liliane Rezende Anastácio que buscava métodos mais eficazes para engajar seus alunos. “No dia a dia da sala de aula, percebo que muitos estudantes enfrentam dificuldades não apenas com os conteúdos em si, mas com a forma de organizar o conhecimento que recebem. Os registros no caderno, muitas vezes lineares e desconectados, não contribuem para que eles façam associações ou compreendam a lógica por trás dos conceitos matemáticos. Além disso, observava a dificuldade em revisitar e revisar o que aprenderam, dependendo muito de explicações repetidas. Foi nesse contexto que a ideia dos mapas mentais começou a ganhar força”, explica a educadora.
Entretanto, a implementação da metodologia contou com muitos desafios. “O primeiro foi romper com a resistência inicial de alguns estudantes que estavam acostumados a métodos tradicionais”, relata. Para contornar isso, a professora utilizou materiais simples, como lápis e papel, garantindo a inclusão de todos os alunos.
Além disso, ela se deparou com a necessidade de criar momentos intencionais para a troca e revisão dos mapas mentais entre os estudantes, promovendo a colaboração e a valorização das diferentes formas de pensar. “Essa parte foi essencial para que eles compreendessem que os mapas mentais não eram apenas desenhos ou registros individuais, mas um recurso que podia ser enriquecido coletivamente”, ressalta.
Hoje, ao refletir sobre o impacto do projeto, Liliane destaca: “Foi gratificante vê-los apresentarem seus mapas mentais na Feira da Educação Básica – UFMG Jovem, mostrando o quanto se apropriaram da ferramenta”. A experiência reafirma sua crença de que é possível tornar a matemática mais acessível e conectada à realidade dos estudantes.
Semana da Matemática encanta e educa
Professora Valéria Souza Farias – Rio Grande (RS)
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Iniciado em 2016 com uma homenagem ao professor Júlio César de Mello e Souza (Malba Tahan), o projeto celebra anualmente o Dia Nacional da Matemática, comemorado em 6 de maio, escolhendo uma temática ou um matemático como foco a cada edição. “A ideia é integrar a disciplina com outras áreas do conhecimento, ampliando a compreensão dos alunos”, explica a professora Valéria Souza Farias.
A Semana da Matemática busca enriquecer o aprendizado dos alunos por meio de uma abordagem lúdica e interativa. Segundo a educadora, “a matéria é muitas vezes vista como algo abstrato e desafiador, mas é essencial para a formação do pensamento crítico e analítico”. Além de ensinar conceitos, o evento também mostra como esses conhecimentos se aplicam na vida cotidiana.
Em 2024, o tema sugerido foram os doze trabalhos de Hércules, que permitiu uma imersão na cultura grega. “Trabalhamos a beleza grega por meio de mosaicos e jogos de tabuleiro, conectando a matemática com a arte e a história”, comenta a educadora. A interação entre disciplinas é fundamental: professores de português, educação física e artes colaboram em atividades que envolvem todos os alunos.
A escolha de figuras históricas como Arquimedes, Newton e Pitágoras como homenageados em edições anteriores estabelece uma conexão com a história, ressaltando o contexto cultural e científico em que esses matemáticos atuaram. “Ao integrar a Matemática com outras disciplinas, como história, artes e ciências, promovemos uma visão holística do conhecimento”, acrescenta.
As atividades planejadas para a semana incluem jogos educativos, competições e projetos interdisciplinares que incentivam a colaboração entre os alunos.
Contexto brasileiro e pesquisas relacionadas
No Brasil, o desempenho em matemática dos estudantes nos Anos Finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano) tem sido tema de ampla discussão e análise. A edição de 2022 do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que avalia a educação em 81 países, revela que muitos alunos brasileiros enfrentam dificuldades significativas em conceitos matemáticos fundamentais. Segundo os dados, apenas 27% dos estudantes alcançaram o Nível 2 de proficiência em matemática, considerado o mínimo necessário para resolver problemas simples, como comparar a distância total de duas rotas alternativas ou converter preços em uma moeda diferente. Isso significa que 73% não atingiram esse patamar básico, refletindo uma média de 379 pontos para o Brasil, bem abaixo da média da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que foi de 472 pontos.
“Esses números não apenas ilustram um desafio educacional, mas também abrem espaço para reflexões sobre como reverter o quadro. Neste período de volta às aulas, temos uma oportunidade para que gestores públicos e educadores discutam e implementem iniciativas que possam transformar a relação dos estudantes com a matemática”, conclui Patricia.
Nesse sentido, a pesquisa “Opinião das famílias: percepções e contribuições para a educação municipal”, realizada pelo Instituto Datafolha, a pedido da Fundação Itaú e do Todos Pela Educação, que ouviu 4.969 responsáveis por crianças e adolescentes de seis a 18 anos matriculados no Ensino Fundamental, apontou que nove em cada dez responsáveis (91%) concordam totalmente que a melhoria o ensino da matemática precisa ser priorizada pelos novos gestores. O investimento em um ensino de matemática de qualidade é, portanto, um fator decisivo para o futuro dos jovens.
A pesquisa “Contribuição dos trabalhos intensivos em Matemática para a economia brasileira”, realizada pelo Itaú Social em parceria com o IMPA, demonstra que as profissões ligadas à área — como tecnologia da informação, serviços financeiros, jurídicos, contábeis, engenharia e arquitetura — oferecem salários 119% superiores à média das demais ocupações. Além da vantagem financeira, esses empregos destacam-se pela resiliência em crises: durante a pandemia de Covid-19, as ocupações que demandavam matemática tiveram queda de 6,8% no emprego, contra 13,1% nas demais.