Projetos devem ser replicáveis e contar com a participação da comunidade

Por: GIFE| Notícias| 27/09/2004

BOLETIM INTERAÇÃO
Fundação Kellogg

No último dia 15 de setembro, a Fundação Kellogg lançou, em parceria com a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe da ONU), o Prêmio para Experiências de Inovação Social. Anualmente, serão reconhecidos projetos sociais inovadores desenvolvidos na América Latina e no Caribe em seis categorias: saúde comunitária, educação básica, programas para a juventude, responsabilidade social corporativa e voluntariado, nutrição e segurança alimentar, desenvolvimento rural e geração de renda.

Podem participar organizações não-governamentais, associações comunitárias e outras instituições sem fins lucrativos e governamentais municipais ou de atuação local. Empresas podem inscrever seus projetos na categoria de responsabilidade social corporativa e voluntariado. Os primeiros colocados em cada categoria receberão prêmios em dinheiro e suas experiências serão reunidas em um livro e farão parte de um banco de dados on-line, seguindo o objetivo principal de dar visibilidade às iniciativas e permitir que elas sejam replicadas em outros locais.

As inscrições devem ser feitas até o dia 12 de novembro. Os formulários estão disponíveis nos sites www.wkkf-lac.org e www.cepal.org, ou nos escritórios dessas instituições na América Latina e no Caribe.

A Fundação Kellogg para a América Latina e Caribe, na última edição de seu informativo bimestral (Interação), entrevistou o secretário executivo da Cepal, José Luis Machinea. O redeGIFE reproduz na íntegra a entrevista com o economista argentino sobre a criação do prêmio, seus objetivos e critérios e sua importância para a região.

Interação – Por que a Cepal e a Fundação Kellogg decidiram se associar para premiar inovações sociais na América Latina e no Caribe?
José Luis Machinea – Tanto a Cepal quanto a Fundação Kellogg são instituições que, desde sua criação, estão comprometidas com o tema do desenvolvimento econômico e social. Portanto, é natural que nos associemos para identificar e premiar os inovadores sociais da América Latina. De um lado, há a preocupação com o social. A outra motivação é a necessidade de reconhecer aqueles que contribuem para o desenvolvimento social de uma região. O objetivo, porém, não é apenas reconhecer, mas aprender e replicar experiências latino-americanas de sucesso.

Interação – Com a criação do concurso, como a Cepal e a Fundação Kellogg contribuirão para o desenvolvimento social na região?
Machinea – Duas ou três coisas me parecem importantes. Uma é que se há problemas nessa região são os de eqüidade e pobreza. A pobreza atinge 44% da população da região e o que temos visto nos últimos anos é que a quantidade de pobres vem aumentando. A Cepal tem insistido muito no debate sobre desenvolvimento, desenvolvimento em coletividade, mas acreditamos que isso tem que ser complementado com empreendimentos sociais particulares, regionais e comunitários. Como podemos saber quais são os melhores empreendimentos e o que podemos fazer para que tenham incentivo? Acreditamos que este concurso vai gerar incentivos para alguns desses projetos, porque serão reconhecidos. Em segundo lugar, achamos que reunir um banco de dados de toda a região e poder analisar cada um dos projetos vai permitir à Fundação Kellogg e a Cepal aprender e, a partir dessa aprendizagem, difundir quais são as experiências mais bem-sucedidas. Acreditamos que, com isso, teremos dado uma grande contribuição a uma região que tem um problema social de magnitude, mas por outro lado é uma região onde a descentralização e a participação das entidades da sociedade civil fazem dessas entidades atores de importância crescente.

Interação – Especificamente para a Cepal, qual é a importância do concurso no conjunto das iniciativas já existentes? Como ele se articula com as outras iniciativas da organização?
Machinea – Muito bem. Por um lado, porque temos enfatizado muito a necessidade de ter não apenas um desenvolvimento harmônico, em coletividade, mas também uma cidadania mais plena que a atual. Isso implica um cidadão que realmente participe da vida comunitária, da vida política, da vida em democracia. Por isso um dos critérios do concurso é em que medida os empreendimentos resultam em participação da sociedade. Esse critério se articula muito bem com dois elementos presentes nos textos produzidos pela Cepal nos últimos anos: por um lado a eqüidade e por outro a participação cidadã, uma democracia mais plena. E nos parece que o concurso é uma maneira razoavelmente eficiente de, insisto, obter informações sobre a região e cumprir uma terceira função da Cepal, que é a assistência técnica. À medida que soubermos quais são os melhores projetos na área social, e que o difundirmos, poderemos oferecer assistência técnica aos países a partir dessas experiências.

Interação – O senhor acha que essas experiências podem ser reproduzidas em outros locais sem problemas?
Machinea – Um dos critérios de seleção será justamente em que medida as experiências podem ser de alguma maneira replicadas. Nossa idéia é ver se elas levam em consideração as particularidades de sua região, mas podem ser reproduzidas em outros lugares.

Interação – Além desse critério, que outros serão utilizados na avaliação dos participantes?
Machinea – Em termos gerais, eu diria que o concurso vai avaliar a introdução de mudanças quantitativas ou qualitativas em relação às práticas tradicionais. Um segundo critério é o impacto sobre a qualidade de vida dos beneficiários. O terceiro é um tema que nos parece de muita importância, a criação, o desenvolvimento e a consolidação de processos de participação da comunidade. Em outras palavras, o fortalecimento da cidadania. Em que medida seus processos são participativos ou não. E, por último, a possibilidade de que essas experiências sejam replicáveis e sustentáveis. Não nos interessa que sejam bem-sucedidas durante três meses e depois desapareçam, mas que sejam replicáveis e sustentáveis por muito tempo.

Interação – Como será formada a comissão julgadora do concurso?
Machinea – Haverá um grupo de especialistas em cada um dos temas cobertos pelo concurso. O que eles vão fazer é estudar em detalhes cada um dos projetos concorrentes. Neste grupo de avaliadores haverá profissionais das diferentes regiões da América Latina e do Caribe. Além disso, haverá um comitê de seleção formado por personalidades ligadas a diferentes temas sociais que apoiarão o processo de seleção final.

Interação – Que tipos de organização podem participar?
Machinea – Municípios, organizações não-governamentais, organizações sem fins lucrativos, associações comunitárias e comunidades religiosas. O tema é importante porque temos visto na região dois fenômenos que nos interessa ressaltar. O primeiro é a descentralização. A maioria, ou uma grande parte, desses programas sociais é executada por comunidades ou municípios. O segundo é a participação crescente da sociedade civil, das ONGs, das comunidades religiosas. Achamos que é aí que está o potencial e que tem havido avanços mais importantes na região nos últimos dez anos, pelo menos.

Interação – No processo de replicação das experiências, a Cepal e a Fundação Kellogg ajudarão de alguma forma? Ou a divulgação dos vencedores é suficiente para que as experiências se repliquem?
Machinea – Queremos que, além da divulgação e das publicações que faremos, haja algum mecanismo de consulta para quem estiver interessado em conhecer detalhes das experiências. E que eventualmente tenhamos a possibilidade de assessorar os interessados em replicar essas experiências. Este seria o segundo passo. Se surgir o pedido de um país, de uma região, a Cepal poderia lhes dar assistência técnica.

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