Publicação estimula discussão sobre inovações em tecnologia para Base da Pirâmide no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 09/02/2015

A Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE), em parceria com a eBay Foundation, com o Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) e apoio da ARTEMISIA, da Cria Global e do Porto Digital, acaba de lançar uma publicação que tem como tema “Inovações em tecnologia para Base da Pirâmide”. O material é uma compilação das principais discussões apresentadas durante dois eventos que debateram o assunto, realizadas em Recife, no dia 12 de novembro de 2013 e em São Paulo, em 20 de maio de 2014.

O material, além de traçar um perfil do que conhecemos como “base da pirâmide”, discute desafios e obstáculos para inovação tecnológica voltada para essa população. A publicação destaca, ainda, uma série de empreendimentos que tem em seu DNA os conceitos discutidos nos eventos e apresentados nesse relatório.

Entre os diversos objetivos definidos pela ANDE com esse trabalho, estão a construção de uma rede capaz de gerar oportunidades e desenvolver o ecossistema de negócios de impacto social, além de explorar o potencial da tecnologia na elaboração de soluções para os problemas ainda latentes da base da pirâmide.

A base da pirâmide no Brasil

Colocar a base da pirâmide no centro das discussões que visam promover um desenvolvimento sustentável em países emergentes é um dos focos da ANDE, que, por meio de seus eventos setoriais, busca ampliar ainda mais tais discussões, destacando o papel do empreendedorismo para a superação de desafios sociais.

No Brasil, o tema ganha contornos bastante específicos. A base da pirâmide sempre foi extensa em termos demográficos e, ultimamente, tem se tornado ainda mais relevante por conta da diminuição da desigualdade de renda ocorrida recentemente no país. Trata-se hoje de uma população com características bem específicas, com enorme potencial de consumo e transformação social.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a “classe média” brasileira corresponde à categoria de famílias com renda mensal entre R$ 300,00 e R$ 1.020,00 per capita. Esta representa hoje metade da população nacional – e em pleno crescimento .

A base da pirâmide dentro do Brasil, categoria que vai das camadas mais pobres à chamada “classe média”, representa a maior parte da população em todos os estados, constituindo a porcentagem de 66% do total do país. Cada vez mais relevante na conjuntura sociopolítica do país, essa classe ainda precisa ser melhor compreendida.

Tecnologia e transformação social

De acordo com a ANDE “Dentro do contexto social do Brasil, a temática de Tecnologia para base da pirâmide se mostra como um instrumento inovador para o desenvolvimento de soluções que fomentem ainda mais a mobilidade social no país”.

Segundo dados do IBGE apresentados no material, 80.9 milhões de brasileiros são usuários de internet, sendo este número composto por 47% dos indivíduos das classes C e 14% das classes D e E – ou seja, 68 milhões de pessoas conectadas à rede no Brasil são das classes C, D e E.

Esse retrato do país mostra o quanto é relevante o acesso à tecnologia para as mudanças sociais. De acordo com a publicação, as plataformas de tecnologia de fato deram início a uma série de processos no Brasil, encurtaram distâncias físicas e baratearam serviços e produtos, criando diversas oportunidades de negócios. De certa forma, elas ajudaram a reconfigurar as classes sociais e suas características no país.

Experiências inovadoras

Além de promover reflexões sobre a base da pirâmide e suas relações com a tecnologia, o material da ANDE apresenta um relevante levantamento de serviços tecnológicos que estão operando na promoção da inovação social. São eles:

itsNOON – De acordo com Eliana Yamaguchi, sócia-fundadora da plataforma, a ideia é gerar valor compartilhado tanto para empresas como para a sociedade, utilizando a criatividade e a internet como meios de unir interesses e alcançar resultados. “O processo funciona de maneira dinâmica: empresas fornecem suporte financeiro para projetos inovadores provenientes da sociedade, selecionados a partir de uma ‘chamada criativa’ disponibilizada no website, da qual qualquer indivíduo pode participar.”

Saútil – Plataforma online que visa facilitar o acesso a serviços públicos de saúde. Dentre os produtos e serviços oferecidos, constam informações sobre a disponibilidade de medicamentos, agendamento de consultas e exames dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo Fernando Fernandes, sócio-fundador da Saútil, disponibilizando tais informações gratuitamente para o consumidor final, esta plataforma diminui os esforços e custos necessários para acessar os serviços de saúde pública, utilizados majoritariamente pelas classes mais baixas no país. Ao interligar um sistema de busca com um atendimento público deficiente, a Saútil foi capaz de trazer benefícios tangíveis para população da Base da Pirâmide.

ProDeaf – Software de tradução de textos e falas em português para o sistema Libras, a língua de sinais brasileira. Flávio Almeida, diretor de operações da ProDeaf explica que a proposta é melhorar a comunicação e o acesso à informação para as pessoas com deficiência auditiva (que totalizam cerca de 10 milhões de brasileiros).

Joy Street – O CEO do empreendimento, Fred Vasconcelos, explica que a Joy Street é uma plataforma de competições educacionais que combina aprendizado com diversão, incentivando uma nova forma de ensino. Seus produtos se baseiam em ferramentas lúdicas e inovadoras, que podem ser utilizadas inclusive pelos professores em sala de aula, a exemplo da Olimpíada Jogos Digitais e Educação.

Kiduca – O projeto é um portal educacional que promove o aprendizado por meio de um ambiente virtual inovador. Voltada para o ensino fundamental, a plataforma dialoga com o universo atual das crianças, desenvolvendo temáticas educacionais a partir de jogos virtuais, nos quais professores e alunos interagem e aprendem juntos. Jorge Proença, sócio-fundador da Kiduca, conta que o portal cria uma oportunidade de melhorar a qualidade do ensino do país, especialmente quando colocada a serviço das classes CDE que sofrem com as deficiências do sistema público de ensino.

InfoWay – Ney Paranaguá, diretor geral da organização, explica que a ideia do trabalho é impactar positivamente toda a porção Norte e Nordeste do Brasil, por meio da oferta de serviços de saúde de alta qualidade a preços acessíveis para as comunidades de baixa renda destas regiões. Dentre tais serviços, que se caracterizam pelo uso de tecnologia, destaca-se o Uniplam, um seguro de saúde com mais de 250 mil beneficiários no Amazonas, Ceará, Pernambuco e Piauí́.

OLHAconta – Essa é uma ideia que promove a inclusão financeira por meio da telefonia móvel. “Identificando que a população de baixa renda sofre com a falta de serviços bancários direcionados às suas necessidades, por não ter moradia fixa, ou habitar em lugares remotos onde não existem agências bancárias, a OLHAconta disponibiliza uma série de serviços financeiros pelo celular, tais como poupanças, pagamento de contas e transferências bancárias”, conta Samar Sleiman, sócia-fundadora do empreendimento.

Desafios e oportunidades

A publicação aponta caminhos e provoca empreendedores e investidores sociais a pensarem novas soluções para demandas das populações consideradas da base da pirâmide no Brasil. Entre os principais desafios, o material cita a urgência para reestruturação social, a exploração do potencial de transformação da tecnologia, a importância da produção de conhecimento, o fortalecimento do networking e o engajamento do setor público.

De acordo com ANDE, o objetivo da publicação ainda é promover o diálogo entre atores de diferentes setores da sociedade, compartilhamento ideias e projetos inovadores entre eles.

Para conhecer a publicação na íntegra, acesse o SINAPSE.

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