Publicação traz perspectivas para a Responsabilidade Social Empresarial

Por: GIFE| Notícias| 02/09/2010
Quais são os atuais desafios para o movimento de Responsabilidade Social Empresarial e como investidores e organizações sociais podem contribuir para sua evolução? As respostas podem ser encontradas na recém lançada publicação “Responsabilidade Social Empresarial: Por que o guarda-chuva ficou pequeno?”, realizada pela Aliança Capoava, formada pelas organizações Ashoka, Avina, Ethos e GIFE.
O livro, que pode ser acessado em sua versão online, teve como fonte uma série de encontros entre as principais lideranças do setor no país, que resgatou o caminho percorrido até o momento, debateu desafios atuais e traçou uma visão compartilhada de perspectivas futuras.
Nesses encontros, de acordo com secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, “foi possível compartilhar agendas do setor, identificar sinergias de ação e possibilidades de parcerias entre as organizações presentes e promover um alinhamento conceitual, que respeitou a diversidade de visões dos participantes”.
Esse alinhamento é a peça-chave da Aliança Capoava. Criada em 2002, ela tem por objetivo facilitar a construção e o fortalecimento de parcerias entre lideranças e organizações da sociedade civil e do setor social, em busca de maior impacto em suas ações para o desenvolvimento sustentável.
Veja abaixo entrevista com Fernando Rossetti sobre a publicação:
redeGIFE- Qual a importância desta publicação?
Fernando Rossetti –
Este livro digital sintetiza a percepção atual no Brasil sobre o desenvolvimento mais recente dos movimentos de responsabilidade social empresarial e investimento social privado. É resultado de encontros com as principais lideranças das organizações da sociedade civil brasileira nos últimos 20 anos. Como envolve muitas vozes, em diálogo, não traz uma visão única desses movimentos, mas sim perspectivas multifacetadas, por vezes até contraditórias, que por isso mesmo desenham um cenário mais real e rico.
redeGIFE – Há um hiato entre os debates promovidos pela Aliança Capoava e a publicação. Os desafios apontados continuam os mesmos?
Fernando Rossetti – O interessante é que os diálogos que resultaram neste livro ocorreram antes da crise econômica global de 2008/2009 e, apesar disso, não há uma ideia fora de lugar ou desatualizada. Pelo jeito as lideranças envolvidas nos encontros já visualizavam dois, três anos atrás o momento pelo qual estamos agora passando no campo da responsabilidade e investimento social. Este ano no GIFE lançamos a Visão para o Investimento Social Privado em 2020, uma perspectiva de 10 anos para o setor, e esta publicação da Aliança Capoava serve muito bem de contexto para os objetivos que traçamos na Visão.
redeGIFE- Qual é o principal avanço no movimento RSE que pode ser destacado do livro?
Fernando Rossetti –
Como disse, as perspectivas das lideranças sociais brasileiras são multifacetadas em relação ao avanço e alcance da RSE. Há desde a visão de que o movimento é mais discurso do que prática — e, neste sentido, um discurso que se tornou hegemônico entre as empresas — até uma percepção de que a verdadeira responsabilidade social, que implica a mudança nas práticas de gestão das empresas, com uma abordagem mais sustentável, está de fato em curso e que é inexorável, diante do momento atual de desenvolvimento do capitalismo.
redeGIFE – A publicação defende que o conceito de RSE “estará perpetuamente em construção”. Mas não se tem dito, nos últimos anos, que o debate se sofisticou, o movimento se qualificou, mas o que falta é a efetividade das práticas?
Fernando Rossetti –
Todos os movimentos sociais estão em perpétua construção, já que o contexto político, econômico e social também está em constante transformação social. O Brasil mudou muito nos últimos dez, vinte anos, e questões que eram muito importantes na década de 90, como a consolidação da democracia brasileira, já são fatos consumados hoje.
A crise econômica global, sintoma da integração e interdependência das economias nacionais no plano mundial, colocam novos desafios para todos — Estado, empresas e organizações da sociedade civil. Vinte anos atrás mal se falava que as empresas, em seu processo de geração de riqueza e lucro, devem ter responsabilidade social. Hoje pelo menos este discurso “”pegou”” e a sociedade, crescentemente, espera isso das empresas. O desafio que temos agora é de aprofundar de fato as práticas de responsabilidade social. Estamos falando em mudanças culturais, estruturais na sociedade e na economia. Esse tipo de transformação não acontece de um ano para o outro.
O fato de as faculdades de administração em todo mundo estarem incorporando disciplinas nessa área mostra que as próximas gerações de gestores de empresas deverão ter práticas diferenciadas dos gestores formados no século passado.

redeGIFE – Qual o papel das fundações e institutos corporativos na incorporação de uma gestão socialmente responsável por parte de suas mantenedoras?
Fernando Rossetti –
O título da publicação indica uma mudança profunda no papel dos institutos e fundações empresariais da década de 90 para 2000. Na década de 90 defendíamos no GIFE que um instituto ou fundação empresarial deveria ser mantido o mais distante possível da gestão da empresa para não “”contaminar”” sua agenda pública com interesses de ordem privada.

Hoje isso não é mais possível, já que a responsabilidade e o investimento social impactam diretamente na construção do valor da marca de uma empresa, especialmente no contexto da hipercompetitividade do mercado global, e é necessário um alinhamento de todas as práticas sociais. Por isso o fim do guarda chuva (que separava RSE e ISP), ou o abandono da idéia de que RSE cuida dos processos da empresa e ISP cuida de questões públicas.
Costumo dizer que os institutos e fundações empresariais hoje cumprem uma função de “”inteligência social”” das empresas, e esta inteligência é útil tanto para o negócio como para toda a sociedade.
redeGIFE – A publicação traz um capítulo sobre as relações entre empresas e organizações sociais. Qual a grande oportunidade trazida com essa aproximação?
Fernando Rossetti –
O repertório social das organizações sociais tende a ser muito mais amplo e profundo do que o das empresas. Tradicionalmente, empresas fazem negócios, geram produtos e serviços, empregos e riqueza. Também tradicionalmente, as organizações da sociedade civil lidam com questões sociais, culturais e ambientais.
O que está acontecendo é que as competências e habilidades de um setor se tornaram úteis para o outro. As empresas precisam agregar valores e práticas socioambientalmente sustentáveis e as organizações sociais enfrentam novos desafios de impacto de seu trabalho e de sustentabilidade financeira. Um pode ajudar o outro nesse processo. Estamos inclusive vendo a emergência de um campo que poderia ser chamado de “”setor dois e meio””, ou “”negócios sociais””, uma fusão do segundo setor (empresas) com o terceiro setor (organizações da sociedade civil).

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