Qual o papel do investidor social em situações de emergência?

Por: GIFE| Notícias| 21/01/2011

Rodrigo Zavala*

O que esperar de fundações, institutos e empresas quando uma situação de emergência emerge, como ocorreu nas últimas semanas em São Paulo, Minas Gerais e, em especial, Rio de Janeiro? Frente a um Estado, aparentemente, fraco em prevenção e, notoriamente, pouco aparelhado frente à calamidade sucedida, qual a importância da sociedade civil organizada para ajudar às vítimas de desastres?
Postos mais uma vez frente a inundações, que desta vez desterraram milhares de pessoas e vitimaram mais de 800 (número que ainda pode crescer), só na região serrana do Rio de Janeiro, a ajuda vem de todos os cidadãos com algum pouco de esperança na realidade. Anônimos se aproximam de escombros como voluntários, na mesma face de ajuda que outros depositam dinheiro em contas para minimizar, pelo menos, um pouco do sofrimento de quem perdeu tudo numa avalanche de água e lama.
Como experiência é aprendizado, faz-se importante as palavras de Lucia Dellagnelo, diretora executiva do Instituto Comunitário Grande Florianópolis (Icomfloripa), organização que também enfrentou os desafios de frente ao caos em Santa Catarina, em 2008. “O primeiro passo é entender quais são as necessidades imediatas da região. Por isso, é importante fazer o mapeamento dos recursos existentes na região, o que exige calma e pensamento estratégico”, disse na época.
Daí vem a importância de quem destina recursos e, assim, da própria sociedade civil organizada. “Os investidores sociais privados, por sua maior autonomia e agilidade, são atores fundamentais em tempos de crise. Se o montante de recursos não é comparável àqueles mobilizados por governos, sua forma de atuação e, por vezes, sua proximidade, em relação às comunidades atingidas, podem ser decisivas em momentos críticos”, acredita o gerente da área de Conhecimento do GIFE, Andre Degenszajn.
Além disso, na visão dele, são justamente os momentos de crise que exigem uma atuação mais intensa, fazendo com que os investidores direcionem mais recursos para atender os grupos afetados.Trata-se, enfim, de uma mudança de foco.
O Banco Bradesco abriu uma conta especialmente para levantar recursos para socorrer as vítimas no Rio de Janeiro. “O Investidor Social tem compromisso com o desenvolvimento da sociedade. Em situações de emergência, é fundamental nosso envolvimento na mobilização de esforços para minimizar impactos. O Bradesco reconhece a importância de seu papel e estabelece ações de auxílio, como a disponibilização de uma conta específica para contribuições financeiras de todo o País, além da doação inicial da organização”, esclarece o Diretor Vice-presidente do Bradesco, Domingos Figueiredo de Abreu.

De acordo com ele, internamente, o banco conta com a mobilização dos colaboradores para arrecadação dos bens mais necessitados através do Programa Voluntários Bradesco. Os colaboradores do Rio de Janeiro e de São Paulo estão organizando campanhas de arrecadação em seus locais de trabalho visando arrecadar os materiais mais necessitados pela Cruz Vermelha e a Defesa Civil.

Mas eles são mais importantes que outros que querem ajudar? Não. Mas isso é um caso de cunho social. Quando desastres ocorreram no passado, como em 2009, em São Luiz do Paraitinga (SP) e Angra dos Reis (RJ), a Defesa Civil local começou a receber pedidos de pessoas físicas e empresas que queriam ajudar, mas não sabiam o que fazer; ao mesmo tempo, voluntários se dirigiram ao local para trabalhar. Uma ajuda que virava mais um tropeço: apesar das boas intenções, criou-se um problema a mais para a Defesa Civil, pois não havia onde hospedar ou como capacitar este pessoal, que se expôs a riscos.
Contribuir com quem já tem o conhecimento necessário para o envio de ajuda parece ser a melhor solução para quem quer participar de alguma forma. Um exemplo é a Fundação Abrinq – Save the Children, que na semana passada já havia enviado uma equipe à região serrana do Rio de Janeiro, para começar os trabalhos em prol das crianças e adolescentes da região.
Segundo informações da organização, foram articuladas as Defesas Civis nacional, estadual e municipais e realizados contatos com prefeituras e secretarias dos municípios atendidos.

Além disso, a fundação passou a ajudar os municípios a se candidatarem a fundos governamentais para projetos que se direcionam às necessidades das crianças, convidará as Empresas Amigas da Criança para que possam contribuir com os municípios afetados e mantém a campanha nacional de arrecadação de fundos através do site www.emergencia.org.br.

Um dado de contexto: só em Teresópolis, área atingida pelas torrenciais chuvas, mais de 3 mil crianças estão sem lar.
Outra organização que conhece o “caminho das pedras” é a Aldeias Infantis SOS, que está oferecendo acolhimento emergencial às crianças da zona afetada pelas inundações e proporcionando proteção para que todos os seus direitos sejam garantidos. “Nestes momentos de crise, as pessoas físicas ou jurídicas realmente comprometidas com a questão social se desprendem completamente das questões relativas à visibilidade ou à contrapartida do seu investimento. Nestas ocasiões fica muito claro que a questão de responsabilidade social se aprofunda para um outro nível – o humanitário”, afirma o representante Nacional de Advocacy das Aldeias Infantis, Alexandre Cruz.
Para ele, é em momentos como este que o investidor social privado se iguala ao estado; e a sociedade como um todo se torna solidária “eliminando-se mesmo as fronteiras normais entre poderes constituídos e outras convenções”.
Quando não há como ser voluntário in loco ou não há recursos a serem desprendidos, a criatividade ainda é a melhor solução. Foi em casa, assistindo notícias sobre os deslizamentos de terra no verão de 2010, que a publicitária Cristiana Soares teve a ideia de usar seus conhecimentos em comunicação para ajudar as vítimas: a partir da mobilização de usuários do Twitter ela criou um site colaborativo, que reúne informações importantes sobre
como auxiliar os atingidos.
Com os desastres desse ano, o Projeto Enchentes redobrou as forças e passou a divulgar notícias, campanhas e pontos de doações. “Deixei claro logo de começo que não queria fazer assistencialismo e nem caridade. Que a ideia era prestação de serviço, dentro das nossas possibilidades como profissionais da comunicação”, conta Cristina no texto de apresentação do projeto.

Saiba como ajudar:

Aldeias Infantis SOS
www.aldeiasinfantis.org.br
Fundação Abrinq – Save the Children
www.fundabrinq.org.br
Contatos que podem ajudar:

– A Associação Crianças do Vale de Luz, em Nova Friburgo (RJ), tem uma conta bancária específica para receber doações em dinheiro, que serão utilizadas para ajudar as famílias, em especial, dos alunos/as de sua escola. Pode ser depositado qualquer valor na conta: Banco Itaú, Agência 7672 Conta Corrente 00409-5, Titular: Associação Crianças do Vale de Luz, CNPJ 39497938/0001-02. Será enviado relato sobre o uso das doações. Contato por e-mail [email protected] ou pelos telefones (22) 9277.1729, (22) 9277.3014 e (22) 2527.1389;

• O LNCC – Laboratório Nacional de Computação Científica está arrecadando e distribuindo doações em Petrópolis (RJ): Av. Getúlio Vargas, 333 – Quitandinha Petrópolis (RJ) – 25651-075. Encaminhar ao setor de eventos, A/C Simone Franco ou Thatiana Tapajós;

• A rede de supermercados Pão de Açúcar está disponibilizando seu sistema de entrega para doações de cestas básicas compradas por meio do Pão de Açúcar Delivery (internet). Não há valor mínimo de compra e todas serão isentas de frete no período de 18 a 31 de janeiro. As doações serão entregues à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) da cidade do Rio de Janeiro. Saiba mais: http://verd.in/krm


*Rodrigo Zavala é editor de Conteúdo do GIFE.

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