Reciclagem de lixo traz benefícios sociais, ambientais e econômicos

Por: GIFE| Notícias| 30/06/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) lançou, no último dia 12 de junho, a Síntese de Indicadores Sociais 2002. Baseado nas informações da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001, o estudo teve entre os aspectos abordados as condições de ocupação, saneamento básico e coleta de lixo nos domicílios brasileiros.

Foi identificado que os serviços de coleta direta ou indireta de lixo atingiram, em 2001, 95% dos domicílios nas zonas urbanas. Porém, a cobertura e os tipos variavam muito. A região Norte apresentou a menor cobertura de coleta direta de lixo, com 70,4% dos domicílios beneficiados, enquanto nas residências da região Sul, este índice chegava a 93,1%. Entre as regiões metropolitanas, Salvador (BA) teve o menor o percentual (54,3%) e Porto Alegre a melhor taxa de coleta (96,8%).

A coleta de lixo é uma etapa essencial para proporcionar condições de moradia adequadas e, se for feita de forma seletiva e combinada com a reciclagem, também pode contribuir para a preservação do meio ambiente e para a melhoria das condições sociais do país. Empresas e organizações da sociedade civil vêm incentivando a prática e a conscientização sobre coleta seletiva e reciclagem do lixo. São ações que envolvem benefícios sociais, ambientais e econômicos.

André Vilhena, diretor executivo do Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem), afirma que a demanda das empresas por ações de coleta seletiva e reciclagem tem aumentado. “”Do ponto de vista da produção, caminhamos na direção da ′ecoeficiência′. A partir da coleta seletiva organizada internamente na empresa, é possível ter um impacto significativo no meio ambiente e nos custos gerais do processo de produção.””

O Cempre é uma associação sem fins lucrativos mantida por empresas privadas, que trabalha para a conscientização sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem de lixo. “”Esse é um trabalho de médio a longo prazo. Mudança de hábito e comportamento não é fácil, mas é preciso ter persistência e seguir mostrando para a comunidade a importância da sua participação””, afirma Vilhena.

Dois exemplos de empresas que já aderiram a esta conscientização são o Grupo Pão de Açúcar e a Unilever. Elas uniram-se para a criação das Estações de Reciclagem. São 35 pontos de entrega voluntária de embalagens recicláveis, instalados em lojas da rede Pão de Açúcar nos estados de São Paulo e do Paraná. Entre abril de 2001, quando as estações foram lançadas, e dezembro do ano passado, o volume de materiais arrecadados cresceu 186%.

“”A receptividade tem sido muito boa. As pessoas passam a divulgar o projeto entre vizinhos e amigos. Hoje as estações estão presentes em 50% das lojas na Grande São Paulo, e os clientes das que ainda não receberam o equipamento têm solicitado sua instalação””, conta Sônia Manastan, gerente de marketing institucional do Grupo Pão de Açúcar.

Segundo ela, em 2003 serão investidos R$ 700 mil na ampliação do projeto que, além de promover a conscientização dos consumidores sobre a importância da reciclagem, também gera empregos e renda, com a criação de 200 postos de trabalho diretos e indiretos e a parceria com duas cooperativas de recicladores.

Cooperativas – André Vilhena afirma que os projetos com maior repercussão em efeitos práticos são aqueles que consideram a participação dos catadores e das cooperativas. “”Com cerca de R$ 2.500 é possível gerar um posto de trabalho, com ganhos de aproximadamente dois salários mínimos líquidos, o que é bastante para a realidade nacional. Hoje já temos mais de 500 mil pessoas trabalhando na coleta seletiva.””

As cooperativas de catadores têm sido uma forma de resgate da cidadania de diversas famílias. “”Muitas dessas pessoas estavam totalmente à margem da sociedade, envolvidas com drogas, alcoolismo e atividades paralelas. Com as cooperativas, eles passam a ser reinseridos no quadro social””, diz Vilhena.

A Fundação Banco do Brasil lançou, no ano passado, o Programa Bio Consciência visando à geração de trabalho e renda por meio do reaproveitamento de recursos e à inclusão social através da formação e profissionalização das cooperativas de catadores de lixo já existentes.

A primeira ação do programa foi a distribuição de um kit com guias sobre coleta seletiva, gerenciamento integrado de lixo e cooperativas de catadores para todas as prefeituras brasileiras. Já estão previstas ações de apoio à formação e capacitação de cooperativas e a construção de uma base de dados sobre a coleta seletiva no Brasil.

Para Almir Paraca, diretor executivo de desenvolvimento socialda Fundação, os grandes desafios ambientais na área de gerenciamento de resíduos são aumentar a eficiência dos processos econômicos, aumentar a capacidade de reciclagem de lixo, alterar os padrões de consumo e reduzir a quantidade de lixo produzido. “”Estes desafios estão expressos no conceito dos 3 Rs, criado na ECO 92: reduzir a produção de lixo, reciclar o lixo e reutilizar os recursos.””

Vilhena diz que, para desenvolver um programa de incentivo à reciclagem, é necessário identificar e estar atento a peculiaridades locais. “”Existe a questão cultural, as necessidades locais, os hábitos e o comportamento da população local. A partir da atenção a essas peculiaridades regionais, pode-se formatar projetos adequados a essa realidade.””

Para a técnica em meio ambiente de O Boticário, Taína de Camargo Cantéri, as diferenças entre as regiões são radicais. “”Considerando os nossos limites territoriais e as diferenças demográficas de cada local, serão necessários investimentos futuros para que os padrões regionais se nivelem.””

Com a coordenação da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, há alguns anos a empresa O Boticário desenvolveu um programa de reaproveitamento de papel, papelão, vidro e plástico, materiais gerados em grande volume nas fábricas da empresa. Além de ser transformado em matéria-prima para novos produtos, o material reciclado também é utilizado na fabricação de cadernos que são distribuídos em escolas públicas do Paraná.

Conscientização – Sônia Manastan, do Pão de Açúcar, acredita que o maior desafio seja a adesão da população à prática da reciclagem e da reutilização de materiais, mas que o principal investimento deve ser feito com o objetivo de gerar um fluxo constante e eficaz para o retorno, reutilização e redução das embalagens.

Ela conta que a empresa investe em campanhas de conscientização e promoção das Estações de Reciclagem. “”Existem ações de abordagem dos clientes para apresentação do projeto, seu funcionamento e suas vantagens. Ações promocionais também são realizadas quando detectamos necessidade de gerar mais reconhecimento em determinada comunidade.””

André Vilhena diz que já existe um avanço, mas para que a reciclagem ganhe uma escala ainda maior seria importante que mais municípios se envolvessem na coleta seletiva. “”Temos regiões muito avançadas e outras que ainda não deixaram a estaca zero. Em lugares como Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), a coleta seletiva é algo consumado. Mas em municípios que estão começando a implantar a coleta seletiva há mais dificuldade. As pessoas não sabem o que separar, têm preguiça ou não querem fazer.””

Ele afirma que as campanhas de conscientização devem ser bem estruturadas. “”É preciso ter cuidado para não gerar uma expectativa sem retorno. Primeiro, deve-se ter uma estrutura consolidada, para depois fazer a campanha. Senão, as pessoas ficam sensibilizadas, mas não têm como ajudar.””

O maior problema do lixo, segundo Vilhena, são os resíduos orgânicos, sobre os quais o Brasil ainda está começando a criar uma estrutura. “”Ao contrário do que muitos imaginam, nosso país tem ótimos índices de reciclagem para quase todos os materiais, exceto para o resíduo orgânico, que tem alto poder de impacto ambiental.””

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