Rede propõe difusão de conhecimento para replicação de tecnologias sociais

Por: GIFE| Notícias| 31/01/2005

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A Rede de Tecnologias Sociais (RTS), apresentada pela Fundação Banco do Brasil no último dia 19 de janeiro, em São Paulo, para um grupo de organizações sociais, universidades e institutos de pesquisas, pretende ser uma rede de ação, articulação e difusão da informação e do conhecimento sobre as tecnologias sociais já existentes e aquelas que ainda deverão ser criadas.

Para isso, conta com cinco mantenedores, além da própria Fundação: a Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, o Ministério da Ciência e Tecnologia, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), a Petrobras e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

A proposta de criação da rede começou a ser discutida em novembro de 2004, durante a 1ª Conferência Internacional e Mostra de Tecnologia Social, que reuniu cerca de 400 pessoas, durante três dias, para debater difusão e transferência de tecnologias sociais. A idéia inicial é priorizar a replicação daquelas que tenham como foco geração de trabalho e renda nas comunidades localizadas na região amazônica, do semi-árido e dos bolsões de pobreza dos grandes centros urbanos.

Em entrevista ao redeGIFE, o diretor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Fundação Banco do Brasil, Luis Fumio Iwata, fala sobre o desenvolvimento da rede, que deve ser lançada oficialmente no final de fevereiro, sobre o foco do trabalho e a questão da falta de consenso sobre o uso do termo “”tecnologia social””.

redeGIFE – Por que as tecnologias sociais importantes para o desenvolvimento do país não têm sido difundidas da maneira como deveriam/poderiam?
Luis Fumio – Primeiro, porque este termo “”tecnologia social”” ainda é recente no país. Em 2000, quando começamos a trabalhar com ele, eram poucas as instituições que o utilizavam e, mesmo assim, aplicavam apenas em seu discurso. Isso não estava institucionalizado. A partir do momento em que a fundação instituiu o Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, o que permitiu constituir um banco onde foram armazenadas as informações das tecnologias identificadas no prêmio e trabalhou a sua difusão, foram surgindo outras iniciativas. Hoje, há diversas organizações que trazem em suas estruturas divisões de tecnologias sociais, de gerência de tecnologia social, que criaram institutos de tecnologia social. Então, podemos resumir em duas questões: a primeira é que este é um termo recente, e a segunda é que, na época em que começamos a trabalhar com isso, vimos que havia instituições que trabalham com o desenvolvimento de tecnologias, sociais ou não, mas não havia nenhuma atuando na difusão daquilo que havia dado certo e que se mostrava efetivo na resolução dos problemas. Até então, aquelas que, de alguma forma, se envolveram no processo de criação – desde academias e institutos de pesquisa, até movimentos e organizações sociais – não se preocupavam em trabalhar a propagação em lugares que conviviam com o mesmo problema. Foi aí que resolvemos atuar, e tivemos que definir que tipos de tecnologias reuniríamos, conseguir as informações, construir uma base de dados e criar um estímulo. A rede é uma forma de potencializar não só a difusão do conhecimento sobre o que já existe a respeito de tecnologia social, mas também de enfatizar sua replicação em escala.

redeGIFE – E você percebe que hoje existe um consenso sobre o termo tecnologia social?
Fumio – Não. Eu afirmaria que estamos iniciando um processo de construção de um consenso. E não sei se vamos conseguir chegar a isso porque, se pegarmos qualquer outro termo do terceiro setor, podem existir vários entendimentos sobre ele. “”Tecnologia social”” deve seguir o mesmo caminho. Vamos ter diversos entendimentos sobre o que seja e o que podemos ter é um DNA comum, uma solução efetiva na resolução de problemas sociais, que tem como principal característica a replicabilidade. Eu diria que, com a proposta da rede, talvez estejamos iniciando um processo de construção de consenso, mas se ele realmente ocorrerá, não sei dizer. E talvez nem seja bom ter. Talvez a pluralidade seja um elemento de riqueza que nos ajude, inclusive, a começar a enxergar outras coisas neste âmbito.

redeGIFE – Além de recursos financeiros, o que é fundamental para que haja replicação em escala de tecnologias sociais bem-sucedidas?
Fumio – Recurso financeiro é um ponto crítico, mas não é único. Tão importante quanto isso é a questão da sensibilização e mobilização das comunidades onde essas tecnologias se aplicam. Porque só faz sentido replicar se a comunidade entender a tecnologia como necessária e se mobilizar para que ela possa acontecer ali. Isso pressupõe mais que mobilização, mas também capacitação para implementar a tecnologia. Deve haver participação comunitária, integrada ao processo de gestão, porque não adianta ter sido capacitado e depois não fazer a gestão daquele processo. Isso tudo leva a comunidade a se “”apropriar”” daquela tecnologia. É preciso que ela entenda a tecnologia, sua importância naquele local e se mobilize para que seja implementado, seja por meio de movimentos sociais, associações de moradores, produtores ou cooperativas, seja pelo poder público local. Eles têm que se apropriar desse processo, para que todo o trabalho não morra.

redeGIFE – Num primeiro momento, a Rede de Tecnologias Sociais deve focar seu trabalho em tecnologias na área de geração de trabalho e renda. Vocês identificam outras áreas nas quais têm surgido boas tecnologias sociais?
Fumio – Sim. Mas estamos partindo da seguinte lógica: temos hoje uma oferta de diversas tecnologias já implementadas de forma efetiva na resolução de problemas e temos uma ocorrência enorme de diversos problemas sociais, em escalas muito grandes também. Então, antes de irmos para uma localidade e levantarmos uma necessidade, estamos partindo do princípio de levantar o que temos de oferta e, a partir daí, escolher um eixo alavancador. Este eixo, no momento, seria geração de trabalho e renda, nas regiões da Amazônia, do Semi-Árido e nos bolsões de pobreza dos grandes centros urbanos. Ao implementar a tecnologia, o parceiro local repassa à rede informação sobre outras demandas, aí veremos o que já temos identificado para aquele problema e faremos com que seja levado àquela comunidade, que já está capacitada e envolvida. A idéia é levar o que já está pronto. A partir daí, os outros processos terão mais chance de dar certo. Mas se para determinada demanda ainda não existe a tecnologia, poderão ser acionados os institutos de pesquisa e academias que fazem parte da rede, para que busquem desenvolver novas propostas, de acordo com essas outras necessidades sociais identificadas.

redeGIFE – Como outras organizações podem fazer parte da rede?
Fumio – A rede será lançada oficialmente em fevereiro. No encontro do dia 19 de janeiro, levamos a algumas organizações a proposta da comissão organizadora. Ao lançar a rede, nós teremos estabelecido os critérios de adesão. Quem se interessar e passar por este filtro, passa a fazer parte da rede e participa com o seu potencial, seja ele de conhecimento, de difusão das tecnologias, de mobilização, de capital financeiro, entre outros aspectos. Teremos um portal com todas as informações iniciais sobre os propósitos da rede, os critérios de adesão, os princípios e o plano de ação para 2005. Posteriormente, também serão disponibilizados dados sobre as tecnologias trabalhadas pelos integrantes da rede, o que está sendo feito, onde e quais resultados estão sendo alcançados, além de subsídios para as tomadas de decisão dos parceiros em cada localidade, como informações sobre o IDH, o mapa da exclusão social, os indicadores sociais, perfis dos municípios etc.

redeGIFE – Quais foram os principais resultados da reunião ocorrida no dia 19?
Fumio – Estamos numa fase de consolidação. Foram formados sete grupos de trabalho e todos eles deram contribuições sobre tópicos como estrutura, governança, plano de ação e objetivos da rede. Isso tudo está sendo estruturado para vermos quais as propostas efetivas que podem melhorar a idéia inicial. Eu ainda não tenho os resultados, mas o que me parece é que a nossa proposta, a princípio, foi bem aceita. Eles entendem como necessária uma rede que, além de articular, integre e traga sinergia entre as ações dos diversos parceiros. Esta é uma rede que se propõe a focar na ação, no fazer acontecer. Já existem ações a serem feitas em 2005, focadas em trabalho e renda, com locais e algumas tecnologias apropriadas. Todos deram sugestões sobre isso e, na ocasião do lançamento oficial da rede, tudo estará definido.

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