Responsabilidade é mais do que preencher um cheque

Por: GIFE| Notícias| 02/06/2008

Rodrigo Zavala

Durante anos, Akhtar Badshah soube o quanto era difícil captar recursos para os seus projetos. No comando da fundação Digital Partners, organização social de Seattle (EUA) que promove a economia digital em benefício de populações de baixa renda, bateu na porta de toda a sorte de grandes corporações na busca por financiamento.

Hoje, no entanto, a história é outra. Desde 2004, Badshah está à frente da direção de Assuntos Comunitários da Microsoft e, no leque de responsabilidades, não apenas comanda do o programa Unlimited Potential (UP), de alcance mundial, mas de todas as ações de inclusão digital da empresa.

Para o doutor do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) de origem indiana, a tarefa é complexa: deve administrar os bilhões de dólares que a Microsoft colocou sob o seu crivo. Em visita relâmpago por São Paulo, ministrou uma aula aberta promovida pelo GIFE em parceria da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), no último dia 26 de maio.

No evento, o indiano falou sobre o que é importante na hora de apoiar os projetos. “”Selecionar uma ação social implica em uma série de elementos. O primeiro é seu potencial de impacto, em que analisamos a capacidade da organização em atender, não apenas em números, mas em qualidade””, argumentou.

O segundo ponto levantado pelo indiano é a credibilidade da instituição, seu histórico e outros parceiros. “”O principal é trabalhar com organizações que estejam estreitamente vinculadas com a comunidade. Às vezes uma idéia pode ser muito boa, mas não serve se não existe interesse local””.

Questionado sobre a sua experiência no trabalho com organizações do terceiro setor, o especialista garante que o grande desafio é fazer com que seus gestores entendam que nem tudo é dinheiro. “”Em alguns casos, as ONGs não necessitam de dinheiro, mas requerem apoio, uma rede. Por outro lado, é muito importante que as empresas também entendam que a responsabilidade social não é apenas preencher um cheque””, criticou.

Na visão de Badshah, é imprescindível que empresas e organizações social fortaleçam alianças de colaboração para estabelecer agendas comuns. Isto é, que identifiquem diferentes expertises para o bom uso dos recursos.

Sobre as práticas da Microsoft, nesse campo, o indiano vê um retorno além dos recursos financeiros, outros benefícios. Se a empresa investe com o objetivo de ajudar a que mais pessoas tenham acesso a tecnologias da informação, é claro que em longo prazo ela pode se beneficiar. No entanto, por enquanto, o êxito do programa é que o investimento seja efetivo e tenha como produto final uma melhoria social. Sem isso é um fracasso.””

Ele acredita que, como empresa, a Microsoft entende que possui a responsabilidade de incluir a todas as pessoas no mundo das TIs. Há 30 anos, não se necessitava saber comutação para ser secretária. Hoje são habilidades básicas. Para mim, essa é nossa responsabilidade e uma obrigação””.

Nessa questão, Akhtar Badshah acredita na elaboração de produtos que atendam as demandas de determinadas comunidades. Como um exemplo genérico, ele comentou sobre um novo produto da empresa Danone, em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo, com 144 milhões de habitantes, sendo que mais de um terço da população vive com menos de um dólar ao dia.

Como vender um produto que seja viável economicamente e pensado na comunidade? Segundo Badshah, a empresa desenvolveu um iogurte com mais vitaminas, fibras e minerais, com um preço menor do que o praticado no mercado. O fez com a colaboração do governo e organizações locais. “”Os três setores fazem parte da solução. È uma questão de alinhamento.””

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