Rio+10 reacende debate sobre ação das empresas para o meio ambiente

Por: GIFE| Notícias| 12/08/2002

MÔNICA HERCULANO

Uma década depois da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92), que aconteceu no Rio de Janeiro, preservação ambiental e desenvolvimento sustentável voltam a ser discutidas em um fórum internacional. Esses são alguns dos temas a serem abordados na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), em Johannesburgo (África do Sul), entre os dias 26 de agosto e 4 de setembro.

Especialistas de diversas áreas ligadas ao desenvolvimento sustentável irão apresentar idéias sobre os avanços e retrocessos ocorridos nos últimos dez anos, além de expor o cenário ambiental previsto para os próximos 30 anos. Antes da conferência, o Brasil preparou o Fórum Itinerante Rio+10 – Onde estamos, para onde vamos, no qual representantes dos poderes Executivo e Legislativo e de diversas organizações do país discutiram propostas a serem levadas para o encontro.

A participação das empresas em eventos como esses pode refletir uma atuação consciente na conservação ambiental. O tema tem sido cada vez mais discutido, em parte por pressão da sociedade, mas também pelo próprio posicionamento estratégico dos empreendedores. Tanto que essa participação será o foco do Business Day, evento paralelo à Rio+10. O encontro reunirá empresários e representantes governamentais, como o primeiro-ministro britânico Tony Blair, para debater assuntos como sustentabilidade e manejo dos recursos naturais, globalização, desenvolvimento e investimento sustentáveis.

“”A vanguarda do empresariado compreendeu de forma definitiva que tratar os rejeitos, reciclar matéria-prima, racionalizar energia e adotar tantas outras ações desse tipo aumentam a competitividade da empresa no mercado. Então há um ganho para todos: para a empresa e para a sociedade””, defende o presidente executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Fernando Almeida, que participará da Rio+10.

Almeida afirma que o modo de produção das empresas está em processo de mudança, de acordo com as exigências do mercado, cada vez mais competitivo. Segundo ele, a organização que não buscar a qualidade total em seu relacionamento com a equipe e com o conjunto da sociedade não sobreviverá. “”A empresa que deseja se manter no mercado precisa estar atenta a todo o ciclo, da produção ao consumo. Ambos, no futuro, terão que ser sustentáveis.””

Maria Fernanda Alves, coordenadora do Instituto Holcim para o Desenvolvimento Sustentável, atenta para o fato de que a atual cobrança pela manutenção do meio ambiente não deve ser encarada negativamente. “”É essencial que as empresas vejam isso como um fato extremamente positivo e decorrente do amadurecimento da sociedade, em vez de ter esta cobrança como um problema a mais a ser contornado””, explica.

Para isso acontecer, Fernanda lembra que é preciso que o conceito de desenvolvimento sustentável esteja inserido entre as diretrizes norteadoras da organização, com uma atuação corporativa que integre os pontos de vista econômico, social e ambiental. “”As empresas precisam incorporar em sua estratégia de negócio que a degradação ambiental pode ser uma forma de redução de custos a curto prazo, mas que indubitavelmente trará graves prejuízos à corporação a longo prazo. O posicionamento de governos e sociedade civil na cobrança desta postura é de suma importância””, afirma.

Nos últimos anos, a participação do setor empresarial nos cuidados com os recursos naturais e com a adoção de normas voltadas para o desenvolvimento sustentável foi a que mais evoluiu, de acordo com Fernando Almeida. Ele conta que uma pesquisa recente constatou que 98% das indústrias cariocas analisadas adotavam alguma ação ambiental. “”Diante desse quadro, a tendência é de melhora contínua””, acredita.

Tanto o executivo quanto Fernanda afirmam que a manutenção do meio ambiente é papel das empresas, do governo e da sociedade em geral. “”É necessário o estabelecimento das relações com o poder público, com os legisladores e com a sociedade civil organizada para alcançar um novo modelo de sociedade, no qual cidadania e manutenção dos recursos naturais sejam fundamentos básicos””, diz Almeida.

Nesse sentido, o investimento social privado tem papel fundamental. Fernanda acredita que ele é uma forma de complementação às políticas públicas locais. “”Tendo em vista o agravamento constante das questões ambientais e os enormes montantes de recursos financeiros necessários para se reverter tal situação, o investimento privado é essencial para o alcance efetivo de resultados.””

Almeida completa que a visão moderna de desenvolvimento não permite que as questões sociais e ambientais sejam tratadas separadamente. “”Elas devem caminhar juntas com a dimensão econômica. Esta é a essência da sustentabilidade. Os resultados das ações sociais das empresas voltadas para a educação e a saúde, por exemplo, através da ampliação da consciência e da mudança de cultura, trazem benefícios para o meio ambiente””, conclui.

Colaborou Roberta Pavon

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