São Paulo-Amazônia: conexões com a sustentabilidade
Por: GIFE| Notícias| 20/10/2008A economia paulista é o mais importante vetor de impactos aos ecossistemas amazônicos, através do consumo de produtos como madeira, soja e carne. Apesar do imaginário da sociedade lançar a conta pela devastação na exportação destes produtos, apenas a soja está direcionada para o mercado externo, a madeira e a carne acabam nas mesas e nas construções dos paulistas.
Dados oferecidos pelo cientista Antonio Nobre, pesquisador do IPAM (Instituto de Pesquisas da Amazônia), mostram que a capacidade da Amazônia continuar a prestar serviços ambientais ao restante da América do Sul, e ao planeta, está no limite. Seus estudos estão na base de movimentos pela preservação, e são um alerta da urgência de ações em direção à mudança nos paradigmas que regem as relações da região com outras partes do Brasil e do mundo.
Neste contexto, dois movimentos sociais importantes, o Fórum Amazônia Sustentável, que reúne empresas e organizações não-governamentais com forte presença na Amazônia, e o Movimento Nossa São Paulo, que está propondo alternativas de desenvolvimento para a cidade de São Paulo, estão realizando em São Paulo o evento “”Conexões Sustentáveis””. O objetivo é mostrar como o comércio entre as duas regiões está impactando negativamente a Amazônia e como isso pode ser feito de forma sustentável, garantindo benefícios para as duas partes.
Oded Grajel, presidente do Nossa São Paulo, acredita que a mudança de modelo no comércio regional depende de vontade política e de compromissos entre os envolvidos e que os custos para esta transformação não podem ser mais colocados como empecilho. “”Depois do mundo ter gasto mais de US$ 3 trilhões para salvar bancos, podemos ter a certeza de que não falta dinheiro””, disse Grajew.
O reforço de que é urgente mudar a relação entre o Sul/Sudeste com a Amazônia está presente em várias constatações. Beto Veríssimo, pesquisador do Imazon e membro da Comissão Executiva do Fórum Amazônia é incisivo em afirmar que a Amazônia tem um desenvolvimento econômico de baixa qualidade e a relação com as regiões consumidoras de seus produtos é perversa. “”É um comércio baseado em madeira e pecuária, com muita ilegalidade e até escravidão””, diz.
Desta maneira não há como pensar em sustentabilidade. É preciso mudar tudo e assumir e metas ambiciosas, como “”zerar o desmatamento””, por exemplo, explica. Para mudar esta relação é necessário repactuar os acordos, e este espaço de diálogo do Fórum Amazônia e do Nossa São Paulo é uma oportunidade de reorganizar os discursos e as promessas que são feitos constantemente.
Para Paulo Itacaramby, do Instituto Ethos, e também da comissão executiva do Fórum, o momento é para se construir novos compromissos e pactos para o desenvolvimento não apenas da Amazônia. Descobrir novas maneiras de fazer política e fomentar uma nova economia.
Esta nova economia deve ter um vínculo não apenas regional, mas também com a posição que o Brasil ocupa no mundo. Segundo a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, se a reunião em torno da preservação da Amazônia estivesse ocorrendo 150 anos antes, o foco do debate certamente seria a Mata Atlântica, um dos ecossistemas mais devastados do Brasil, e que hoje tem apenas 7% de sua cobertura original.
“”Foi neste bioma que o Brasil construiu a maior parte de seu PIB, onde teve o desenvolvimento econômico mais importante, mas com dívidas ambientais e sociais muito grandes””, disse a ex-ministra.
Para que a Amazônia não se torne mais uma estatística nos livros de história é preciso que a presença do Estado seja efetiva e reforçada por políticas públicas consistentes, capazes de oferecer, por exemplo, regularização fundiária e serviços básicos para os 24 milhões de brasileiros que vivem nos Estados do Norte.
As relações econômicas entre a Amazônia e São Paulo devem levar em conta, também, os benefícios que cada qual pode oferecer e oferece ao outro. São Paulo tem solo fértil e umidade garantida graças à água que a Amazônia bombeia em direção aos Andes e que chega ao Sul/Sudeste na forma de chuvas regulares. Seria o momento desta região privilegiada – nos outros continentes o Trópico de Capricórnio está em regiões secas e desérticas – devolver os serviços ambientais que recebe na forma de um ordenamento econômico baseado na ética e na sustentabilidade.
Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental (ISA), também parte do Fórum Amazônia, vê com muita preocupação a possibilidade de a Amazônia não conseguir mais oferecer umidade regular para a região do Brasil que produz 70% do PIB. E este é um fato econômico que deve ser pensado com urgência: o PIB da Amazônia não passa de 8% do PIB brasileiro, e as atividades que produzem menos de 3% da riqueza do País estão colocando em risco a produção de 70% desta riqueza e a qualidade de vida de mais de 50 milhões de pessoas.
Reestruturar as relações econômicas entre as regiões e desenvolver atividades econômicas social e ambientalmente responsáveis na Amazônia é fundamental para a preservação do próprio Brasil enquanto economia emergente. “”A contribuição do Brasil em relação à crise ambiental mundial tem de ser através da capacidade de estabelecer governança na Amazônia””, disse Marina Silva. E a relevância do Brasil no mundo vem pela Amazônia e não pelo que se pode produzir no Sul/Sudeste. (Envolverde)
O texto foi escrito por Adalberto Wodianer Marcondes, da Envolverde.