Secretário Nacional de Economia Criativa destaca a importância do apoio do ISP aos empreendimentos criativos brasileiros

Por: GIFE| Notícias| 17/02/2014

Uma intensa interface entre criatividade, cultura, economia e tecnologia. É assim que as iniciativas da chamada economia criativa, ganham espaço, cada vez mais, na sociedade. Esse universo reúne desde pequenos empreendimentos que utilizam os saberes locais para elaborar peças de artesanato com design arrojado, passando por grandes negócios na área do cinema ou do audiovisual.

Trata-se de uma área em pleno crescimento. Segundo a Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad), apesar de a crise financeira mundial ter provocado queda drástica de 12% no comércio internacional em 2008, por exemplo, as exportações globais de produtos criativos aumentaram e alcançaram US$ 592 bilhões (equivalentes a mais de R$ 1 trilhão), duplicando em seis anos, com uma taxa de crescimento médio de 14% no período entre 2002 e 2008 – o que evidencia que as indústrias criativas estão entre as mais dinâmicas do comércio internacional (confira outros dados no relatório)

Frente a essa nova economia que se consolida num mundo em que inovação virou palavra de ordem, os investidores sociais também estão atendos à importância de se apoiar as iniciativas do empreendedorismo criativo visando o desenvolvimento local de territórios brasileiros.

Para debater as novidades desta economia, assim como os desafios colocados, o RedeGIFE realizou uma entrevista exclusiva com Secretário Nacional de Economia Criativa, Marcos André Carvalho. A Secretaria foi instituída em 2011 com um órgão na estrutura do Ministério da Cultura e visa propor políticas públicas para a área.

Nessa conversa, o secretário destaca a relevância dos projetos desenvolvidos pelas fundações e institutos, mas chama a atenção para a importância em focar os recursos financeiros em ações específicas, evitando a dispersão dos mesmos numa grande quantidade de projetos.

Confira a entrevista completa:

RedeGIFE: Que oportunidades podem ser geradas por essa nova economia no Brasil visando o desenvolvimento do país?

Marcos André Carvalho: A economia criativa é um novo paradigma econômico que responde aos desafios e às oportunidades do século XXI. A globalização e as mídias digitais provocaram uma revolução na maneira como nos entendemos e nos relacionamos com os outros, em nossas prioridades e modos de agir. Modelos colaborativos de negócios, crowdsourcing e cocriações, por exemplo, tiveram seu desenvolvimento acelerado a um ritmo vertiginoso.

Complementariamente, os produtos, serviços e propostas passaram a ser muito facilmente copiáveis (basta comparar dois rótulos no supermercado ou as condições de ofertas de serviços concorrentes) e os ativos econômicos tradicionais (a exemplo de dinheiro) passaram a também ser facilmente transferíveis entre localidades e países.

Ora, em um mundo de ofertas cada vez mais padronizadas, ou se concorre por preço ou por diferenciação, ou seja, valor agregado. Com isso, a capacidade de criação e inovação passou a ser reconhecida como o ativo mais diferencial da economia. Nesse contexto, a cultura assume um protagonismo.

E, para nossa sorte, o Brasil é reconhecido internacionalmente pela sua diversidade cultural e a “Marca Brasil” possui um imensurável valor agregado, embora ainda não tenhamos conseguido reverter isto em abertura para comercialização dos nossos bens e serviços culturais no exterior.

Quais são os desafios ainda enfrentados para que a economia criativa seja de fato impactante no Brasil?

Para transformar esta criatividade brasileira em desenvolvimento socioeconômico, temos alguns desafios, como a produção e difusão de dados e indicadores, a formação – que seja multidisciplinar e não se concentre apenas na técnica ou nas competências artísticas – e a revisão dos marcos legais. Além disso, é preciso fortalecer uma rede diversificada de infraestrutura que passe por todas as etapas das cadeias produtivas da economia criativa: a criação, a produção, distribuição, circulação e, por fim, o consumo, fruição de bens e serviços criativos.

Quais são os segmentos dentro da economia criativa que mais devem crescer nos próximos anos? Por quê?

Difícil avaliar, pois não existem pesquisas com séries históricas sobre o desempenho dos setores criativos e, os poucos estudos prospectivos a esse respeito, focam quase que exclusivamente no potencial dos mercados internacionais.

De todo modo, o que observamos em nossas interlocuções com o campo criativo, nos leva a crer que os segmentos de audiovisual, jogos eletrônicos, design e aplicativos para dispositivos móveis (smartphones, tablets etc.) apresentarão maior dinamismo econômico no futuro próximo. O destaque para esses segmentos se dá, por um lado, em função da entrada em operação do Vale-Cultura , que vai aquecer sobremaneira a demanda do mercado consumidor interno por esses produtos. Por outro lado, as oportunidades de exportação dos produtos desses setores e sua integração em cadeias produtivas globais diminuem sua dependência do mercado doméstico e os vincula a mercados consumidores muito maiores e mais dinâmicos economicamente.

Em janeiro, foi realizado o lançamento da primeira incubadora cultural do país, no Pará. Até junho, mais 12 capitais vão ganhar incubadoras de empreendimentos culturais. Como será essa iniciativa? Quais os benefícios desta ação para as localidades?

Implementadas por meio de convênio entre o Ministério da Cultura, governos estaduais e parceiros, como a OAB, entidades do sistema S e universidades públicas, as Incubadoras Brasil Criativo são espaços que funcionarão como centros de articulação, mapeamento e suporte aos empreendedores, artistas e profissionais criativos na criação, estruturação e elaboração de processos, produtos, modelos de negócios. As incubadoras irão oferecer consultorias nas áreas de gestão, assessoria jurídica e técnica e qualificação profissional, além de banco de dados e informações sobre o setor. O programa tem investimento direto superior a R$ 20 milhões, dos quais quase 50% serão aplicados em ações diretas de formação para os setores criativos.

Quais outras ações vem sendo desenvolvidas de forma bem sucedida nesta área que podem servir de exemplo para outros territórios?

Nosso desafio é o de identificar, promover e articular o debate e a formulação para a implementação de políticas públicas para o crescimento e o desenvolvimento local e regional dos setores criativos e culturais, que incluí a capacitação e assistência ao trabalhador e ao empreendedor dos setores criativos e culturais, o desenvolvimento de estudos e pesquisas e a articulação com entidades públicas e privadas consideradas estratégicos.

Como exemplos práticos da atuação efetiva da Secretária podemos citar o desenvolvimento de ampla parceria com o IBGE, que inclui a elaboração da conta-satélite da Cultura do Brasil, que vai sistematizar as informações, extraídas das outras contas nacionais sobre as atividades econômicas relacionadas aos bens e serviços de cultura, tais como a renda gerada nas atividades de cultura, emprego, investimentos e consumo.

Vale destacar também que a Ministra Marta Suplicy assinou, no fim de setembro, um amplo acordo de cooperação com o Sebrae para a realização de ações conjuntas visando estimular o desenvolvimento de pequenos empreendimentos culturais e criativos.

Diversos institutos e fundações empresariais têm investido em iniciativas que visam fomentar o empreendedorismo criativo, apoiando, por exemplo, pequenos empreendimentos culturais, gastronômicos e de turismo visando o desenvolvimento local de territórios brasileiros. Qual a importância destas iniciativas?

O apoio do investimento social privado aos empreendimentos criativos é de grande importância para consolidação da economia criativa. Estas iniciativas, de certa forma, complementam as políticas públicas de fomento já desenvolvidas. A diferença é que as ações na esfera governamental têm um caráter mais estruturante e de longo prazo, enquanto os institutos e fundações dão mais atenção a projetos de curto prazo com retornos econômico e social mais diretos.

De que forma o investimento social privado pode fomentar ainda mais o empreendedorismo criativo?

Acredito que evitando a dispersão dos poucos recursos financeiros disponíveis em uma grande quantidade de projetos. É desejável que esses recursos se concentrem em poucas iniciativas de larga escala de operação voltadas para a formação, a inovação e a geração de novos modelos de negócios e de organização associativa.

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