Secretário Nacional de Futebol comenta os benefícios da Copa do Mundo para o desenvolvimento do país
Por: GIFE| Notícias| 09/06/2014O redeGIFE entrevista Toninho Nascimento, secretário nacional de futebol e defesa dos direitos do torcedor do Ministério do Esporte. Em pauta, um balanço do salto de investimentos realizados pelo Brasil para a realização da Copa do Mundo de 2014. Entre outros assuntos, o secretário falou sobre como o evento pode alavancar o desenvolvimento do país e criticou uma certa inércia nos investimentos da iniciativa privada no esporte.
Muito além dos embates político-partidários, o tema faz parte de uma agenda altamente prioritária e serve para inspirar sociedade civil e investidores sociais para um movimento promissor em benefício do país. Depois de muita polêmica, a Copa do Mundo no Brasil virou uma realidade. O que vem depois é a grande questão. Confira a entrevista:
redeGIFE – Pra começar, gostaria de falar sobre o montante de recursos públicos que foram investidos diretamente no projeto de organização da Copa do Mundo no Brasil. Qual o valor aproximado?
Toninho Nascimento – O investimento da Copa do Mundo como um todo foi de R$ 25,6 bilhões. Lembrando sempre que o específico para a Copa (estádios, por exemplo) foram R$ 8 bilhões, dos quais R$ 4 bilhões são empréstimos do BNDES, dinheiro que volta para o Governo Federal. O restante (os R$ 4 bilhões) são investimentos da iniciativa privada, municípios e estados. Ou seja, são R$ 17,4 bilhões em obras de infraestrutura. Essas obras não precisavam ser feitas para a Copa. Mas, o governo resolveu antecipar o que seria feito no futuro.
Outra coisa que eu queria mostrar é que há uma falácia de que se não tivesse Copa teríamos hospitais e escola. Entre 2010 e hoje, período que começam os investimentos para o evento, o governo gastou em educação e saúde R$ 825 bilhões. Então, esses R$ 8 bilhões dos estádios equivalem a 1% do total gasto em saúde e educação. Ou seja, o gasto em estádios é 100 vezes menor que o que foi gasto em educação e saúde nesse período.
redeGIFE – Exatamente. Observamos nos últimos tempos a proliferação de uma ideia de que essa é a Copa mais cara de todos os tempos. Esse ideia procede?
Toninho Nascimento – A Copa não é cara, em função dos benefícios que traz. Evidente que uma Copa na Alemanha vai ser mais barata porque o país já tem infraestrutura construída. Outro argumento é que gastamos mais que a África do Sul. Mas, temos que ver que nós também temos um Produto Interno Bruto (PIB), uma economia maior que a deles. Isso nos permite fazer mais investimentos também. Eu lembro que nós gastamos nessa Copa metade do que a Rússia gastou nas Olimpíadas de inverno de Sóchi, agora em 2014. Temos que lembrar também que os investimentos mudam. O que era necessário antigamente para organizar um megaevento muda. Na última Copa, na África do Sul, não precisava ter a tecnologia 4G. Agora, precisa. A matemática, que não tem partido, mostra que perto do total os gastos são irrisórios. Mas, essa Copa é uma lição para as Olimpíadas e o Brasil futuro. Nós precisamos ser hexacampeões em organização também.
redeGIFE – De uma forma geral, como a organização de um evento do porte de uma Copa do Mundo pode alavancar o desenvolvimento do país?
Toninho Nascimento – Pode de várias formas. A gente entende que não é à toa que a Alemanha quis organizar, o Japão quis e agora vai fazer os jogos olímpicos depois dos do Rio, como a Rússia, em Sóchi. É uma forma de divulgação do país, de melhorar a imagem. Mesmo que apresentemos problemas do desenvolvimento, mostramos também que somos capazes de fazer um evento como a Copa do Mundo. Além disso, foi um gancho para uma série de investimentos em infraestrutura. Por causa da Copa e das Olimpíadas, o Rio ganhou Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), os aeroportos estão sendo melhorados e modernizados, além de outras obras de infraestrutura. É óbvio que nem tudo ficou pronto, um erro do governo. Mas, tudo vai ficar pronto até o final do ano. São obras que seriam feitas apenas daqui 30 anos e estão sendo feitas neste momento.
redeGIFE – O senhor acredita que a imagem do Brasil no exterior melhorou desde que o país foi anunciado como sede? Existe algum dado sobre a quantidade de turistas que o país deve receber durante o evento? Qual é a previsão de impacto no fluxo turístico para o país no médio e longo prazo?
Toninho Nascimento – O turismo é uma parte importante. A previsão inicial era de 600 mil estrangeiros para a Copa. Agora, podem chegar a 850 mil. Somam-se 1,1 milhão de turistas brasileiros. Para se ter uma ideia do que isso significa, em 2013, ano da Copa das Confederações, o Brasil bateu seu recorde de fluxo de turistas, foram seis milhões. A previsão é fecharmos este ano com sete milhões, novo recorde. Nunca houve uma procura tão grade pelo país. Só na Copa, o turismo deve movimentar R$ 25 bilhões na economia.
Na véspera de grandes eventos, há sempre um pessimismo em relação ao que vai acontecer. Em Londres foi assim, tinha previsão de caos urbano. A BBC tem estudo sobre Copas que mostra exatamente essa tendência de visão pessimista que normalmente muda depois do evento. Todos os estudos mostram que realizar um grande evento, como Copa ou Olimpíadas, dá um acréscimo de 0,25% a 0,5% no PIB. Economicamente, também é um ótimo investimento.
redeGIFE – Gostaria de falar dos ganhos em mobilidade urbana e tecnologia da informação que foram impulsionados a partir da organização do Mundial aqui no Brasil. Onde o país avançou nessas áreas?
Toninho Nascimento – Na mobilidade urbana (nisso nós incluímos aeroportos e portos), avançamos. Temos aí o aeroporto de Guarulhos e de Brasília como exemplos. O próprio Galeão, apesar dos percalços na inauguração, melhorou. Coisas que seriam feitas a longo prazo estão sendo feitas agora. Eu cito muito isso em Cuiabá. Lá estão ocorrendo obras de mobilidade urbana que não são feitas há 20 anos. As pessoas reclamam agora porque a cidade virou um canteiro de obras. Mas, elas vão ficar felizes quando as obras acabarem.
redeGIFE – Muito se fala de sondagens do Comitê Olímpico Internacional (COI) para tirar as Olimpíadas do Rio de Janeiro. O que você acha disso?
Toninho Nascimento – O COI não deve ter mais o que fazer. Em 2007, disseram a mesma coisa sobre a Copa… eles não devem ter mais o que fazer. Não dá para tirar do Rio, muito menos interessa para eles. A Copa do Mundo no Brasil é o maior faturamento da FIFA na história, por exemplo.
redeGIFE – Do ponto de vista social, o que podemos destacar como resultado da organização do Mundial no país?
Toninho Nascimento – Podemos destacar que vivemos em uma democracia. As manifestações pacíficas mostram que as pessoas tem cada vez mais consciência das coisas e isso é muito bom para a democracia. A FIFA e o Comitê Organizador Local (COL) talvez pensem que o Brasil vai ser uma virada em relação a isso. Mas, nossa preocupação no Ministério do Esporte é nacionalizar a Copa. Por isso, fizemos centros de treinamentos em vários lugares que não receberão a Copa, como Maceió. Nossa preocupação sempre foi de não restringir nem para o litoral, nem apenas para o Sul/Sudeste. Nós nacionalizamos a Copa, espalhamos investimentos em vários lugares do país.
Pequenas e microempresas irão movimentar R$ 280 milhões só neste período da Copa. Tem um exemplo que eu gosto muito de dar. Em Manaus, tem um bar que fica em cima de um morrinho perto do estádio, onde a seleção da Inglaterra vai jogar. A BBC alugou lá para fazer umas entradas ao vivo. Eles vão pagar R$ 100 mil para o dono. Quando o dono teria um faturamento como esse? Então, várias microempresas estão ganhando com a Copa. Ela também é o micronegócio.
redeGIFE – Quais as principais políticas públicas que foram pensadas a partir da organização da Copa no Brasil? O senhor pode destacar algum exemplo?
Toninho Nascimento – A massificação do esporte. Você investir em áreas que não vão estar na Copa, por exemplo.
redeGIFE – Muitas empresas e organizações sociais atuam com programas que usam o esporte como mecanismo de inclusão e desenvolvimento social. O senhor acredita que a prática esportiva realmente pode impactar a condição de vida em nosso país? E como a Copa do Mundo do Brasil pode impulsionar investimentos nesse sentido?
Toninho Nascimento – A Copa é um pretexto maravilhoso para o esporte como saúde, cidadania. Acho que a iniciativa privada é muito tímida em relação ao esporte. O Estado tem uma dívida muito grande em relação ao esporte. Mas, a iniciativa privada não apoia como deveria. A Lei de Incentivo ao Esporte por exemplo, é subutilizada. O esporte é tratado ainda como hobby, não um processo social. Espero que a Copa melhore essa relação.
redeGIFE – Que oportunidades o senhor vê para investidores sociais e ONGs que têm interesse em trabalhar com o que vem sendo chamado de “o legado da Copa”? Como criar um ambiente de parcerias intersetoriais em benefício do bem social?
Toninho Nascimento – A Lei de Incentivo ao Esporte e também não depender apenas do governo. A iniciativa privada precisa ser criativa, ativa, não usar o governo como justificativa. A culpa parece que nunca é da falta de planejamento ou qualificação dos quadros da iniciativa privada. É assustador ver o despreparo em relação à Lei de Incentivo ao Esporte. O dinheiro está lá, mas as empresas precisam se qualificar para pegar esse dinheiro. Muitas empresas não tem interesse em incentivar projetos de interesse esportivo. Temos uma visão muito distorcida do esporte no Brasil.
Entenda a Lei de Incentivo ao Esporte no site do Ministério.
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