Seminário discute inclusão de adolescentes e jovens no Ensino Médio

Por: GIFE| Notícias| 02/05/2016

“É fundamental perceber que não existe ‘um jovem’ brasileiro. O que temos são ‘juventudes’, influenciadas por suas respectivas vivências e realidades. Ou seja, dificilmente uma fórmula universal poderá ser aplicada com a mesma taxa de sucesso em todas as localidades do País. Os cenários são variados”. A fala da superintendente da Fundação Itaú Social, Angela Dannemann, aponta para algo essencial a ser levado em consideração quando o assunto é juventude e educação: é preciso olhar as suas especificidades e ouvi-los para que as soluções pedagógicas estejam alinhadas às suas expectativas. Afinal, caso isso não ocorra, o resultado pode ser abandono da escola.

“A metade dos jovens na América Latina saem da escola. Por quê? O interessante é que muitos pensam que eles se vão por causa da condição econômica, pressões da vida, virar adulto… Mas não: a principal razão para a evasão é porque não encontram sentido na educação (…). Isso implica uma discussão profunda no sistema escolar. Esse jovem está no sistema e para quê? Para o que aprendem? Que valor tem isso que estou aprendendo quando olho para a violência, a desesperança? Há muitos ‘desincentivos’, e os estudantes pensam: por que madrugo, por que vou com sono? Isso requer questões maiores da educação: não é só a melhoria. Aqui, temos que pensar em outro modelo escolar. Como podemos pensar em uma transformação para outro sistema escolar? Como passamos dessa escola cinza a uma escola cada vez mais colorida?”, questionou a educadora Rosa-María Torres Del Castillo, durante o Seminário Internacional sobre Inclusão de Adolescentes e Jovens no Ensino Médio.

O evento aconteceu nos dias 27 e 28 de abril, em Belo Horizonte (MG), a partir de uma parceria da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, Ministério da Educação, Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef, Fundação Itaú Social e Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária – Cenpec.

O tema do seminário não foi escolhido por acaso. Trata-se de um grande desafio para o país. Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios – Pnad 2011, apontaram que, de 2004 a 2014, o percentual de alunos matriculados no Ensino Médio aumentou de 47,5% para 59,5%, uma evolução maior que em anos anteriores. No entanto, cerca de 1,7 milhão de adolescentes entre 15 e 17 anos (16,3% da população nessa faixa etária) estão fora da escola.

Como ressaltou Rosa-María, o ensino “pouco interessante” tem provocado a evasão entre jovens de 15 a 17 anos. Uma pesquisa realizada em 2009 pela FGV/Ibre já apontava que cerca de 40% dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos abandonavam os estudos por considerar a escola pouco interessante. A necessidade de trabalhar aparecia em segundo lugar, com 27% das respostas. Sete anos depois, a publicação “Educação Integral: Juventude, Expressão e Participação”, do Portal Educação & Participação – coordenado pela Fundação Itaú Social e o Cenpec -, mostra que a juventude é cada vez mais questionadora e desafia conceitos que vão desde o teor do currículo escolar até a forma como os conteúdos são transmitidos.

“Não temos educação de qualidade. Sem estudo, não somos nada. Ao mesmo tempo que temos que refletir sobre os princípios básicos da democracia, o sistema educacional não nos dá voz. A Base Curricular está sendo discutida e não podemos participar diretamente dessa discussão”, relatou José Otávio Pantoja de Azevedo, do movimento Enegrecer, de Macapá (AP), durante o  Encontro Nacional de Redes de Adolescentes e Jovens, atividade que precedeu o Seminário Internacional.

Educação Integral

Uma das apostas para reverter esse cenário é promover uma educação de fato significativa e integradora. Angela Dannemann trouxe esse tema para o debate na sala temática “Educação Integral e Juventude” do evento. Ela apresentou a experiência do Programa Jovens Urbanos em Minas Gerais, realizada pela Fundação em parceria com a Secretaria Estadual de Educação e coordenação técnica do Cenpec. O objetivo do Programa é promover processos de formação ampliada e de geração de oportunidades para a juventude, sob a perspectiva da Educação Integral.

A proposta do Programa Jovens Urbanos em Minas Gerais é contribuir para elaboração da política de Educação Integral para o Ensino Médio e para a construção de modelos que considerem as particularidades regionais, o perfil da população (urbana, rural, indígena, quilombola, jovens que cumprem medida socioeducativa, etc) e a expectativa desses estudantes.

“Educação Integral para juventude deve considerar as especificidades dessa faixa etária, que está em fase de transição para o mercado de trabalho. O projeto precisa pensar o território, envolver os equipamentos públicos e alcançar a juventude onde ela estiver, não apenas entre os muros da escola”, avalia Angela.

Em 2016, dez escolas estaduais de Belo Horizonte, Vespasiano, Contagem, Nova Lima, Ribeirão das Neves e Santa Luzia integrarão o projeto piloto de implementação do Programa. O mapeamento das escolas começa neste mês, para que em junho seja realizado o Plano Participativo, onde a comunidade escolar terá voz para definir os temas e linguagens mais adequados às unidades escolares participantes.

A partir de agosto, terão início as atividades denominadas “experimentações”, oficinas que colocam os jovens em contato com diversas tecnologias, linguagens e estilos profissionais, ampliando seu repertório e os engajando na realização de um produto final: uma intervenção na comunidade onde vivem. Cada escola contará com quatro especialistas em tecnologias sociais para atender aos projetos, que serão realizados em 30 horas. No final, haverá um encontro público nas unidades para que toda a comunidade conheça as intervenções.

No ano passado, foram realizadas duas experimentações em escolas de Belo Horizonte. Na escola Laudieme Vaz de Melo, no bairro União, foram promovidas oficinas de dança, música, teatro e grafite. Já a escola Celso Machado, bairro Milionários, recebeu as propostas de dança, fotografia, teatro e grafite. “As oficinas são uma parte do processo. Para isso, os jovens são estimulados a circular pelas áreas urbanas, explorando espaços e experimentando novas formas de expressão”, explica Angela.

 Estão previsto encontros formativos para superintendências regionais, assessores pedagógicos, diretores e coordenadores de educação integral, assim como a realização de pesquisa sobre as condições de implementação de programas de educação integral nas escolas públicas mineiras. A sistematização do trabalho e da pesquisa resultará em um livro-itinerário, que possa ser instrumento para a disseminação junto aos profissionais da rede estadual de educação. “A sistematização é importante para a transferência de conhecimento e para a continuidade das propostas”, pondera a superintendente da Fundação Itaú Social,.

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