Setor privado é co-responsável, dizem escritores

Por: GIFE| Notícias| 27/08/2007

Rodrigo Zavala

O Seminário Prazer em Ler de Promoção da Leitura, realizado na última semana, em São Paulo, tinha um grande desafio para os seus três dias de atividades. Afinal, como fomentar o debate sobre as práticas de promoção da leitura literária para crianças e jovens brasileiros, população esta que lê pouco, mal e, muitas vezes, não entende o que leu?

Promovido pelo Instituto C&A e a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (Fnlij), o evento reuniu 620 pessoas, entre autores celebrados como Ana Maria Machado e Teresa Colomer, pesquisadores acadêmicos e, claro, educadores dispostos a rever suas práticas em sala de aula.

Como pano de fundo para essa discussão, a pesquisa Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (Inaf), realizada pelo Ibope, é oportuna. Ao identificar a capacidade de leitura e escrita da população brasileira, aponta que apenas 26% dos brasileiros acima dos 15 anos têm domínio pleno das habilidades de leitura e de escrita. Outro dado é ainda mais assustador; segundo a Câmara Brasileira de Livros, o brasileiro não lê sequer dois livros por ano

“”Em vez de falar para as crianças mandarem cartas aos autores, melhor seria que todos escrevessem ao prefeito, ao secretário de Educação e aos vereadores exigindo sua inclusão digital. Isso, sim, é ensinar os alunos a escrever com um propósito cidadão e lógico””, afirmou Ana Maria em sua palestra.

No frigir dos ovos, a escritora discute algo simples: como estimular a leitura sem cair em armadilhas que levam a um efeito oposto. Segundo o presidente do Instituto C&A, Paulo Castro, o próprio professor não tem experiências pessoais com a literatura e que, por isso, é necessário um processo contínuo de formação que dê conta de aparar essas arestas.

O trabalho permanente, portanto, tornou-se a preocupação do instituto, que, em 2006, criou o programa Prazer em Ler, do qual o seminário faz parte. Em seu primeiro ano, a iniciativa formou em mediação da leitura para cerca de 930 educadores de 75 instituições, que atendem cerca de 24 mil crianças, adolescentes e jovens. “”Ao ser tocado, o professor passa a mobilizar seu entorno””, acredita Castro.

Por meio de parcerias intersetoriais, o instituto prioriza alunos da rede pública de ensino. “”É um dilema para o professor – principalmente o de escolas municipais e estaduais – escolher que livro indicar para a turma. Afinal, muitos ainda carecem tornarem-se leitores, pois chegam ao nível médio com um letramento inadequado””, considerou a coordenadora do Curso de Pós-Graduação em Letras e do Centro de Pesquisas Literárias da PUC-RS, Regina Zilberman, uma das maiores especialistas em literatura infanto-juvenil.

No entanto, o grande destaque do seminário foram realmente os autores, que emocionaram o público com relatos pessoais sobre como a leitura é um transformador de vidas. Nos três dias de palestras, o que grande parte do público pôde perceber é que finalmente as paredes entre a obra, autor e leitores haviam caído.

A pedido do GIFE, os escritores presentes no evento falaram sobre como as iniciativas sociais podem contribuir para o fomento da leitura no país. Veja abaixo o que eles disseram:

“”Sem a ajuda, apoio e patrocínio do investimento social privado nunca vamos transformar o Brasil num país de leitores. As empresas têm que acreditar nisso e ajudar a mudar a realidade.

Toda a iniciativa que promova a leitura já é positiva por si só. Se as instituições, como Instituto C&A, puderem ter um aporte financeiro que apóie outras organizações é melhor ainda. Não basta apenas apoiar financeiramente é preciso ter envolvimento nos projetos””.
Daniel Munduruku

“”O investimento é fundamental para ajudar a promover a leitura no Brasil. Além da atuação do governo, as empresas também têm o dever de ajudar a sociedade, principalmente na promoção da área da cultura””.
Luiz Raul Machado

“”Acredito que para melhorarmos a sociedade precisamos fomentar a leitura. A formação de leitores é responsabilidade de todos. Claro que boa parte das medidas são tomadas pelo governo, mas as empresas também têm que participar””.
Xosé Antonio Neira Cruz

“”Chegamos em um momento em que todo esforço deve ser despendido para mobilizar o sujeito para uma vida mais digna. Promover a leitura não é tarefa única da educação. Somos todos responsáveis””.
Bartolomeu Campos de Queirós

“”O investimento social privado é muitíssimo importante para ajudar a desenvolver o país. O acesso à leitura é um direito de todos e esta não é apenas uma responsabilidade do Estado, mas também do setor privado e de toda a sociedade civil””.
Silvia Castrillón

“”Mais importante é que, para as duas entidades, as ações voltadas à valorização do trabalho com livros por professores, em escolas ou em unidades de ensino, está em primeiro lugar. É, pois, um objetivo que beneficia amplamente a sociedade brasileira, com resultados que favorecem a todos, sejam adultos ou crianças, professores ou alunos, escritores ou pesquisadores de literatura.””
Regina Zilberman

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