Sociedade civil ajudará Ibase a monitorar empresas

Por: GIFE| Notícias| 27/02/2006

RODRIGO ZAVALA
redeGIFE

O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) implementou regras mais rígidas para a obtenção do Selo Ibase/Betinho que certifica as ações de responsabilidade social de empresas. A nova proposta estabelece que organizações sociais, tal como a população em geral, deverá dar legitimidade às práticas empresariais antes de receber o aval do instituto.

Na prática, o Ibase submeterá os balanços sociais das empresas para análise de organizações da sociedade civil das áreas de direitos trabalhistas, meio ambiente, defesa do consumidor, diversidade de gênero e movimento negro. Concomitante a esse trabalho, as informações prestadas pelas empresas ficarão disponíveis também para qualquer pessoa fazer críticas ou denúncias a partir do endereço eletrônico www.balancosocial.org.br.

O Ibase, fundado pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, formulou um dos modelos mais difundidos de balanço social de empresas no Brasil. Ao todo, 68 empresas possuem o selo que atesta boas práticas e padrões éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas, poder público e com o meio ambiente.

Segundo o coordenador de responsabilidade social e ética do Ibase, Ciro Torres, a proposta leva em conta a dificuldade em monitorar o cumprimento dos indicadores de responsabilidade social impostos pelo instituto. O selo, explica, era entregue antes da divulgação oficial do balanço social e o instituto tinha que checar se não havia equívocos nas informações apresentadas.

“”Agora, viramos a mesa. As empresas devem provar o que fazem antes de receber o selo. A sociedade civil faz as denúncias e críticas e nós apuramos. Se houver fundamento, não há selo””, explica Ciro Torres. Dessa forma, o coordenador espera também difundir melhor os conceitos de responsabilidade social empresarial pela população.

No entanto, algumas empresas que anualmente apresentam seus balanços e garantem o selo possuem preocupações com as mudanças. Um exemplo é o Banco do Brasil, que desde 1998 é atestado pelo Ibase como empresa socialmente responsável.

Antonio Sergio Riede, gerente executivo de Responsabilidade Sócio-Ambiental do banco, faz críticas a dois pontos das novas regras: a consulta pública, em que as empresas não poderão responder às denúncias ou críticas, e ao fato de que o Ibase não atestará o balanço social, assim que este é divulgado.

“”Embora acreditemos que a participação social seja sempre positiva, ampliando a transparências das ações empresariais, como as pessoas poderão saber se as denúncias têm fundamento? Em outro ponto, quando o selo é dado a posteriori, o que atestará a legitimidade do balanço social? O que adianta ter um selo em agosto, quando divulgamos o balanço no início do ano?””, questiona.

As perguntas de Riede se baseiam em preocupações claras: o selo, com validade anual, não pode ser mencionado no ano seguinte. “”Perde-se o timming e o selo se torna extemporâneo. A atratividade dele passa a ser bem menor para as empresas””, argumenta.

As dúvidas não são compartilhadas pela diretora do Instituto Pão de Açúcar, Rosangela Bacima Quilici. Ela entende que o IBASE teve uma ótica global e “”bastante abrangente””, na medida em que confere a todos estes atores sociais sua parcela de responsabilidade. “”A grande receita para um futuro promissor é envolver todos os atores da sociedade nos compromissos emergenciais. As organizações da sociedade civil devem ter o papel de interlocução e pró-atividade junto aos demais atores sociais””, afirma.

De acordo com Rosangela, o tema da responsabilidade social vem sendo sistematicamente repetido pelas empresas, apontado como tendência entre aquelas que irão se diferenciar e se manter produtivas e rentáveis ao longo do tempo. “”Mas temo que esta seja mais uma daquelas boas idéias de forte impacto, mas sem a maturidade necessária para se transformar em algo mais que um simples modismo do discurso empresarial.””

Essa é uma das razões, segundo Ciro Torres, do Ibase, para as mudanças normativas do instituto. “”Há cerca de 500 empresas fazendo seu balanço social. Está na hora de diferenciar quem é quem nesse meio””, acredita.

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