Sociedade civil organizada deve apoiar cobertura da imprensa

Por: GIFE| Notícias| 15/09/2008

Rodrigo Zavala
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A pergunta foi pontual: a grande imprensa tem como política mostrar as propostas dos movimentos sociais para as eleições municipais? A resposta dada pelos especialistas convidados ao Diálogos da J-Aliança, foi um sonoro não, seja para questões locais, seja para políticas nacionais.

O evento, promovido pela Aliança Internacional de Jornalistas, em São Paulo, no entanto, não pode ser considerado pessimista. Jornalistas como Florestan Fernandes Jr., diretor do Departamento de Jornalismo da TV Brasil, Antonio Martins, do Le Monde Diplomatique, Verônica Goyzueta, presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros e Guto Camargo, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de SP, mostraram como é importante a sociedade civil organizada apoiar a mídia na busca pela imparcialidade e objetividade.

Segundo eles, apenas com o apoio de movimentos sociais será possível uma cobertura mais transparente, não apenas para as eleições, mas para uma gama variada de assuntos. “”A última eleição presidencial foi a primeira vez que a sociedade civil respondeu imediatamente à manipulação de dados feita pelos grandes meios de comunicação””, lembrou Florestan Fernandes.

O diretor da TV Brasil acredita que as emissoras de TV e rádio, tal como a imprensa escrita, têm interesses políticos e econômicos para defender ou rechaçar um determinado candidato ou político (e sua plataforma). “”Imprensa livre no Brasil é um sonho””, afirmou.

A conseqüência direta dessa ação, além do benefício ao político, é dar as costas ao bem público em prol de interesses privados. É nesse ponto que organizações sociais podem pressionar para que essas relações sejam mais claras.

Por outro lado, as decisões sobre o que publicar ou não dependem da estrutura hierárquica da própria empresa de comunicação, relegando ao jornalista-repórter um papel muito pequeno na edição do material. “”Existe uma relação de poder assimétrica entre o meio de comunicação e o jornalista, que deve fazer o que a direção impõe””, criticou Guto Camargo.

Nesse contexto, a articulação com movimentos sociais levaria a uma dupla vantagem: fortaleceria a figura do repórter, ao mesmo tempo em que forneceria mais dados e informações para a produção de matérias. Isto é, legitima o jornalista e melhora a qualidade de seu trabalho.

Em uma visão mais prática, é possível dar como exemplo as propostas dos candidatos. “”Qual é o trabalho da imprensa? A cobertura deve mostrar se determinada promessa é possível de ser implementada. Sobre como as organizações locais vêem os projetos e os impactos nas regiões beneficiadas””, argumentou Verônica Goyzueta.

No entanto, as relações entre movimentos sociais e imprensa não são simples. A complexidade da utilização de informações, principalmente em ano eleitoral, assombra as redações. “”Dar voz à sociedade civil pode ser interpretado como campanha contra, de forma eleitoreira””, avaliou o diretor do Núcleo de Sorocaba da Aliança Internacional de Jornalistas, Hélio Rubens.

Antonio Martins, do Le Monde Diplomatique, questionou também a motivação do próprio jornalista. “”Ainda é pouco destacada a rede de organizações da sociedade civil””. Ele apontou como exemplo a cobertura da mídia sobre a redução dos índices de criminalidade no bairro Jd. Ângela, zona Sul de São Paulo.

Depois que o Jardim Ângela foi considerado a região mais violenta do planeta, iniciou-se ali, em 1996, uma mobilização liderada pelo padre irlandês Jayme Crowne. Surgiu o Fórum de Defesa da Vida, que aglutina centenas de entidades. Dessa pressão, foram criadas ali cinco bases de policiamento comunitário. Como os policiais tinham de conviver com a população, ganharam confiança e receberam informações sobre quem eram e onde estavam os criminosos. O resultado: sua taxa de homicídios caiu em 75%, entre 1991 e 2005.

“”Quase não há cobertura da grande imprensa sobre essas redes sociais. O que se vê são os dados da Secretaria de Segurança Pública””, criticou Martins.

São Paulo

Durante o evento, a jornalista Luanda Nera, uma das responsáveis pela área de comunicação do Movimento Nossa São Paulo, mostrou como é possível trabalhar para melhorar a cobertura jornalística. A iniciativa, que reúne cerca de 500 organizações da sociedade civil, lançou no início deste ano o Observatório Cidadão.

Trata-se de 158 indicadores econômicos e sociais da cidade com resultados divididos resultados entre as 31 subprefeituras da capital. A análise dos dados levou a outra proposta do movimento: cerca de 1.500 propostas de governo entregues aos candidatos à Prefeitura de São Paulo.

As propostas foram apresentadas pelas organizações da sociedade civil que participaram de uma série de debates que duraram quatro meses. O documento não aponta quais devem ser as prioridades da próxima gestão, mas relaciona as idéias levantadas pela própria sociedade.

Embora o princípio da proposta seja mais transparência e controle social, as possibilidades para a cobertura de imprensa são ilimitadas. Ao mesmo tempo em que reúne dados sobre o município, o movimento torna-se uma espécie de guia de fontes na hora de elaborar a matéria.

“”Fazemos um trabalho didático com jornalistas que buscam essas informações. Mastigamos os dados para eles usarem nas matérias. Muitas vezes, os direcionamos para as pautas mais importantes””, afirmou Luanda.

Em tempo: o movimento já conseguiu, no ano passado, a aprovação na Câmara Municipal de uma emenda à Lei Orgânica do Município que determina que todos os prefeitos apresentem, no primeiro trimestre da gestão, um plano de metas quantitativas para cada setor e para cada subprefeitura.

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