Sucesso de um projeto social depende de planejamento sólido

Por: GIFE| Notícias| 11/08/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A preocupação com o planejamento é intrínseca ao conceito de investimento social privado e um dos elementos fundamentais na diferenciação entre essa prática e as ações assistencialistas. Foco do terceiro módulo do curso Ferramentas de Gestão, promovido pelo GIFE nesta semana, em Curitiba (PR), planejamento e elaboração de projetos são fundamentais na gestão de organizações do terceiro setor.

De acordo com Thereza Cristina Holl Cury, especialista na área, um planejamento bem-feito incide diretamente no aumento da eficácia e da efetividade dos resultados. “”São os objetivos e as metas que irão orientar a ação social. Assim, é preciso que eles sejam muito claros, bem delimitados e compreendidos pela equipe do projeto, pelos parceiros e pelos beneficiários da ação. Além disso, um objetivo bem elaborado se refletirá diretamente na construção e na definição de bons indicadores, que possibilitarão um bom sistema de avaliação.””

Clareza e definição com relação ao público-alvo, às estratégias, ao foco e aos resultados esperados também devem ser levados em conta pelas organizações. Além disso, é preciso saber o que fazer, quanto será gasto e quando será feito o projeto, assim como planejar os indicadores e os instrumentos de verificação mais adequados para medir os resultados.

Thereza explica que elaborar um projeto social, que seja realmente transformador e emancipador, exige o domínio não só de capacidades técnicas, mas também competência ético-política, conceitual e valorativa.

“”O planejamento começa com o diagnóstico, que é o fundamento, o alicerce do projeto. Compreender e explicar uma realidade não é tarefa fácil. Para traçar um bom diagnóstico é preciso compreender o outro e seu ponto de vista, quais os interesses e desejos dos diferentes envolvidos. Isso exige sensibilidade, capacidade de articulação e uma boa dose de humildade, além de conhecimento, informação, recursos e tempo disponíveis””, afirma Thereza.

Participação – Laura Brasileiro, gerente da Fundação BankBoston, concorda que o alinhamento de expectativas entre financiadores, parceiros executores e comunidade é um dos aspectos fundamentais na elaboração dos projetos.

“”No começo, a construção era interna e hoje ela é mais coletiva. Envolver a comunidade foi algo que vimos ser a melhor forma de atuar. Fazemos diversos encontros para que a população atendida possa incorporar suas visões e impressões””, conta Laura.

Na Fundação Telefônica, todo o processo de elaboração de projetos também é interativo. “”Estamos sempre ouvindo sugestões e temos um conselho consultivo, formado por especialistas e representantes da comunidade e do governo local, como forma de trazer essas demandas e responder a elas””, explica Sérgio Mindlin, diretor-presidente da organização.

Ele conta que, desde o início das atividades da fundação, havia consciência de que o processo de elaboração de projetos devia ser estruturado. “”Mas logo nos primeiros meses, não tínhamos condições materiais e equipe para implementar isso. É um processo complexo. A questão primordial é dar o foco e escolher no que queremos atuar. Depois, pensar em estratégias de operação e parceiros e identificar as organizações que podem operar o projeto.””

Conhecimento – Thereza alerta para o fato de que muitos projetos, ainda hoje, reclamam uma leitura mais densa do real. “”Não basta ter vontade. É preciso mais conhecimento e informação, criatividade, imaginação, ousadia e sensibilidade para as respostas aos problemas públicos. É necessário trazer para nossa prática diária o conceito de diversidade cultural. Precisamos perceber as heterogeneidades envolvidas, as diferentes subjetividades presentes, as necessidades, os desejos e os interesses escondidos.””

Álvaro Machado, presidente da Fundação Belgo-Mineira e conselheiro do GIFE, aponta a falta de informação como uma das principais dificuldades no planejamento de projetos. “”Não existem estatísticas confiáveis ou específicas sobre os temas dos projetos. Falta literatura ou documentação sobre experiências anteriores e seus resultados e há a necessidade de ambientação ao contexto brasileiro de iniciativas levadas a cabo no exterior.””

No planejamento de seus projetos, a Fundação Belgo-Mineira conta com gerentes internos e consultores externos. Machado conta que, no início, as pessoas simplesmente transferiam sua experiência do mercado para projetos do terceiro setor. “”Hoje, a própria vivência de gerenciamento dos projetos e de interação com as populações atendidas, as diversas capacitações feitas sobre projetos sociais, a presença constante em seminários e fóruns que tratam das questões sociais e do investimento social privado têm permitido a essas pessoas uma diferenciação em relação a projetos do setor mercado.””

Empresas – Para Luiz Sérgio Cardoso Oliveira, diretor superintendente do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa, muitas coisas podem ser aprendidas no processo de elaboração de projetos da empresa e transferidas para os projetos sociais. “”Há a preocupação com o custo-benefício, utilização de critérios objetivos e foco. O trabalho social deve ser emocionante, não emocional””, afirma.

Laura, da Fundação BankBoston, lembra que as empresas costumam criar procedimentos para atingir praticidade, rapidez, metodologia e alcance de resultados muito claros. “”Isso acaba nos sendo útil, já que se estamos nesse ambiente e acabamos incorporando parte dessa metodologia.””

Sérgio Mindlin acredita que projetos de uma organização social criada e mantida por uma empresa apresentam semelhanças por terem objetivos explicitados, com etapas delineadas e metas intermediárias bem definidas. “”Estruturamos projetos que têm desembolsos feitos na medida em que as etapas elas vão sendo cumpridas, muito à semelhança do que se faz num projeto de implantação de uma unidade produtiva.””

A principal diferença, segundo ele, está na avaliação dos resultados e dos benefícios a serem obtidos. “”Quando falamos de melhorias na qualidade de vida é muito mais difícil quantificar os resultados. Outra diferença está na forma de interação com as organizações que implementam esses projetos e que acabam repercutindo na estrutura de planejamento e acompanhamento desses projetos.””

Para Álvaro Machado, outra grande diferença entre projetos empresariais e sociais é o tempo. “”A elaboração e a implementação de projetos para a empresa são mais rápidas, pois prevalece a lógica da hierarquia, do controle e da busca de resultados em prazos estipulados. A lógica do terceiro setor é a do compartilhamento, do consenso, da busca da aceitação e do comprometimento por parte do outro, o que nem sempre ocorre na velocidade desejada.””

De acordo com Thereza, um pressuposto para o bom planejamento é compreender algumas diferenças essenciais existentes entre as esferas sociais e de mercado. Ela explica que é preciso desenvolver a capacidade de gestão compartilhada entre agentes governamentais, organizações da sociedade civil e a iniciativa privada, desenvolvendo projetos articulados, mas também é necessário compreender algumas diferenças essenciais existentes entre a esfera pública e a esfera privada.

“”Por sua natureza e objetivos, a esfera pública tem especificidades que, muitas vezes, não estão sendo levadas em conta. Metodologias e técnicas da esfera privada vêm sendo transplantadas, mecanicamente, para a esfera pública. É preciso adequá-las, o que nem sempre é feito.””

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