Surdez em bebês: a importância do diagnóstico e intervenção precoces

Por: Fundação FEAC| Notícias| 15/08/2022

As famílias são um elo fundamental em todo esse processo. Um dos vetores do projeto é trabalhar com as mães a aceitação da deficiência e o “luto” do filho idealizado.

Uma equipe da Associação de Pais e Amigos de Surdos de Campinas (Apascamp) formada por pedagogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas, psicólogas e assistente social está oferecendo um novo atendimento a crianças de 0 a 3 anos que apresentem suspeitas de deficiência auditiva. O objetivo é que elas passem por uma avaliação efetiva, recebam um diagnóstico e sejam encaminhadas ao tratamento.

Iniciado em junho, o serviço tem duração de 12 meses e já conta com 16 bebês participantes. A iniciativa é financiada pela Fundação FEAC, por meio do projeto “O cuidado da intervenção precoce na primeira infância”, desenvolvido pela Apascamp e aprovado em edital aberto pela FEAC.

O serviço multidisciplinar tem três focos: a estimulação precoce dos bebês por meio de atividades lúdicas e sessões de fonoaudiologia; a investigação do diagnóstico junto a especialistas em cada caso; e o suporte para a mãe e família, com apoio terapêutico e assistência social.

“O acompanhamento de uma equipe qualificada nessa fase tão importante da vida da criança pode contribuir significativamente para o seu desenvolvimento. A orientação e o apoio oferecidos à família são fundamentais para que elas se tornem parte desse processo, e por meio de sua participação ativa, potencializem seus resultados”, avalia Viviane Machado, líder do Programa Mobilização para Autonomia, da FEAC.

Ampliando a atenção aos bebês

Até então, no município, o atendimento especializado em surdez voltado a essa faixa etária se restringia à Triagem Auditiva Neonatal, mais conhecida como o “teste da orelhinha”, realizado na audiologia clínica após o nascimento. “Na Apascamp, nós atendemos crianças da educação infantil até adolescentes do ensino médio, porém nós não temos atendimento de bebês, exceto para o teste da orelhinha”, explica a pedagoga e coordenadora do projeto, Cenira Gums.

E foi pensando nisso e conversando com outras profissionais que surgiu a ideia de criar um serviço multidisciplinar focado na estimulação precoce para bebês com deficiência auditiva. “É um projeto inovador, específico para estimulação na deficiência auditiva, aceitando outras comorbidades. Hoje existe atendimento de estimulação precoce inserido em outros programas. O nosso é só voltado à estimulação”, explica a coordenadora.

Muitos bebês chegam ao serviço com a queixa da mãe de que não reagem a barulhos e não respondem quando são chamados, mas sem um diagnóstico conclusivo. Então, já se iniciam os trabalhos – com o bebê e com a família – buscando melhorias na qualidade de vida, enquanto é realizada paralelamente a investigação para se alcançar um diagnóstico mais preciso.

Em busca do diagnóstico e aceitação

As famílias são um elo fundamental em todo esse processo. Um dos vetores do projeto é trabalhar com as mães a aceitação da deficiência e o “luto” do filho idealizado. “Quando vem um diagnóstico que vai contra aquilo que a gestante esperava, também vem o luto pela perda do filho idealizado”, diz a psicóloga Letícia Hofstatter. 

Ela explica que o tratamento com as mães começa quando elas chegam. Para fortalecê-las individualmente são realizadas sessões individuais, para entender melhor a demanda de cada uma, e sessões em grupo, que permitem a troca de experiências entre as mães e discussão de situações e dúvidas que vão surgindo. “O grupo permite a identificação com os seus pares, e isso é uma poderosa força social que uma mãe dá a outra”, aponta a especialista.

Tales e Raoni: o desafio da fala

Quando soube do serviço, a engenheira Edvânia Santa Rosa Elis, 33 anos, levou o filho Raoni, 3 anos, para participar da triagem. Ele tem uma deficiência auditiva, que ela percebeu logo nos primeiros meses, ao notar que ele não reagia a barulhos altos e nem sempre respondia quando era chamado. Isso retardou o aprendizado das primeiras palavras, o que, por sua vez, dificultou a interação de Raoni na creche.

Desde junho ele frequenta o projeto na Apascamp. “O atendimento integral e o acompanhamento ajudam no desenvolvimento dele. Além disso, o espaço colorido e cheio de brinquedos e estímulos sonoros e visuais desperta o interesse e a atenção”, diz Edvânia, que ainda aguarda um diagnóstico conclusivo para o filho.

Tales, 3 anos e um mês, tem síndrome de Down e chegou ao projeto devido a uma suspeita de deficiência auditiva que também dificultou o início da fala. “Ele está aprendendo a se expressar aqui e já percebo melhora no comportamento. Isso é importante para que ele possa voltar a frequentar a creche”, diz a mãe, Giovana, 26 anos.

Quanto mais cedo, melhores resultados

O grande desafio nessa fase até os 3 anos é justamente prepará-los e contribuir para um melhor desenvolvimento nesse processo de aprendizagem, olhando para o que é esperado nessa faixa etária, mas respeitando sempre as características de cada criança. Muitas vezes o bebê tem condição de vocalizar as primeiras palavras se for estimulado, mas sem o diagnóstico auditivo e um trabalho especializado a própria interação familiar com o bebê fica prejudicada e impede que ele avance em um ponto que ele tem capacidade de avançar. E esse obstáculo cria outros.

“Nessa fase, o cérebro infantil está em desenvolvimento, os neurônios estão ali sempre novos e em formação. E quando nós começamos a estimulação na primeira infância, conseguimos avançar no que está preservado, e melhorar o que está alterado ou disfuncional”, diz Letícia Hofstatter.

A psicopedagoga Alessandra Sancinette do Amaral, especializada em educação infantil, conta que ela verifica em sua experiência, que quanto antes essa intervenção ocorre junto aos bebês, maior a facilidade em superar atrasos no aprendizado. “O que permite que a criança esteja mais preparada e tenha uma melhor experiência na hora da escolarização”, diz Alessandra.

Ela exemplifica com um exercício simples: dar um brinquedo dentro de uma caixinha fechada para uma criança de 2 anos abrir. “É uma forma de ir criando autonomia, algo que nós valorizamos muito nessa fase. Com os bebês a gente trabalha um mínimo de autonomia. E tentamos passar isso para as mães. Pode demorar, mas o bebê vai abrir a caixa e conquistar essa autonomia. Com isso, também se desenvolve controle motor, para quando chegar na escola, estar mais preparado para aprender a escrever”, ensina.

O projeto ainda tem algumas vagas. Interessados podem obter mais informações sobre o acesso ao atendimento pelo site da instituição e em seu perfil no Instagram.

Surdez em bebês: como identificar?

  • O bebê parece disperso, desatento e no seu “próprio mundo”.
  • Não reage a sons de campainha, latidos de cachorro ou telefones tocando.
  • Não responde a chamados e apresenta atrasos no desenvolvimento da fala.
  • Não tenta imitar nem repetir sons e palavras.
  • Não aprende comandos simples como dar tchau, menear a cabeça para dizer não e mandar beijo.

Por Natália Rangel

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