Tecnologias da informação e comunicação (TICs) podem ser aliadas na gestão eficiente das organizações

Por: GIFE| Notícias| 21/05/2012

* Daniele Próspero – especial para o rede GIFE

As tecnologias da informação e comunicação, as chamadas TICs, têm transformado, nas últimas décadas, todos os setores da sociedade, mudando as relações entre as pessoas, a maneira de se fazer negócios, estabelecer parcerias, compartilhar e buscar informações. No terceiro setor, elas também podem ser fortes aliadas em busca de novas formas de gerir os projetos, com mais eficácia e transparência, garantindo maior aproximação entre os diferentes atores sociais.

“As organizações que têm mais sucesso atualmente são aquelas que conseguem se apropriar das mídias sociais de uma maneira mais eficiente. As tecnologias são hoje aliadas para uma gestão eficiente”, destaca Valter Cegal, diretor de Operações da ATN (Associação Telecentro de Informação e Negócios). No entanto, segundo Cegal, as organizações da sociedade civil ainda não se deram conta do grande potencial das TICs, muitas vezes por falta de conhecimento ou recursos escassos, devido aos altos custos de diversas tecnologias.

Para trazer novas oportunidades de uso das tecnologias para as organizações, a ATN, em parceria com a TechSoup Global, disponibiliza a plataforma TechSoup Brasil, uma iniciativa que ajuda organizações sem fins lucrativos a obter produtos e recursos tecnológicos. A principal tarefa da plataforma é a doação de licenças de software para as entidades que desenvolvem projetos sociais. A TechSoup Brasil conta com parceiros como a Microsoft, Symantec e SAP que disponibilizam seus produtos para doação.

Desde 2009, quando foi criada, a plataforma já disponibilizou 31 mil licenças de softwares para 1400 organizações registradas, o equivalente a mais de 12 milhões de dólares de doações. De acordo com o diretor da ATN, a demanda vem aumentando gradativamente. Para participar, a organização se cadastra no site e disponibiliza algumas informações, como CNPJ e Estatuto. A equipe responsável faz uma análise a partir dos critérios de elegibilidade de cada parceiro. A Microsoft, por exemplo, não permite a doação a partidos políticos ou com vínculos governamentais. Após esta avaliação, as organizações elegíveis são comunicadas via e-mail e já podem acessar novamente a plataforma para fazer “as suas compras”.

Estão disponíveis diversos softwares, como Windows, Microsoft Office e Norton Antivírus. A organização pode solicitar, a cada dois anos, 10 novos produtos com 50 licenças de uso de cada. No portal, a organização faz o controle das solicitações. Segundo Cegal, o processo de pedido de doação feito diretamente pela organização junto a estas grandes empresas parceiras, demoraria meses para se concretizar. Na plataforma, todo pedido tem um tempo máximo de duas semanas.

Cegal destaca que o problema, muitas vezes, é anterior, ou seja, a falta de conhecimento sobre qual tecnologia é a mais adequada para as suas necessidades. Por isto, a equipe da ANT também orienta as organizações interessadas, caso seja solicitado um apoio na definição das tecnologias. “As ONGs carecem de profissionais especializados em TI (tecnologias da informação). Elas contam, normalmente, com voluntários ou pessoas terceirizadas que são chamadas apenas em momentos específicos. Desta forma, acabam não se apropriando da tecnologia, o que dificulta muito”, comenta, enfatizando que, para dar conta destes desafios, a ANT está organizando também um banco de dados com contados de especialistas locais, que possam dar suporte para as ONGs em suas cidades.

Outra tecnologia que vem colaborar com a gestão das organizações é STM (Social Tech Management), uma plataforma desenvolvida pelo Grupo META e a organização Parceiros Voluntários . De acordo com seus criadores, a STM gera informações que auxiliam a empresa usuária na tomada de decisões em relação ao seu investimento social.

Trata-se de um modelo de gestão que automatiza grande parte das demandas, de forma a dar visibilidade e transparência às informações, direcionamento adequado aos projetos sociais e formatar um banco de dados confiável e útil para geração de balanços sociais e planejamento estratégico. A ferramenta foi apresentada no 7º Congresso do GIFE – Novas Fronteiras do Investimento Social, em São Paulo.

Segundo Juliano Korff, vice presidente da Parceiros Voluntários, por meio da ferramenta, o gestor terá visões da entrega do trabalho social. “Quando a empresa precisar entrar em concorrências ou licitações, por exemplo, terá material organizado e classificado com informações consolidadas e contabilizadas”, diz.

Mapeamento do setor

Mas, afinal, de que forma as organizações têm utilizado as novas tecnologias? Elas têm acesso aos recursos tecnológicos disponíveis? Quais os desafios que enfrentam? Para trazer respostas a estes questionamentos, é que o Centro de Estudos das Tecnologias da Informação e Comunicação (CETIC.br), parte do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI), irá lançar neste ano a pesquisa “TICs e Organizações Sem Fins Lucrativos”. O Centro desenvolve há anos uma série de pesquisas sobre tecnologias, mas voltadas até o momento para outros setores, como empresas e educação.

Agora, surgiu uma intensa demanda em conhecer também como estas mudanças trazidas pelas TICs têm afetado o dia-a-dia do terceiro setor. “A pesquisa é bastante inovadora, pois há poucos estudos neste sentido. Não temos informação nenhuma de como as organizações estão lidando com as tecnologias. Por isto, a ideia é mapear mesmo a inserção das TICs na área social”, comenta Fabio Senne, analista de informações do CETIC.br.

A pesquisa tem três grandes objetivos: medir a infraestrutura, ou seja, se as organizações têm acesso à internet, como é este acesso, quais equipamentos estão disponíveis etc; identificar as formas de uso (gerenciamento, comunicação, redes sociais etc); e, por fim, identificar habilidades e capacidades dos colaboradores neste tema (se há dificuldade de uso, formação na área etc).

De acordo com Senne, neste momento, a pesquisa está numa fase de pré-teste do questionário que será aplicado, ou seja, está sendo testado em diferentes lugares do Brasil, a fim de identificar se as questões são claras e de igual entendimento para todos. Após esta etapa, que deve demorar um mês, pesquisadores do Ibope irão a campo. A previsão é de que 4 mil organizações de todos os Estados sejam entrevistadas, garantindo a diversificação por região, área de atuação e porte. A base de dados será um cadastro central do IBGE. Os resultados deverão ser divulgados no final do ano.

A proposta, segundo Senne, é que a pesquisa forneça um rol de informações que ajude as organizações a tomarem decisões, assim como organizações como o GIFE e a Abong a ter uma visão mais ampla do setor.

Aposta nas tecnologias

As tecnologias também têm sido temática ou a base de diversas ações desenvolvidas pelos institutos e fundações. O Instituto Claro, por exemplo, conta com o Prêmio Instituto Claro – Novas Formas de Aprender e Empreender. Desde a primeira edição, realizada em 2009, a presença das TICs nos projetos é premissa para que os inscritos sejam avaliados e tenham condições de avançar até a fase final da seleção. Em 2011, mais de 1100 projetos foram inscritos nas categorias “Inovar na Escola” e “Inovar na Comunidade”. Quatro projetos dividiram o prêmio de R$ 150 mil, além de poderem participar do curso Web Colaborativa Aplicada à Educação, do Senac.

Já a Fundação Telefônica, decidiu apoiar estudos na área, como o Mapa da Inclusão Digital (acesse a pesquisa aqui), que acaba de ser lançado, em parceria com o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV). A proposta foi mapear as diversas formas de acesso à tecnologia digital, sua qualidade, seu uso e seus retornos proporcionando uma perspectiva de atuação integrada com outras ações que visam elevar o nível de bem-estar social de maneira sustentável.

O estudo revelou, por exemplo, que a cidade de São Caetano (SP) apresenta o maior índice do país de acesso a internet em casa (69%). Em compensação, em Aroeiras (PI), esse percentual é igual a zero. No Brasil, 33% das pessoas têm acesso à rede em suas casas. Isso o põe em 63º lugar entre os 158 países mapeados pela FGV. O líder é a Islândia, com 94% de domicílios conectados – um índice igual ao da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Já Rio das Pedras, a favela vizinha, possui o menor percentual da cidade (21%), parecido com o do Panamá.

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