Trabalhando em rede com a população urbana pobre

Por: GIFE| Notícias| 27/02/2013

Sheela Patel *

O trabalho em rede é considerado o bom-bocado do desenvolvimento… todos dizem que é bom e as organizações são pressionadas para fazê-lo, independentemente das categorias de associação ou organização à qual elas pertencem. Na área de desenvolvimento, eu vejo surgirem redes por vários motivos. Nenhuma delas é boa ou ruim, mas a forma como celebram os acordos influencia o impacto e os valores das associações que são produzidas com o trabalho em rede.

Há vantagens e desvantagens quando o governo ou os doadores buscam criar “redes”. Em quase todos os casos, estas redes estão ligadas à natureza do relacionamento entre o estado ou o financiador e os que pressionam para formar a rede. Geralmente, as ONGs do Sul se sentem compelidas a participar em eventos de criação de redes porque os consideram um vínculo para obterem recursos. Isso produz desigualdade e o valor da associação é reduzido. Em alguns casos bizarros, as ONGs competem entre si para parecerem mais atraentes aos olhos dos financiadores. Em outros casos, à guisa de criar redes, as ONGs são comissionadas ou contratadas pelos financiadores para assumirem projetos ou atividades, recebendo instruções coletivas.

A SDI (Shack/Slum Dwellers International) é uma organização transnacional, cujos membros são federações nacionais das populações pobres urbanas que vivem em favelas e assentamentos informais, que se reúnem para aumentar sua força, solidariedade e para aprenderem umas com as outras. Para nós, a criação de redes ajuda a capacitar as pessoas e as federações, além de aumentar sua habilidade de se conectar com os outros, tanto em suas cidades ou países, quanto em nível internacional. A associação com uma gama maior de atores, por sua vez, ajuda a expandir as opções que o desenvolvimento pode oferecer à população urbana pobre.

Internamente, muito do trabalho da SDI com a liderança nacional tem a ver com capacitação e a construção de confiança:
• Para envolver os membros e as organizações parceiras nacionais e internacionais, para que aprendam uns com os outros sobre a criação de uma massa crítica de vozes em busca de mudança.
• Para explorar relacionamentos com outras formas de associação, tais como organizações de prefeitos ou redes de doadores ou ministros, para explorar as possibilidades de colaboração e empreendimentos conjuntos que possam beneficiar seu eleitorado.
• Para analisar as diferentes abordagens de outras organizações globais, visando aprender como refinar nosso próprio trabalho.

Para ser eficiente, a criação de redes precisa de claras intenções. Por que uma pessoa ou organização está explorando essas relações? Elas sabem o que querem da interação? Sustentar relações que facilitam a criação de redes é importante. Se um grupo ou uma pessoa está em busca apenas de recursos, o relacionamento é unilateral e o interesse dos outros participantes da rede raramente será apoiado. O SDI é afortunado por ter muitas relações com financiadores, tanto formais quanto informais, que podem ter começado com a finalidade de financiar, mas expandiram e agora incluem troca de ideias, conhecimento e apoio, trabalhando juntos para explorar novas possibilidades.

Um exemplo: na semana passada eu fui convidada a fazer uma palestra em uma conferência da Associação de Planejadores Africanos (AAP) em Nairóbi. Cinquenta escolas de planejamento, de 14 países, se reuniram há alguns anos e começaram a explorar os novos desafios que as cidades enfrentam, assim como as consequentes mudanças que o ensino de planejamento deve explorar.

Por meio da interação da escola de planejamento da Universidade da Cidade do Cabo com a filial sul-africana da SDI, e um acordo semelhante em Nairóbi entre a universidade e a filial queniana, o SDI e a AAP assinaram um MDE para analisar como os dois conjuntos de organizações poderiam trabalhar juntos para produzir resultados que funcionem tanto para eles quanto para as cidades africanas no geral.

Juntos, eles buscaram fundos junto à Fundação Rockefeller para financiar seis estúdios, três dos quais já foram finalizados, em cidades com uma escola local e uma federação afiliada à SDI. O objetivo é analisar como estes processos podem influenciar o currículo da escola local de planejamento. Os resultados iniciais dos três primeiros servirão de base e, tomara, melhorarão o que os três próximos estúdios podem fazer. Juntos, começamos a analisar quem mais pode ser envolvido. Planejamos explorar se a UCLGA (a organização de prefeitos na África) achará que vale a pena participar desta associação.

Tais explorações requerem várias coisas: capacidade de envolver e explorar; clareza de foco; capacidade de produzir soluções e estratégias conjuntas que nenhuma das organizações envolvidas conseguiria produzir sozinha; e, expandir as capacidades de envolvimento com os outros, aprendendo com eles e também os influenciando. Por fim, e acima de tudo, demandam um espírito de colaboração que seja generoso no compartilhamento de ideias e estratégias, assim como no compartilhamento de influência e recursos.

*Sheela Patel é diretora da SPARC e presidente da SDI.
E-mail: [email protected]

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