Trabalho voluntário feminino cresce e ajuda a empoderar mulheres

Por: Fundação FEAC| Notícias| 17/01/2022

Trabalho voluntário é uma oportunidade para as pessoas se engajarem em causas sociais. Dentre diversas lutas, cada vez mais mulheres se unem para acolher e empoderar umas às outras. Juntas, elas buscam mudanças concretas, que passam pela discussão de temas como empreendedorismo feminino e desigualdade de gênero.

Silvia Naccache, empreendedora social e consultora na área de voluntariado, avalia que o trabalho voluntariado é uma forma de protagonismo cívico. “Eu quero uma sociedade melhor, menos desigual, e eu sou protagonista dessa mudança. Eu coloco a mão na massa e contribuo para que isso aconteça”, explica ela sobre o que envolve o engajamento.

Mulheres e voluntariado

No Brasil, as mulheres representam 62% das pessoas que realizam trabalho voluntário, segundo a Pnad Contínua de 2019. A consultora Silvia analisa que o voluntariado esteve, por muito tempo, ligado ao universo feminino, uma vez que valores como cuidado e responsabilidade são historicamente atribuídos a elas.

Apesar da tendência, ela considera que o cenário está mudando. “Hoje em dia, a participação [de homens e mulheres] já é mais equilibrada. O que acontece é que, em algumas áreas, a atuação das mulheres se destaca, como o voluntariado em hospitais e na área da saúde no geral”, diz Silvia.

Dentre os motivos da mudança, a especialista destaca os programas de voluntariado corporativo, que estão crescendo no país e estimulam a participação de pessoas de ambos os gêneros.

Mas, para ser voluntário(a), é preciso de muito tempo livre? Como conciliar com outros afazeres? Mulheres, apesar de ainda serem a maioria no voluntariado, não parecem dispor de tanto tempo: segundo a Pnad Contínua 2019, 92% delas realizam afazeres domésticos (contra 78% dos homens) e 36,8% cuidam de outras pessoas (contra 25% dos homens).

“Voluntariado é priorização de tempo. É uma escolha espontânea e individual: quais talentos e habilidades eu quero oferecer, qual trabalho eu me vejo realizando com alegria e quanto tempo eu tenho para oferecer”, pontua Silvia. Ela acrescenta que uma hora por semana já é suficiente para a pessoa começar.

No caso das mulheres, o voluntariado potencializa a criação de uma rede de apoio. O Via Conexão, da Fundação FEAC, é um exemplo. O projeto de mentoria voluntária iniciou, em outubro, uma edição que conecta empreendedoras mais experientes com outras que estão começando a empreender. Seu objetivo é ampliar o número de mulheres com maiores possibilidades de autonomia financeira.

Camila Stefanelli, líder do Programa Cidadania Ativa, da FEAC, ao qual o Via Conexão está ligado, destaca a importância de viabilizar esse encontro. “A ideia era encontrar mentoras que também tiveram seus desafios para empreender, para que a troca seja rica e real, para que uma possa fortalecer a outra.”

A líder analisa que não houve dificuldades em encontrar mulheres dispostas a serem voluntárias. A divulgação foi feita em parceria com o Grupo Mulheres do Brasil – Núcleo de Campinas.

“Nós identificamos que mulheres que passaram por essa trajetória de empreender têm muita vontade de compartilhar seus conhecimentos para ajudar outras pessoas”, diz Camila. Atualmente, 16 voluntárias participam do projeto, que realizará oito sessões individuais de mentoria até fevereiro de 2022.

Compartilhando conhecimentos

O Grupo Mulheres do Brasil, composto por mais de 98 mil mulheres de todo o país, é outro exemplo da conexão feminina. Conta com 115 núcleos locais – e Campinas é um deles, parceiro da FEAC –, com o objetivo de estimular a participação de mulheres em todos os espaços da sociedade. São diversos projetos sociais desenvolvidos no Brasil inteiro – todos liderados e executados por voluntárias.

“Queremos fortalecer as mulheres, para que elas se empoderem, tenham poder de voz e sejam realmente protagonistas de suas vidas”, diz Denise Ferreira, coordenadora do núcleo de Campinas.

Helen Guidolin é uma das líderes voluntárias. Ela comanda o comitê de empreendedorismo, que desenvolve capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Empreendedora na área esportiva há dois anos, a motivação para ser voluntária partiu de sua própria história. “Quando comecei [a empreender], eu não tinha a quem recorrer, não tinha um grupo de mulheres para entender a minha situação”, conta.

Ela considera que o trabalho do grupo está muito além de oferecer técnicas e ferramentas para as mulheres. Uma das vantagens de construir um espaço exclusivamente feminino é que elas se sentem mais à vontade para compartilhar histórias e angústias.

“A partir de uma conversa, descobrimos outras necessidades da mulher. Acontece de estar falando sobre empreendedorismo, mas sentir que a mulher tem necessidade de apoio emocional, então encaminhamos para outro comitê. Se identificamos uma situação de violência doméstica, também acionamos outro comitê”, explica Helen.

Os comitês do grupo são integrados. Além do empreendedorismo, há comitês de igualdade racial, combate de violência à mulher, políticas públicas, esporte, inclusão da pessoa com deficiência, entre outros.

A proposta de redes assim é que o movimento de mulheres se expanda cada vez mais, estimulando a autonomia e protagonismo de todas. “São iniciativas que criam uma rede mais fortalecida de mulheres e, com isso, a gente vai quebrando barreiras da desigualdade de gênero”, conclui Silvia Naccache.

Por Laíza Castanhari

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