Transparência é fundamental na contagem de atendimentos dos projetos

Por: GIFE| Notícias| 09/06/2003

MÔNICA HERCULANO
Repórter do redeGIFE

A medição dos resultados de um investimento social é um dos fatores que o diferenciam de uma ação assistencialista. Essa aferição pode ajudar a avaliar se os projetos executados realmente estão transformando a realidade dos atendidos. Diversas organizações têm procurado consolidar metodologias de contagem dos atendimentos de seus projetos sociais.

Como não existe um modelo pré-estabelecido, muitas encontram dificuldade em validar a coerência do método utilizado. Alguns dos principais problemas apontados são a sobreposição de números e a escassez de metodologias de avaliação que contemplem a questão da construção de indicadores sociais.

Margareth Goldenberg, superintendente do Instituto Ayrton Senna, conta que a organização desenvolveu internamente seus critérios de contagem. “”Não encontramos modelos em outras instituições. Na verdade, ao pesquisar, descobrimos caminhos diferentes seguidos por cada uma das organizações contatadas.””

Para contabilizar o número de beneficiados dos programas do Instituto, são considerados três públicos diferentes: crianças e jovens atendidos diretamente, indiretamente e educadores envolvidos.

“”No primeiro grupo incluímos as crianças e os jovens atendidos diretamente pela ação, ou seja, aqueles que são o centro das atividades realizadas e podem ser contados no cotidiano do projeto – na sala de aula ou espaço complementar à escola. O público indireto inclui, por exemplo, os alunos que atingimos quando os jovens formados por nossos programas reproduzem uma ação educativa em sua escola. Já os educadores envolvidos são os profissionais capacitados e formados por ações do Instituto e que desenvolvem suas ações diretamente com o público atendido””, conta Margareth.

A diretora técnica do Ideca (Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e de Ação Comunitária), Simone Coelho, especialista em avaliação e análise de resultados, diz que é importante ter clara a abrangência do impacto do programa na realidade em que está inserido. “”Se é um projeto que capacita jovens para geração de renda, certamente a família desse jovem será uma beneficiária indireta do programa e, então, será válido contabilizá-la. O mesmo acontece com um programa de capacitação de professores da rede pública de ensino, no qual os alunos desses professores serão beneficiários indiretos””, afirma Simone.

O Instituto C&A, que apenas financia projetos de outras organizações, costuma fazer a contagem dos beneficiados por meio dos relatórios de atividades apresentados pelas instituições parceiras e pelas reuniões de acompanhamento. Áurea Maria de Alencar, coordenadora de projetos, conta que o número de beneficiados é computado proporcionalmente ao investimento do Instituto.

“”Trabalhamos com proporcionalidade. Se apoiamos 40% do valor total de um projeto, consideramos a mesma proporção no público-alvo beneficiado. Mas os critérios de avaliação quantitativa são desenvolvidos pelas instituições parceiras. Algumas trabalham com metodologias próprias, outras utilizam modelos externos, de acordo com suas realidades. A razão da escolha cabe unicamente à instituição parceira””, explica Áurea.

Parcerias – Para Simone, do Ideca, a contagem de atendimentos quando a instituição tem vários programas ou parcerias requer ética e transparência. “”Deve-se indicar que a instituição oferece vários programas aos seus beneficiários, mas não contá-los mais de uma vez. Essa era uma tática antiga, empregada para arrecadar recursos de órgãos públicos. Hoje em dia isso não faz mais sentido.””

O risco de sobreposição, ou seja, contabilizar um beneficiado duas ou mais vezes, existe principalmente se o número de atendimentos não for bem comunicado. Por exemplo: cada organização parceira em um projeto afirma que realiza mil atendimentos em vez de todas irem a público num mesmo momento e dizerem que, juntas, atendem mil pessoas.

O Instituto Ayrton Senna divulga com destaque o nome da organização ou empresa parceira da cada programa. Porém, Margareth lembra que cada uma tem seu material de comunicação, como “”folders”” e relatórios, entre outros. “”Não é possível publicarmos materiais de divulgação conjuntos, com exceção dos produtos de comunicação programáticos, nos quais está bem claro qual é o projeto desenvolvido e o número de crianças atendidas pela parceria.””

Para a gerente de planejamento da Fundação Abrinq, Ely Harasawa, ter um banco de dados integrado e informatizado com o cadastro de todas as crianças e os adolescentes atendidos pelos programas e projetos da organização evita o risco de contabilizar em duplicidade os beneficiados.

“”Contabilizamos todas as crianças e adolescentes beneficiados diretamente por nossos programas e projetos. Em caso de parcerias ou alianças, deixamos claro que o benefício só foi possível graças a elas e sempre comunicamos quem são esses parceiros. Mas a contabilização é feita da mesma maneira que contamos os beneficiários dos nossos outros programas.””

Áurea acredita que uma maneira de superar os problemas encontrados pelas organizações na contagem dos atendimentos é apoiar a qualificação institucional, com seminários, oficinas específicas e trocas de experiências, a partir de demandas e sugestões de parceiros e outras organizações.

Qualidade – Simone diz que as organizações normalmente conseguem indicar quantos atendimentos diretos praticam, mas não sabem ou não são capazes de avaliar a qualidade dos programas.

“”Atendimento é simples de mensurar. Difícil é medir a sua qualidade e os reais impactos econômicos e sociais, a transformação da comunidade atendida. O resultado social é muito mais importante.”” A solução, segundo ela, é estabelecer um mecanismo de acompanhamento e sistematizar efetivamente um processo de avaliação de impacto das ações sociais.

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