Unesco lança mundialmente índice de desenvolvimento juvenil criado no Brasil

Por: GIFE| Notícias| 14/06/2004

Criado no Brasil para medir as condições de vida dos jovens, o Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ) foi lançado mundialmente em maio pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Utilizando critérios semelhantes aos do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDJ está chamando a atenção de diversos países interessados em utilizá-lo como parâmetro para o desenvolvimento de suas políticas de juventude.

Em entrevista ao redeGIFE, Júlio Jacobo, autor do livro Relatório de Desenvolvimento Juvenil 2003, que traz os resultados brasileiros do IDJ, fala sobre o índice.

redeGIFE – Como surgiu a idéia de criação do IDJ?
Júlio Jacobo – Diversos trabalhos que a Unesco vinha desenvolvendo, focalizando o tema da juventude no Brasil – a série Juventude, Violência e Cidadania em diversas capitais do país, a série centrada em Juventude e Escola, como Violência nas Escolas, Droga nas Escolas, e os vários Mapas da Violência, dentre outros – foram acordando para a necessidade de contar com um panorama mais completo, um retrato mais articulado e integral sobre as condições de vida e acesso aos benefícios sociais dessa camada da população. Além disso, como outros tantos índices já existentes, a visibilidade, principalmente das áreas mais deficitárias, são um incentivo para os poderes públicos desses setores diagramar políticas de superação.

redeGIFE – No que consiste o IDJ? Como ele deve ser utilizado para melhorar as condições de vida dos jovens brasileiros?
Jacobo – O IDJ foi construído à imagem e semelhança do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ele tem as mesmas dimensões de análise: educação, saúde e renda. Os indicadores, dentro de cada dimensão, foram adequados para melhor responder às situações específicas da juventude, na faixa dos 15 aos 24 anos. Temos porcentagem de analfabetos e de jovens que freqüentam escola de ensino médio ou superior, média das escalas de proficiência da 8ª série do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio, nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), taxa de óbitos em 100 mil jovens atribuídos a causas internas e a causas violentas – como suicídios, acidentes de transporte e homicídios – e renda per capital, ou seja, o valor do rendimento mensal familiar dividido pelo número de membros da família.
Com isso, o Índice de Desenvolvimento Juvenil pode ser utilizado para verificar em que estados e em que dimensões se encontram nossos maiores déficits para investir e diagramar políticas públicas e para acompanhar, nas subseqüentes versões do IDJ, o impacto dessas políticas sobre a realidade de nossa juventude.

redeGIFE – Uma das propostas do relatório é monitorar e avaliar o impacto e a incidência das políticas públicas dirigidas à juventude. Em que estágio o Brasil está com relação a essas políticas? Ainda há muito a avançar?
Jacobo – Não temos ainda um IDJ internacional para ver o nosso estágio em comparação com outros países. Mas a possibilidade de comparar alguns indicadores isolados nos permite verificar que temos ainda um longo caminho a percorrer neste tema.
Uma pesquisa internacional recentemente divulgada pela Unesco, denominada Pisa, que avaliou as competências para a leitura, a matemática e as ciências de jovens de 15 anos de idade de 41 países do mundo, localiza o Brasil em penúltimo lugar em leitura e último lugar em competências conjuntas. Também um recente estudo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), ao fazer uma análise dos resultados do Saeb de 2001, concluiu que 59% dos alunos da 4a série do ensino fundamental encontram-se em situação “”muito crítica”” ou “”crítica”” quanto a competências para leitura, e 52,3% apresentam a mesma situação quando se trata de competências e habilidades para a resolução de problemas matemáticos que se apresentam na vida cotidiana. Na área de saúde, o Mapa da Violência, um outro estudo periódico da Unesco, ao realizar comparações internacionais com outros 60 países, verifica os elevados níveis de mortes violentas de jovens no Brasil, principalmente por homicídios.

redeGIFE – Entretanto, quando a causa é interna, em mais de 90% dos casos as mortes são consideradas evitáveis. O que isso reflete? Falta ao governo e às organizações que atuam na área de saúde mais atenção ao público jovem? Por quê?
Jacobo – O próprio Ministério da Saúde é quem faz as análises sobre as “”mortes evitáveis””. São óbitos que, nas atuais condições técnicas, nos atuais avanços da medicina, por possíveis estratégias educativas, de articulação intersetorial ou imuno-preventivas, seriam perfeitamente evitáveis. Não só para os jovens, também para a população em geral. Essas mortes evitáveis marcam os déficits em nossa área de saúde em geral, não só particularizada nos jovens.

redeGIFE – A maior taxa de analfabetismo está entre pretos e pardos, além da participação feminina e de brancos no ensino superior ser maior. Os atuais programas de promoção da diversidade têm sido eficientes no sentido de diminuir esta diferença? O que mais deveria ser feito?
Jacobo – Os atuais programas de promoção da diversidade, principalmente nas universidades, são um paliativo necessário, mas não suficiente. O acesso deveria ser por regras universais, e não particulares. Devemos ainda promover a equalização no ensino fundamental e no médio.

redeGIFE – Foi identificado que 20,3% dos jovens não trabalha nem estuda e que esses fazem parte da população de mais baixa renda. Por quais motivos estes jovens não estão na escola e no mercado de trabalho?
Jacobo – Basicamente porque este grupo de jovens não tem condições financeiras para continuar seus estudos. Acaba abandonando muito cedo a escola e, sem um nível educacional adequado, fica praticamente impossível conseguir inserção no mercado de trabalho.

redeGIFE – Quais estados possuem os melhores e os piores índices de desenvolvimento juvenil? A que podemos atribuir essas colocações, nestes locais?
Jacobo – Santa Catarina, Distrito Federal e Rio Grande do Sul são os estados com melhor IDJ do país. Alagoas, Pernambuco e Acre são os que apresentaram os piores índices. Basicamente, podemos atribuir essas colocações diferenciadas a um diferencial de possibilidades de acesso da população jovem a benefícios sociais básicos, com educação, saúde e renda, para levar uma vida digna e feliz.

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