Usando as redes para lidar com problemas complexos

Por: GIFE| Notícias| 27/02/2013

Jennie Curtis*

Em 2003, as reuniões da diretoria da Fundação Garfield se concentravam no impressionante impacto de nossos beneficiários individualmente e, ao mesmo tempo, lastimavam os desafios aparentemente intransponíveis impostos pela mudança das sociedades para uma maior sustentabilidade ecológica e social. Começamos a questionar o status quo e a abordagem usual de fazer sozinho, adotada pelas fundações financiadoras. Concluímos que manter as tendências atuais não resultaria no mundo mais igual, próspero e sustentável que almejamos. A urgência de nossos tempos exige da filantropia a adoção de um novo método de operação, com uma abordagem sistêmica para entender os problemas complexos e produzir uma estratégia coletiva para solucioná-los.

Por causa de seu porte, a Fundação Garfield também estava interessada em explorar como poderia alinhar seu financiamento com o de outras fundações para, assim, criar um todo que fosse maior do que a soma do que os modestos investimentos de financiamento individuais poderiam alcançar sozinhos.

Neste espírito, a Garfield testou a teoria que aplicar a análise de sistemas a um problema, com um grupo bem intencionado de financiadores e líderes de instituições sem fins lucrativos como parceiros, em pé de igualdade, resulta em maior impacto. O resultado foi a criação da Rede RE-AMP, que agora conecta 160 organizações sem fins lucrativos (inclusive 14 fundações) em oito estados no centro-oeste dos EUA e que continua a crescer.

A Rede se concentra em uma meta – reduzir as emissões regionais de aquecimento global em 80% (em comparação aos níveis de 2005) até 2050 – e muitos feitos podem ser atribuídos a ela [1]. A Rede ajudou os legisladores a aprovarem políticas de eficiência energética em seis estados, além de ter evitado o desenvolvimento de 28 novas usinas a carvão – equivalente a tirar de circulação 23 milhões de carros. Além disso, aumentou a capacidade dos ativistas estaduais e regionais, criou vários recursos compartilhados, desenvolveu

relacionamentos mais fortes entre seus membros e aumentou o financiamento para sua causa.
De seus nove anos de experiência, podemos citar com confiança as seguintes lições do experimento da RE-AMP:

• A inteligência coletiva gerada na rede leva a decisões de financiamento mais estratégicas e eficientes, além de gerar um impacto muito maior.
• A responsabilidade compartilhada com o doador em relação ao financiamento da Rede RE-AMP gerou maior coordenação estratégica, ações mais eficazes e eficientes, maior influência nos círculos políticos, acordo sobre as necessidades básicas do desenvolvimento dos recursos compartilhados, coordenação das mensagens e estratégias, melhor liderança e capacidade, além de maior financiamento programático.
• A interdependência dos elementos no sistema requer que a Rede RE-AMP desenvolva uma cultura de aprendizagem. Quando temos sucesso, precisamos compartilhar o que aprendemos e expandir este sucesso. Quando falhamos, também precisamos compartilhar, refletir, ajustar as estratégias e experimentar novas táticas.
• Relacionamentos significativos entre os membros são a força vital das redes. Os métodos usados pela RE-AMP para desenvolver relacionamentos incluem hospedar uma Intranet online (a Commons), organizar conferências por telefone e seminários pela web, além de convocar reuniões presenciais facilitadas por profissionais. As conexões pessoais e organizacionais resultantes criaram um senso comum de fazer parte de algo que é maior do que cada membro ou suas organizações.

Em 2011, o Instituto Monitor considerou a Rede RE-AMP como uma das redes funcionais mais atuantes no setor social. Em seu estudo de caso publicado [2], o Monitor identificou seis princípios chaves essenciais para construir este tipo de rede:

• Entender o sistema que você está tentando mudar.
• Desde o início, envolver os financiadores e as instituições sem fins lucrativos, em pé de igualdade.
• Projetar uma rede e não uma organização, e investir em infraestrutura coletiva.
• Cultivar liderança.
• Criar várias oportunidades de conexão e comunicação.
• Continuar adaptativa e emergente, além de comprometida com uma visão de longo prazo.

Na Fundação Garfield, acreditamos que manter a Rede RE-AMP robusta aumenta a mudança em direção à sustentabilidade global. Nós a consideramos um investimento bem sucedido, mas também a vemos como nosso laboratório de aprendizagem e, assim, queremos direcionar dinheiro e o tempo dos funcionários para ajudá-la a evoluir.

Também exploramos como podemos aplicar a experiência da RE-AMP a outros problemas complexos. Se você compartilha de nossa crença que aplicar sistemas para pensar e construir respostas em rede levará a resultados muito maiores do que o trabalho individual, ou se quiser saber mais sobre a experiência da Fundação Garfield com a Rede RE-AMP, fique à vontade para entrar em contato comigo.

1 Se quiser uma lista mais abrangente das ações apoiadas pela RE-AMP, assim como uma descrição do modelo RE-AMP, consulte: On the Leading Edge: An overview of RE-AMP www.reamp.org
2 Transformer: How to build a network to change a system: monitorinstitute.com/downloads/what-we-think/transformer/ReAmp_Case_Study_by_Monitor_Institute.pdf

www.garfieldfoundation.org/resources/Monitor%20Institute%20RE-AMP%20Case%20Study.pdf

* Jennie Curtis é Diretora Executiva da Fundação Garfield.
E-mail: [email protected]

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