WINGS Fórum 2010: precisamos de um conceito mais amplo de “juntos”?

Por: GIFE| Notícias| 17/12/2010

Caroline Hartnell*

“Uma plataforma de plataformas, uma rede de redes, uma associação de associações”, é como o presidente da WINGS, Fernando Rossetti, descreveu a organização durante a abertura do plenário da WINGS Forum 2010, realizado nos dias 18 a 20 de novembro em Como, Itália. Com o tema, “Inovação e impacto: o papel das associações de filantropia nas mudanças da sociedade”, o Fórum reuniu aproximadamente 170 participantes de 39 países, na maioria associações de filantropos e organizações de apoio.

O papel das organizações de filantropos foi o tema central de todas as discussões. Mas qual é o real papel que podem desempenhar? E qual é o papel da própria WINGS, uma organização que está de mudança para uma sede permanente em São Paulo, Brasil, e a procura de um novo modelo de negócios?

Uma peça chave da futura sustentabilidade da WINGS poderia estar na Iniciativa Global de Liderança Filantrópica (GPLI). Um programa conjunto do Council on Foundations (CoF), European Foundation Centre (EFC) e a WINGS, a GPLI tentou consolidar-se na conferência anual da EFC em Roma, em junho de 2009, porém apenas neste mês de novembro tomou uma forma mais concreta, após a reunião em Bruxelas nos dias 8 a 10 de novembro.

Focada no tema de como remover as barreiras nas doações globais, a GPLI trabalhará em três áreas do ambiente sustentável: melhorar e incrementar a colaboração, tal como envolver os estrategistas políticos e o desenvolver inovações e capacidades.

O presidente da CoF, Steve Gunderson, discursando na abertura do evento, manifestou seu compromisso em desenvolver a WINGS de forma que no futuro possa vir a ser o fórum de discussões dessas questões — certamente um papel apropriado para a WINGS.

Enquanto isso, o Foundation Center sediado nos EUA, na ambição de tornar-se mais globalizado e reconhecendo que não pode conferir dados sobre doadores em escala mundial, passou a financiar a WINGS na coleta de dados entre seus membros (em 55 países). O trabalho se baseia na experiência do Relatório da Filantropia Global apresentado em Como e escrito por Paula Johnson, que inclui dados sobre filantropia institucional em 23 países e na região árabe.

“Não existem especialistas em filantropia global”, disse Brad Smith, da Foundation Center. Precisamos nos basear na sabedoria das massas e, neste caso, a massa consiste nos membros da WINGS. “As pessoas desta sala representam o conhecimento coletivo sobre a filantropia global”.

A próxima fase da WINGS

Uma sessão plenária focou no presente e futuro da WINGS. Duas decisões importantes foram tomadas para fortalecer a organização com o intuito de incorporar e eliminar a rotatividade a cada quatro anos. Após extensas consultas e assessoria jurídica, a cidade de São Paulo, Brasil, foi eleita para ser sua sede permanente enquanto a WINGS, que foi incorporada nos EUA, marca o fim da fase “organização light” da WINGS.

Com o número de fundações sustentando uma minguada infra-estrutura filantrópica global – a Fundação Mott agora permanece corajosamente sozinha e nos últimos quatro anos tem acompanhado importantes reflexões sobre a sustentabilidade de longo prazo da WINGS. O modelo anterior dependia de um punhado de grandes doações e essa não é mais opção.

A WINGS está estudando a possibilidade de adotar mensalidades, até agora não tem sócios, apenas “participantes das redes”. Os “Sócios” ficaram abertos à idéia, tanto como sinal de comprometimento, como de sustentabilidade. Os membros do comitê de coordenação concordaram em ser os primeiros a pagar.

A parceria com a Foundation Center, AVINA e GIFE para estruturar um escritório central global em São Paulo e, talvez, no futuro estruturar uma organização para realizar iniciativas globais de filantropia como a GPLI, fazem parte de um possível futuro sustentável.
A sucessão de desafios

Uma sucessão de conferencistas durante a plenária desafiou os participantes do Fórum. Adam Smith, da fundação de Jovens Australianos, chegou a questionar: “o que você tem feito até agora para engajar pessoas jovens na filantropia?”. Tanto a média de idade dos participantes da maioria dos encontros de filantropia e as histórias inspiradoras de Smith sobre o que os jovens podem fazer, reforçam a relevância desta pergunta.

Mais adiante, Astrid Bonfield, da Diana Princess of Wales Fund, descreveu a sua exitosa campanha para proibir as bombas de dispersão. “Como as associações podem convencer seus membros sobre o valor de entrar na coalizão se eles querem mudar?”.

Robyn Scott da Philanthropy New Zealand. Bonfield foi direta na sua resposta. Ela disse: “As redes podem focar exageradamente no fornecimento de serviços aos seus membros em vez de mostrar liderança. A EFC está assumindo um papel de liderança no Estatuto da Fundação Europeia juntando-se à Comissão Europeia. As associações deveriam ser líderes no seu campo de atuação e não apenas entregadores de serviços.”.

Finalmente, Peggy Dulany, fundadora e membro da diretoria do Synergos Institute, na apresentação da segunda palestra de Barry Gaberman, culpou as deploráveis tendências no mundo – incluindo o incremento da frequência dos eventos climáticos, o aumento da desigualdade social, o crescimento populacional, a pressão sobre o uso do solo e seus recursos, a falta de equilíbrio e os efeitos causados sobre a humanidade pelo movimento do balanço ying-yang para um mundo dominado por yang (masculino).

“Precisamos de mais conciliação, colaboração, compartilhamento e da cooperação que caracterizava as sociedades aborígenes”, disse, “e desafiar as associações a desenvolver a capacidade de juntar líderes e organizações, propiciar espaço para refletir, promover a colaboração e as parcerias e desenvolver a confiança”.

Existe um provérbio africano: para ir rápido, vá sozinho. Para ir longe, vá junto. Este parece ser um bom lema para WINGS. No entanto, deveríamos estimular um conceito mais amplo da palavra “juntos”. Eu vim para o WINGS Forum depois de participar da conferência, em Luxemburgo, da European Venture Philanthropy Association (EPVA). De Luxemburgo a Como é uma hora de vôo; porém não havia quase nenhuma justaposição entre os dois eventos em termos de pessoas atendendo ou temas discutidos. Investimentos impactantes foi a expressão vista no rosto de toda a conferência da EVPA, que provavelmente não foi mencionada no WINGS Forum exceto por mim mesma, comentando sobre a divisão entre os dois mundos.

No entanto, a filantropia não é um mundo tão grande; certamente alguma coisa se perde na operação destes dois silos fechados. Eu não estou convencida que mais yin será a resposta; contudo compartilhar parecer ser uma boa idéia. Outro papel para WINGS?

Para mais informações: www.wingsweb.org


“”Caroline Hartnell é editora da Alliance Magazine.

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