Com a crescente discussão a respeito da importância da transparência e da responsabilização de investidores e beneficiários no terceiro setor, a WINGS (WorldWide Initiatives for Grantmaker Support) promoveu, no dia 26 de março, uma Webinar – um tipo de webconferência – com a presença de especialistas da área para discutir a temática com interessados ao redor do mundo.

A WINGS é uma rede independente sem fins lucrativos global que reúne 88 organizações em 36 países. Juntos, os membros da WINGS representam mais de 15 mil fundações, grantmakers e investidores sociais em todo o mundo.

O GIFE esteve presente na discussão, tendo em vista a relevância do tema, sendo uma das agendas estratégicas de sua atuação para os próximos anos. Participaram também como palestrantes Carolina Suarez, diretora executiva da AFE Colombia e membro da WINGs e o consultor John Harvey.

Iara Rolnik, gerente de Conhecimento do GIFE, destacou em sua fala que, seguindo o crescente interesse sobre esta temática na agenda nacional – com exemplos importantes, tais como a criação da Lei de Acesso à Informação, a agenda anti-corrupção, entre outras iniciativas – cada vez mais a transparência foi se convertendo em valor para o setor de investimento social privado.

“No GIFE, este tema tem estado sempre presente. Em 2010, quando construímos a visão de dez anos, foram identificados três aspectos essenciais do investimento social privado: relevância, diversidade e abrangência. E a transparência foi considerada um dos pilares da relevância. Isso porque práticas transparentes estão intrinsecamente ligadas à relação com a sociedade, a visibilidade, para a apresentação dos resultados, bem como o diálogo sobre questões relevantes. Trata-se de garantir a legitimidade do campo, dentro das organizações e na sociedade como um todo”, destacou.

Iara lembrou ainda que, com o compromisso de elevar os padrões de transparência e legitimidade no setor social, em 2012 o GIFE publicou os princípios de sua iniciativa para a “Transparência e Prestação de Contas”, iniciado em 2011. Embora o foco inicialmente era seus membros, o GIFE esperava ir além de sua própria rede e ser uma referência para qualquer organização social preocupada com boas práticas de governança. “Vemos accountability como um passo essencial para fortalecer as organizações da sociedade civil. Acreditamos que nesta era em que o clima de suspeita prevalece, transparência poderia ser o maior diferencial de organizações sérias. A credibilidade é o seu bem mais valioso”, ressaltou.

A gerente do GIFE apresentou ainda a publicação da série Grantcraft – “”Abertura: Desmistificando a transparência de investidores sociais” – e os diversos materiais e infográficos produzidos a partir deste livro, e lembrou sobre o debate online realizado pelo GIFE a respeito do tema (clique aqui para ler a matéria a respeito).

“Por meio do Censo GIFE podemos entender melhor também os caminhos que institutos e fundações foram traçando para se comunicar com a sociedade, através da divulgação dos seus dados. O Censo recolhe dados sobre auditoria, demonstrações financeiras e publicação de relatórios. Observa-se claramente que o tema tem sido crescente entre os nossos associados, mas ainda há uma lacuna entre o que é relatado e o que, na verdade, pode ser encontrado nos sites. Podemos perceber, assim, que a cultura da transparência é muito difundida, mas as práticas não são bem aplicadas”, ponderou.

Por fim, Iara destacou um dos maiores projetos de transparência do GIFE a ser lançado neste ano, que é o “Painel de Transparência”. Trata-se de uma iniciativa inédita no país, que defende a transparência entre os investidores sociais brasileiros e estabelece, ao mesmo tempo, um referencial conceitual e práticas concretas de transparência das organizações privadas com fins públicos.

O painel será uma ferramenta online que oferecerá informação, fontes de dados, exemplos e instruções passo-a-passo para orientar as ações das entidades e tornar suas práticas mais transparentes. A ideia Panel é inspirada na experiência pioneira da GlassPockets, projeto desenvolvido pela Foundation Center em 2010.

“Além de todas essas ações, temos também um forte foco em comunicação, compreendido como um mecanismo de transparência. Este ano o GIFE está completando 20 anos e estamos muito felizes em celebrar esta data com estas iniciativas que visam ampliar a legitimidade do setor”, destacou.

Kit de ferramentas

Durante o Webinar foi apresentado o kit de ferramentas sobre transparência e accontabilty, organizado a partir de uma série de consultas organizadas na África, na região árabe e na América Latina, a fim de sistematizar o conhecimento dos membros da WINGS sobre a questão.

O material explica, por exemplo, que ao pensar sobre a transparência no contexto das organizações, a maioria das pessoas tende a percebê-la apenas na prática de tornar a informação sobre uma organização acessível. Mas, outras definições são tão importantes, como o fato da informação ser de fácil entendimento, assim como ser honesta e livre de engano ou fingimento.

O kit explica que há diferentes maneiras em que a prática da transparência e prestação de contas é relevante para o setor filantrópico:

Como insumos: neste caso, elas são incorporadas ao projeto de programas por meio de práticas como planejamento estratégico participativo para garantir a relevância e credibilidade do trabalho que será realizado.

Como resultado: a prestação de conta como um bem de acesso à informação pública e parte do seu trabalho para melhorar a governança.

Como estratégia: para alcançar os resultados dos programas desejados, tais como a melhoria da saúde, por exemplo, pode ser usada como uma estratégia para criar demanda social. Uma fundação pode declarar abertamente informações sobre o quê quer influenciar no campo, posicionando-se de modo particular ou construir uma parceria com outros.

Como valor: esta abordagem refere-se à identidade e caráter de uma fundação e o que ele representa para. Aqui, transparência e responsabilidade são praticados como bens públicos.

O Kit destaca ainda que não existe uma fórmula única para se tornar uma organização transparente, tendo em vista que as entidades são diferentes entre si, com missões, projetos e resultados que querem atingir. E destaca que, cada organização, deve traçar o seu próprio caminho a partir da percepção de boas práticas existentes.

A partir das análises da literatura sobre o tema e a experiência dos membros da WINGS, a entidade destaca seis padrões de transparência e prestação de contas para o investimento social privado e filantropia: Clareza e alinhamento dos programas à missão; Compromisso com os apoiadores e as comunidades beneficiárias; Engajamento e colaboração no setor; Comunicação aberta; Conformidade com as leis e regulamentos; e Práticas internas que promovam a ação responsável.

Confira o webinar na íntegra.