Workshop mostra como alinhar investimento social privado em Educação

Por: GIFE| Notícias| 30/06/2008

Rodrigo Zavala

Como assegurar uma participação efetiva dos investidores sociais privados nas políticas públicas de Educação, de forma planejada, estratégica e em consonância às propostas de Estado? Essa foi a questão fundante do Workshop – Agenda Alinhada do Investimento Social Privado em Educação, promovido no dia 27 de junho, em São Paulo.

Realizado pelo GIFE e o Movimento Todos pela Educação, com o apoio do Ministério da Educação (MEC) e da Gerdau, o evento contou com a participação de 128 lideranças do investimento social privado. “”Há um montante considerável de recursos direcionados ao ensino, por meio de projetos sociais de origem privada. O alinhamento destes com os programas governamentais levará a um maior impacto das ações e menor sobreposição de iniciativas””, afirmou o ministro, Fernando Haddad.

Durante o evento, ele apresentou como o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) começou a ser implementado e como espera chegar a suas ambiciosas metas. Para isso, apresentou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é calculado com base em dois tipos de dados: a) as informações sobre rendimento escolar (aprovação, reprovação e abandono) do Censo Escolar da Educação Básica; e b) as informações sobre o desempenho dos estudantes em exames padronizados elaborados pelo Inep – Saeb e Prova Brasil.

Sobre os dados do Ideb de 2007, que em alguns casos superou as metas estipuladas pelo ministério para 2009 – a média brasileira de 1ª a 4ª série subiu de 3,8 para 4,2 e de 5ª a 8ª de 3,5 para 3,8, em uma escala de 0 a 10 – Haddad afirmou que o Brasil possui 1240 municípios com resultados medíocres. “”Por que a iniciativa privada não atua nessas cidades, na busca por uma melhor qualidade?””, questionou o ministro.

Segundo a diretora executiva do Instituto Ayrton Senna, Margareth Goldenberg, esse trabalho pode ser feito por cinco ou seis grandes empresas. “”Poderiam adotar esses municípios e criar uma espécie de show-room de boas práticas””, argumentou.

Convidada ao evento, a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, afirmou que um trabalho imprescindível é estimular especialistas, pesquisadores, instituições de ensino e pesquisa e organizações sociais para a criação de tecnologias educacionais, que contribuam para a elevação da qualidade da educação básica. “”A escola é analógica em uma era de revolução digital””, criticou.

Investidores

Depois das apresentações, os participantes do Workshop se dividiram em grupos de trabalho para pensar como o investidor social privado pode planejar seus trabalhos com consonância com o MEC. Eles foram reunidos sob os eixos fundamentais defendidos pelo Compromisso Todos pela Educação: acesso à Educação Básica; alfabetização; aprendizagem; fluxo e conclusão; e gestão e financiamento.

Entre as idéias com mais destaques nos grupos, a capacidade de comunicação, fomento a novas tecnologias educacionais, fortalecer a gestão escolar, identificar e sistematizar as boas práticas e valorização do docente. Todas as idéias estão em fase de sistematização pela organização do evento e serão lançadas em uma publicação no segundo semestre.

“”O evento é parte de um processo maior, que será levado para os próximos anos como uma estratégia de longo prazo””, argumenta o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

Comunicação
Segundo a opinião dos participantes, a comunicação é fundamental, pois de trata de uma mudança de cultura. Essas ações devem ser integradas aos objetivos do Plano de Desenvolvimento da Educação e do Movimento Todos pela Educação.

“”O que pode ser feito é utilizar os sistemas de comunicação das empresas para mostrar a importância de estar na escola. Conscientizar os mais diferentes públicos sobre o valor da educação””, argumentou a diretora-executiva doTodos Pela Educação, Priscila Cruz.

Tecnologias
Como atingem um número pequeno de estudantes (comparado ao ensino público), as iniciativas do setor privado podem ser laboratórios de experiências educativas. Quando encontradas soluções reaplicáveis, a partir de avaliações sistemáticas, todo o trabalho seria então sistematizado e analisado por critérios pedagógicos do próprio MEC – uma espécie de certificação.

Por trás dessa idéia, apresentada pelos grupos, estaria o fomento à descoberta e visibilidade de novas tecnologias educacionais. “”O governo poderia identificar demandas em determinada área e as empresas, com base em seu trabalho, poderia apontar práticas que deram certo””, explicou a diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, Ana Lima.

Gestão
Outro ponto abordado nas mesas de trabalho foi a questão da gestão escolar, que pode ser melhorada pelo apoio de profissionais das empresas dentro das escolas e na realização de cursos de formação financiados e avaliados pelo setor privado.

“”Deve ser criado um padrão de qualidade de serviço de educação, tal como cursos específicos de gestão para o corpo docente. Como se a escola fosse um negócio mesmo””, disse o diretor executivo do Instituto Camargo Corrêa, Francisco Azevedo. (Trecho com Errata).

Boas práticas
“”É irresponsabilidade do terceiro setor difundir práticas não avaliadas. Deveriam ser tratadas como remédios. Não se dá remédio não testado para seres humanos. Por que deveriam dar educação?””, criticou Margareth Goldenberg, durante a apresentação de suas idéias.

Para ela, é importante que o MEC concentre as iniciativas criativas e de fácil adaptação. Uma espécie de banco de práticas analisadas por critérios como capilaridade e propensão a parcerias.

Valorização do professor
O objetivo apontado com transversal para todos esses planos é a valorização e qualificação do trabalho do docente. “”Afinal, ninguém vai querer trabalhar como professor lá na frente, se a profissão não é valorizada””, concluiu Tatiana Motta, do Instituto Votorantim.

Ao falar de Aprendizagem, ela disse que é vital investir nos futuros professores, não apenas na questão de infra-estrutura para o trabalho ou remuneração. Tatiana argumentou que é preciso investir na valorização simbólica, o do “”querer ser professor””.

Nesse ponto, é imprescindível o aporte em comunicação apontado por Priscila Cruz. Não basta que a empresa fale que apóia a educação, mas que consiga falar com os seus consumidores, fornecedores, colaboradores etc, que a educação é importante.

Comparações
Durante os debate o economista Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fez considerações sobre os desafios para intervenção do investimento social privado na educação. Pelos dados analisados pelo economista, o setor privado precisa investir mais.

Os argumentos deles são moldados em três formas de investimento:
– Demanda por serviços educacionais (gastos das famílias com educação);
– Oferta privada (produção e venda) de serviços educacionais com e sem fins lucrativos; e
– Provisão gratuita de serviços educacionais ou apoio a provisão gratuita de serviços educacionais.

“”O Estado arca com toda a responsabilidade do serviço em todos os níveis de educação pública. Países que passaram a cobrar por esses serviços, como o Chile, conseguiram chegar a patamares muito superiores de educação até mesmo da população mais pobre””, argumentou.

A explicação de Barros se encontra em comparações como Chile. Mesmo cobrando pelo ensino público, “”uma criança com quatro irmãos numa família rural pobre, chefiada por uma mulher analfabeta chilena”” tem 20% de chances de completar a 8º série. No caso de uma criança brasileira, na mesma situação, esse percentual não passa de 10.

Veja apresentações mostradas no evento:
A importância da educação e o papel do setor privado no progresso educacional
CENSO GIFE – Síntese com foco em Educação

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