Workshop mostra qualificação como maior desafio para comunicadores

Por: GIFE| Notícias| 10/11/2008

Rodrigo Zavala

A qualificação é um dos maiores desafios para os profissionais de comunicação, estejam eles nas redações, estejam dentro do setor privado, no papel de assessores de imprensa ou gerentes de área. Assim, se por um lado os jornalistas devem saber ser criticamente responsáveis sobre o que escrevem, a comunicação corporativa deve ter clareza de que não deve apenas informar, mas assumir sua liderança no planejamento estratégico e no papel político da empresa.

As conclusões estiveram presentes na segunda edição do Workshop GIFE-Aberje de Comunicação, realizado pelo GIFE e a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), em parceria com o Instituto Unibanco e apoio do Grupo CDN. No evento, os dois grupos de profissionais se reuniram com o objetivo de entender quais são as novas demandas ao seu trabalho e, também, como melhorar o relacionamento entre ambos.

“”Estamos obesos de informações e famintos de significado. O comunicador não pode ser apenas um disparador de notícias. Nós temos a responsabilidade de interpretar o que chega a nós e decodificar isso de forma qualificada””, afirmou o diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Paulo Nassar.

Dinâmica

O Workshop foi dividido em duas partes. A primeira foi um debate com especialistas, no qual foram apresentados os estudos “”Fasfil 2 – As Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos no Brasil””, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o GIFE e a Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong); e o “”Censo GIFE 2007-2008″”, mapeamento que o GIFE faz sobre o Investimento Social Privado (ISP) de seus associados.

A coordenadora de pesquisas do Ipea, Anna Maria Peliano, ficou a cargo da Fasfil 2, que identifica o trabalho das fundações privadas e associações sem fins lucrativos no país. Segundo a pesquisa, entre 2002 e 2006, o número desse tipo de organização cresceu 22,6%, passando de 276 mil para 338 mil. “”Comparativamente, o número é tímido em relação ao período de 1996 e 2002, quando o crescimento dessas organizações sociais foi de 157% (105 mil para 276 mil)””, lembrou. (Veja apresentação).

Em seguida, o gerente de Projetos do GIFE, Fernando Nogueira, mostrou os resultados do Censo GIFE. De acordo com o levantamento, o grupo investiu cerca de R$ 1,15 bilhão em diferentes áreas sociais, com prioridade a programas para jovens (de 15 a 29 anos). “”O Censo traz números referentes a áreas de atuação, estratégias de intervenção na realidade, estruturas que viabilizam essas ações e desafios que se colocam neste caminho””, explicou. (Veja apresentação)

Depois do debate, os participantes se reuniram em cinco grupos para apontar soluções às problemáticas levantadas durante o primeiro bloco. Instrumentalizados pelos dados das pesquisas, cada um deles focou em pontos específicos da comunicação: com o público interno, com a Imprensa, com os stakeholders e com mídias de massa. O quinto grupo trabalho, por sua vez, analisou os possíveis limites desse relacionamento. (Conheça as idéias).

Conclusões

Embora os resultados das mesas apontem para públicos distintos, o que pareceu claro aos participantes foi a necessidade de formação para os comunicadores. “”O que nos parece essencial é a qualificar esse trabalho. Por um lado, os discursos do setor privado, de outro, a cobertura da mídia sobre essas ações””, afirmou a gerente de Responsabilidade Social do Instituto Unibanco, Luciana Nicola.

No entanto, foram encontrados dois pontos contextuais que dificultam essa qualificação. O primeiro se dá na linha conceitual. Segundo a jornalista da Abong, Michelle Prazeres, relatora do quinto grupo, os conceitos ainda estão em construção na área social. Assim, a leitura crítica dos comunicadores depende de que significados carregam esses conceitos.

Um exemplo simples é a própria idéia de terceiro setor, não compartilhada pela Abong. “”Acreditamos que a definição correta seria a de associações em defesa dos direitos. Mas, todos conceitos estão em disputa (por diferentes grupos do setor), daí a dificuldade de abordá-los””, explicou a da diretoria da Abong, Tatiana Dahmer.

Outro tema complicador para essa qualificação é a escassez de pesquisas e avaliações sobre a área social. Para o jornalista Marcos Piva, relator do grupo dois, há uma falta generalizada de informações sobre os impactos das ações, o que gera um dificuldade para o gerente de comunicação, e uma desconfiança por parte do jornalista.

“”Não temos idéia sobre como a sociedade civil organizada influi na melhoria dos indicadores sociais brasileiros. Sabemos que tem uma participação significativa, mas não dá para dizer quanto””, argumentou.

Na mesma linha seguiram as constatações de Anna Maria Peliano. Questionada sobre as Fasfil 2, e como o trabalho das 338 mil organizações impacta na área social, a resposta foi uma negativa. “”Não temos essa informação. È preciso melhorar a análise de dados no Brasil para transformá-los em instrumentos efetivos para o trabalho dos comunicadores””, respondeu.

A falta dessas informações, segundo os grupos de trabalho, gera conflitos na divulgação das ações. Sem o respaldo de dados, a percepção de que os projetos sejam oportunistas ou pouco eficientes torna-se maior. Enquanto isso, nas redações, o jornalista não consegue trabalhar com de forma profícua sobre a temática.

Crise

Um dos assuntos mais discutidos durante o Workshop GIFE-Aberje de Comunicação, foi as conseqüências da crise financeira para o ISP de empresas, fundações e institutos. Segundo o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, não é hora de reproduzir o pânico. “”É uma oportunidade para o terceiro setor mostrar que se consolidou, que é um setor forte e dinâmico. Não podemos pensar só no que a crise trará de ruim””, afirmou.

Fazendo coro a Rossetti, Marcos Piva chamou a atenção para o fato dos cortes de orçamento que poderão ocorrer nos próximos meses. “”O que é importante enxergar aqui é se os investimentos sociais de origem privada, fazem parte da cultura ou é apenas gordura dentro das empresas””.

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