Acordo de Paris completa 10 anos entre avanços na governança climática e desafios na implementação das suas metas

Por: GIFE| GIFEnaCOP| 17/02/2025

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Em 2025, o Acordo de Paris, um dos principais pactos globais para enfrentar a crise climática, completa 10 anos de assinado. Adotado na COP21, o tratado tinha como meta limitar o aquecimento global a 1,5°C. 

No entanto, nos aproximamos dessa marca muito antes do esperado. Em 2024, o planeta registrou seu ano mais quente e, pela primeira vez, a temperatura média global aumentou 1,6ºC em relação aos níveis pré-industriais. Entre os reflexos, chuvas intensas, secas extremas, mudanças na paisagem dos desertos e recordes de furacões. 

Apesar do cenário preocupante, Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, lembra que antes da assinatura do Acordo de Paris, o mundo rumava para um aquecimento de mais de 4ºC até o final do século. 

“Para muitas pessoas era impossível ter um acordo como esse estruturado. E ele já conseguiu gerar compromissos por parte de governos e setor privado que nos colocaram numa rota muito melhor”. Especificamente para o setor privado, ajudou a catalisar investimentos nas energias renováveis. “Por isso elas hoje já são na maior parte do mundo mais baratas que as fósseis. É algo muito poderoso”, complementa.  

Bruna Mattos, coordenadora de Projetos e Parcerias na Cooperação Internacional do Instituto Arapyaú, chama atenção para a implementação de mecanismos de acompanhamento para medir o progresso na ação climática, como o Global Stocktake; e a inclusão da dimensão financeira como pilar central

Por outro lado, afirma que há urgência em aumentar a velocidade, a ambição e a premissa de justiça na atuação climática. “Os próximos anos devem ser pautados por um compromisso firme com a implementação: os desafios estão mapeados e as soluções para reduzir emissões e reverter a crise climática são conhecidas, o momento de agir é agora.”

Hipóteses para um acordo sem os EUA

Em janeiro, os Estados Unidos anunciaram sua saída do Acordo de Paris, se juntando aos únicos quatro países não signatários – Iêmen, o Irã, a Líbia e a Eritreia. Medida que só será efetivada em 2026. O anúncio veio meses depois de o então governo Biden apresentar a meta de reduzir a poluição climática em até 66% abaixo dos níveis de 2005 até 2035. 

“É um golpe duro para a agenda climática global”, calcula Jahzara Ona, estagiária de Projetos do Arapyaú. “Além de colocar em risco o fluxo de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para financiar a transição em países em desenvolvimento, essa decisão pode ter impactos diretos no clima do planeta”, continua a jovem ativista climática, que lembra que os EUA são um dos principais emissores históricos de carbono. 

Apesar do baque, Bruna Mattos destaca que o compromisso permanece firme com outras nações. Argumenta ainda que a mudança do clima é uma realidade incontestável que exigirá medidas urgentes para evitar perdas humanas, ecológicas e econômicas. “Ignorar esse cenário pode até ser possível no discurso, mas é infactível na prática.” 

Diagnóstico compartilhado por Natalie Unterstell, cuja preocupação maior é a de que a decisão influencie outras nações a fazerem o mesmo. Quanto à postura do presidente estadunidense na COP30, no Brasil, ela ainda vê como uma incógnita se será de obstruir ativamente as negociações multilaterais, ou simplesmente ignorá-las.

Ainda de acordo com Bruna Mattos, o que é possível projetar é o impulsionamento da liderança da sociedade civil e do setor privado na agenda em solo norte-americano; e externamente a abertura de espaço para um protagonismo de outras nações, como a China e o Brasil.

Apostas que serão observadas em Belém (PA) dentro de nove meses. No entanto, até então, apenas 10 países atualizaram suas ambições para redução de gases do efeito estufa, entre eles o Brasil. “O Brasil já provou sua capacidade em atuar como um elo de diálogo entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O que é esperado [para a COP30] é essa altíssima diplomacia”, avalia Natalie Unterstell.

Já Bruna Mattos espera ver o Brasil exercer sua liderança na articulação do financiamento climático para o Sul Global e no impulso a soluções baseadas na natureza. “Temos todas as condições para fazer da COP30 um marco na transição da era dos acordos para a da implementação.”Para alcançar essa transição, o investimento social privado pode ser um catalisador essencial, especialmente diante das incertezas geopolíticas, conforme opina Jahzara Ona. “Com o financiamento climático público ameaçado, o setor privado precisa preencher lacunas, impulsionando soluções sustentáveis e escaláveis. Além disso, seu papel vai além do capital: é sobre inovação, conexões estratégicas e influência para destravar compromissos mais ambiciosos.”

13º Congresso GIFE – Desconcentrar Poder, Conhecimento e Riquezas

No último Congresso GIFE, discutiu-se o papel do ISP e da filantropia no enfrentamento às desigualdades. Neste ano, a proposta é reforçar o compromisso do setor com as transformações sociais, o desenvolvimento sustentável e a redução das desigualdades, especialmente de raça e gênero, com ênfase no fortalecimento das OSCs.

As inscrições já estão abertas. 


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