Propostas de melhoria na educação do país é tema de encontro promovido pelo Insper

Por: GIFE| Notícias| 11/09/2017

Com o objetivo de debater propostas concretas de melhoria na educação brasileira e refletir também sobre o papel do investimento social privado neste campo, o Instituto de Ensino e Pesquisa – Insper realizou um encontro, no dia 05 de setembro, em São Paulo, reunindo acadêmicos das cátedras da instituição, especialistas, professores e pesquisadores.

O evento contou com a abertura do presidente do Insper, Marcos Lisboa e, presidente do conselho, Claudio Haddad, que apresentaram os modelos das cátedras e a importância em contribuir com estudos que beneficiem a sociedade.

Maria Alice Setubal, presidente do Conselho de Governança do GIFE, e mediadora do debate, destacou a relevância do tema educação, área prioritária de atuação de mais de 80% dos associados do GIFE. Neca ressaltou o valor que a sociedade brasileira percebe nesta questão, mas a necessidade de superar muitos desafios. “Estar matriculado em uma escola no Brasil não garante a aprendizagem. Os resultados da Prova Brasil e do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) mostram que mesmo as crianças que passam pelas salas de aula aprendem muito pouco”, disse.

Mas, então, como é possível melhorar a qualidade educacional no Brasil? A partir desta questão central, o primeiro bloco das discussões traçou um diagnóstico sobre o tema, debatendo iniciativas que promovem a melhoria na qualidade de ensino, a educação como direito fundamental e formas de garantir esse direito.

Para Ricardo Paes de Barros, professor do Insper e responsável pela Cátedra Instituto Ayrton Senna, o primeiro passo para a promoção de mudanças na educação é que, de fato, todos tenham direito à educação em um cenário desigual como o Brasil. Essa atenção deve ocorrer, principalmente, na primeira infância, para que haja igualdade real de oportunidades no futuro dos alunos. “Qualquer progresso na educação deve ser, antes de tudo, um progresso na igualdade educacional. Essa igualdade se reflete diretamente no desenvolvimento do país”, comentou.

Segundo Naercio Menezes Filho, da Cátedra Instituto Futuro Brasil, é fundamental lembrar também que a melhoria na governança e gestão de recursos públicos e privados traz impacto direto na qualidade de ensino. O especialista apontou ainda a importância da articulação entre as redes educacionais e a educação socioemocional de alunos e famílias para a transformação do aprendizado. “Estudos vêm comprovando o valor de iniciativas de visitação familiar, que promovem o papel da família na formação da criança e estimulam a participação dos pais na gestão escolar. É possível eliminar o gap educacional entre os muito pobres e a classe média, onde programas de visitação são desenvolvidos”.

A política educacional é elemento central e deve ser acompanhada de ações que promovam o desenvolvimento social, apontou Sergio Firpo, da Cátedra Instituto Unibanco: “A medida em que atuamos com os sistemas escolares, é possível desfazer um cenário de desigualdade econômica”, constatou. O acadêmico ressaltou que os agentes sociais devem sempre atuar em políticas públicas apoiados por iniciativas de mobilização social, permitindo que condicionantes socioeconômicas deixem de determinar o desempenho da criança.

O papel do investimento social privado

Articulação conjunta e mensuração de impacto são pontos que se destacaram na reflexão sobre o papel do investimento social privado no campo educacional. Sergio Firpo falou da importância da correta avaliação do investimento, além da legitimidade que as instituições têm ao intervir no sistema público educacional. “A agenda da instituição deve estar alinhada às expectativas de todos os atores sociais, não somente da própria instituição e do governo, mas também dos professores, pais e alunos”, apontou.

Para o professor coordenador da Cátedra Instituto Futuro Brasil, a prática de avaliar o impacto da intervenção na educação precisa ser disseminada no terceiro setor, tendo em vista que se faz necessário conhecer, cada vez mais, quais estratégias e iniciativas são mais efetivas para melhorar a qualidade de aprendizado das crianças.

Ricardo Paes de Barros destacou que a ação conjunta e a articulação entre instituições que atuam na educação geram muito mais impacto. “Quanto mais conseguirmos coordenar os investimentos sociais privados em prol de programas efetivos, mais resultados teremos na melhoria da qualidade da educação”.  O especialista reforçou, porém, o grande desafio nesse direcionamento de esforços, tendo em vista as mais diversas agendas.

O segundo momento da discussão teve como objetivo debater como pesquisas e iniciativas desenvolvidas nas Cátedras do Insper e em toda a academia geram impacto real na qualidade e na política educacional, promovendo a articulação da sociedade civil e estimulando o compartilhamento de boas práticas.

“Programas como de vouchers para educação, como o Prouni, voltados a famílias de baixa renda, são exemplos de inovação que promovem inclusão em larga escala, com eficiência e baixo custo”, apontou Fernando Schuler, da Cátedra Instituto Palavra Aberta.

Experiências internacionais, como a reforma chilena de ensino, promovida em 2008, podem também apontar caminhos promissores para a gestão educacional brasileira. Com a ampla reforma do ensino e adoção de políticas mais rigorosas, o governo do país diminui drasticamente a diferença na qualidade e ensino entre suas escolas. “Isso reduziu a assimetria entre o desempenho escolar de alunos mais ricos e mais pobres”, destacou Fernando.

Investimento com impacto social

Melhorar a gestão de iniciativas do terceiro setor é um passo estratégico na captação de investimentos. É o que constatou Guilherme Fowler, da Cátedra Endeavor. Boa parte dos fundos que realizam investimentos com impacto social indicam que tais investimentos ainda não tiveram o retorno financeiro que os tornem economicamente sustentáveis. A boa gestão é fundamental para a continuidade de ações que são investimentos de impacto. “O investidor avalia profundamente seu investimento. Mesmo que ele traga retorno social, a ação precisa mostrar que pode replicar a forma pela qual ela gera valor, garantindo assim o impacto e a perenidade daquele investimento”.

“Falamos sobre políticas públicas, organizações, novos modelos de negócios, mas é preciso olhar para o papel do ensino na transformação da sociedade”. Essa foi a reflexão de Priscila Claro, da Cátedra Economia e Meio Ambiente. Para a especialista, a educação deve permear questões fundamentais para a sociedade como meio ambiente, desenvolvimento social e diversidade, por exemplo. Entretanto, para que o ensino traga transformações efetivas nessas questões, é preciso que a abordagem desses temas em sala de aula seja de alta qualidade.

Cooperação entre público e privado

Segundo os especialistas, a atuação conjunta do setor privado e público no campo educacional deve ser regrada por uma relação cada vez mais transparente. Sergio Lazzarini, da Cátedra Chafi Haddad de Administração, lembrou que os principais desafios na colaboração entre estes atores é justamente promover a colaboração entre os investimentos sociais e a mensuração de impacto desse investimento.

Um caminho para viabilizar projetos de alto impacto social seria a adoção de metodologias e mecanismos de controle. Sergio apresentou o Mecanismo de Contrato de Impacto Social, por exemplo, que parte da identificação da vulnerabilidade de determinada população e, a partir dessa análise, um conjunto de ações podem ser desenvolvidas. Dessa forma, o mecanismo ajuda a desenhar a colaboração entre atores e as metas estabelecidas para cada questão, como diminuição da evasão escolar ou melhoria no desempenho da criança, são transparentes e compartilhadas.

“Os investidores acompanham os resultados de cada ação e é possível remunerar ou reconhecer as ações desenvolvidas baseada em resultados. Assim, a continuidade de investimentos só ocorre se houver comprovação do impacto”, destacou Sergio.

Outro fator fundamental para o sucesso dessa cooperação público-privada baseada em colaboração e metas, passa pela eficiência pública. Sergio Lazzarini acredita que a agenda de melhoria na qualidade educacional deve ser acompanhada de uma agenda de reformas no setor público. “As organizações sem fins lucrativos devem contribuir para essa melhoria com investimento em políticas públicas e compartilhando conhecimentos”, ponderou.

Confira os vídeos da discussão completa aqui.

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