Fundo solidário custeia infraestrutura em comunidade do Pará

Por: Fundação Banco do Brasil| Notícias| 27/08/2018

 

Muitas comunidades extrativistas têm o açaí como principal fonte de sustento. Em Santo Ezequiel Moreno, pequena vila de 150 pessoas localizada no município de Portel, na Ilha do Marajó (278 km de Belém), essa realidade ganhou dimensão ainda maior com o Fundo Solidário Açaí. A iniciativa consiste em captar o valor fixo de R$ 2 por lata vendida do produto in natura para a construção de obras de infraestrutura.

Em oito anos de existência, o empreendimento arrecadou R$ 290 mil. Com o dinheiro, a comunidade garantiu água potável, construiu a ponte de 600 metros que liga as moradias às lavouras de mandioca, um centro comunitário e uma cozinha industrial que já se consolida como nova fonte de renda para a coletividade.

Tecnologia social certificada pela Fundação Banco do Brasil em 2017, o fundo é resultado de um processo de mobilização coletiva iniciada em 2004. Naquele ano, quase todas as famílias perderam um parente, amigo ou vizinho por causa do surto de raiva causado por morcegos. A doença atingiu três comunidades e vitimou 15 pessoas em apenas duas semanas. Posteriormente, um laudo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais  Renováveis  (Ibama) apontou a derrubada do açaizal como motivo da migração dos morcegos transmissores da doença para a vila.

Naquela época, o açaizal era alvo de exploradores que viam no palmito uma fonte de renda atrativa, quase sempre pessoas de fora da comunidade que haviam se estabelecido no local há décadas. A partir da tragédia, a população começou a perceber que a melhor saída era manter o açaizal de pé, vendendo o fruto em vez da árvore. A partir daí, um pequeno grupo começou a articular o diálogo comunitário sobre o caminho mais lucrativo e ambientalmente adequado.

Teofro Lacerda, idealizador do fundo e primeiro presidente da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Rio Acuti-Pereira (ATAA), lembra que naquela época o açaí despontava como grande promessa de negócio e começava a ser exportado para outros países. Mas não foi fácil convencer os demais moradores da comunidade sobre as potencialidades da floresta de pé. Após muita conversa, convencimento e mobilização, as famílias começaram a apostar nessa ideia. Mas com a produtividade do açaizeiro nativo ainda baixa e a ausência do poder público, as demandas só cresciam, pois a vila precisava de infraestrutura básica que nem a prefeitura nem o governo estadual supriam.

A ideia da criação do fundo surgiu entre 2009 e 2010. Naquele ano, foram vendidas 20 mil latas de açaí. Cada produtor começou contribuindo com R$ 1 por lata vendida. Logo, a comunidade tinha recursos para construir a ponte. A obra custou R$ 35 mil e foi totalmente custeada pelo fundo. “Os engenheiros foram os próprios comunitários e a mão de obra foi de toda a comunidade”, conta Lacerda. Desde então, os moradores têm muito mais facilidade para entrar ou sair da vila. “Essa ponte é a nossa ‘avenida’. Antes a locomoção era muito difícil. A gente tinha que embarcar na canoa e caminhar sobre rolos de madeira soltos para poder estudar, trabalhar e qualquer que fosse a atividade fora.”, lembra o técnico agrícola.

O IEB tem atuado como parceiro do Fundo Solidário Açaí, desde 2014, realizando ações de formação continuada em gestão dos recursos naturais e de articulação intersititucional por meio do Comitê Governança Florestal de Portel. As ações são desenvolvidas com apoio financeiro do Fundo Socioambiental da Caixa e contrapartida do Fundo Vale.

O Fundo Solidário Açaí também possibilitou a construção de um centro comunitário. No local acontecem reuniões, ações da Pastoral da Criança, cursos e festas. Outra conquista foi a construção de um poço artesiano que hoje abastece de água potável uma área de mais de 800 metros quadrados. “Tudo isso mudou a nossa realidade da água pro vinho”, explica Lacerda.

A melhoria mais recente é a cozinha industrial comunitária. No local, cerca de 20 mulheres produzem alimentos que são vendidos para as escolas da região (por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE), gerando renda para o coletivo. De acordo com a ATAA, 5% da receita obtida com a atividade vão para o fundo. “A ideia é diversificar as fontes de recursos para que o fundo seja cada vez mais sustentável”, ressalta Lacerda.

O técnico agrícola Nilson Corrêa da Silva, atual presidente da entidade, afirma que as perspectivas da comunidade mudaram completamente após a criação da associação e do Fundo Açaí Solidário. “As crianças de hoje têm mais possibilidades de educação e mais qualidade de vida do que as da geração anterior. Nossa meta é formar contadores e outros profissionais para gerir o fundo daqui a algum tempo”, explica.

Outro objetivo é ampliar a produção de açaí e começar a exportar para outros países. “Agora podemos sonhar mais alto e com a certeza de que uma hora ou outra o sonho vai se tornar real”, afirma Silva. Por ano, são comercializadas 200 toneladas de açaí para restaurantes da região, escolas e alguns atravessadores. Ainda segundo Silva, outra meta da ATAA é deixar de comercializar com atravessadores.

Combate à pobreza

O Fundo Solidário Açaí é uma tecnologia social relacionada com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 1 da Organização das Nações Unidas (ONU): acabar com a pobreza em todas as suas formas.

Veja aqui as metas estipuladas na Agenda 2030.

Material produzido pela Fundação Banco do Brasil

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