Campanha chama atenção para relação entre ODS e enfrentamento à pandemia
Por: GIFE| Notícias| 08/06/2020Em 2015, durante a Cúpula das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, os 193 Estados-Membros da Organização das Nações Unidas (ONU) adotaram formalmente a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas a serem alcançadas até 2030. A transversalidade dos temas tratados por cada um dos objetivos faz com que as causas defendidas pelos ODS misturem-se a pautas do momento, como é o caso do combate à pandemia de Covid-19.
Isso significa que, para combater o novo coronavírus, não é preciso deixar de lado o enfoque nos ODS. Ao contrário: para ilustrar como as duas esferas se relacionam, a Estratégia ODS, coalizão que reúne organizações representativas da sociedade civil, do setor privado, de governos locais e da academia com o propósito de ampliar e qualificar o debate a respeito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil e discutir meios de implementação efetivos para essa agenda, acaba de lançar a série #ODSnaCrise: Como as metas dos ODS podem auxiliar no combate à pandemia.
Segundo Sérgio Andrade, diretor executivo da Agenda Pública, uma das organizações integrantes do comitê gestor da Estratégia ODS, a série faz parte de um esforço para traduzir, em um momento de crise como o atual, o que significa desenvolvimento sustentável. “A mensagem dos ODS, que é não deixar ninguém para trás, pode ser traduzida de uma forma muito simples: é pensar na garantia de condição de renda mínima para as pessoas, trabalho, oportunidades e proteção social, incluindo a saúde, em um momento em que isso tudo é tão delicado”, explica.
A série
A série consiste na divulgação, durante 17 dias, de dois cards para cada ODS. A Estratégia ODS optou por dividir os pares de materiais em duas frentes: enquanto o primeiro tem um objetivo mais educativo ao falar sobre o ODS em si e como ele se relaciona à pandemia, o segundo apresenta ações práticas que podem ser tomadas por organizações da sociedade civil, empresas, governos e academia para, ao mesmo tempo, combater os efeitos do vírus e fortalecer a caminhada para alcançar as metas dos ODS.
A pandemia deixou ainda mais evidente necessidades que já existiam antes da chegada desse novo vírus. A erradicação da pobreza extrema para todas as pessoas e em todos os lugares até 2030, por exemplo, que corresponde ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 1, ganha novos contornos quando nota-se que o combate ao coronavírus em locais de maior vulnerabilidade social fica dificultado.
Por isso, um dos cards divulgado no dia 28 de abril, quando a campanha teve início, explica como diversas metas relacionadas ao ODS 1 chamam atenção para a criação de condições para que a pobreza impacte menos em momentos de crise. “Em tempos de crise, [a erradicação da pobreza] depende ainda mais da criação e implementação de políticas públicas que garantam o acesso a serviços básicos. De acordo com dados do Instituto Trata Brasil, divulgados em 2019, 35 milhões de brasileiros não possuem acesso à rede de água potável, assim como 96 milhões não contam com coleta de esgoto”, reforça o card.
Em um segundo momento, outro card deu exemplos de ações práticas que contribuem com o ODS 1 em momentos de crise, como doação de alimentos e cestas básicas para que as famílias possam sobreviver à quarentena, manter empregos para que os trabalhadores consigam sustentar suas famílias durante esse período, comprar mantimentos e produtos de pequenos negócios para estimular a economia e ampliar e aprimorar programas governamentais de transferência de renda.
Para Sérgio, o segundo braço da iniciativa de comunicação, que é convidar as pessoas à ação, relaciona-se com a própria natureza dos ODS de endereçar desafios complexos e de grandes proporções, a exemplo do próprio ODS 1, que pauta a erradicação da pobreza no mundo todo. Segundo o diretor, apesar de inúmeras diferenças de naturezas diversas, a sociedade civil, empresas e governo têm um inimigo em comum: uma epidemia que agrava situações de desigualdade e impõem novos desafios para a situação econômica do país.
“No processo de enfrentamento da pandemia, vemos uma convergência que pode ser materializada em uma frase que faz todo sentido para o momento que o país vive: juntos de novo. Essa mensagem e visão que os ODS trazem, de que precisaremos trabalhar de forma integrada para resolver problemas complexos, é fundamental.”
Todos os cards da campanha podem ser conferidos na página da Estratégia ODS no Facebook.
A campanha
A ação de comunicação que envolve a divulgação dos cards em redes sociais faz parte de uma iniciativa maior, o Projeto de Fortalecimento da Rede Estratégia ODS, com a construção de uma narrativa que relaciona os ODS ao momento atual, mostrando que os objetivos não são algo distante do dia a dia das pessoas.
Ao final da divulgação dos materiais no Facebook, haverá o lançamento de uma publicação para compilar todo o conteúdo. Além disso, Sérgio também menciona a produção de relatórios sobre temas como emprego e proteção social.
“A agenda dos ODS é muito abrangente. Em razão do cenário desafiador que o Brasil atravessa, essa agenda enfrenta dificuldades para se traduzir em ações concretas. Por isso, escolhemos priorizar a narrativa dos ODS neste momento, conectada à realidade do país, para mostrar ações que podem ser feitas para ampliar a proteção social e gerar condições e oportunidades de trabalho, emprego e renda”, afirma.
Entre as metas do projeto está a mobilização de mais de 400 organizações e movimentos capacitados para incidência e monitoramento dos ODS, com foco na redução das desigualdades de gênero, geracional e étnico-racial, além da ampliação da rede de signatários em mais de 200 membros e 150 municípios incorporando os ODS aos seus instrumentos de gestão governamental e políticas públicas.
“O Projeto propõe articulação entre diferentes atores – empresas, governos, sociedade civil e universidades – para que nós possamos construir um modelo de implementação dos ODS no Brasil que faça sentido aos desafios atuais. Precisamos traduzir o que significa desenvolvimento sustentável em um momento em que temos tantos desafios e questões políticas e econômicas que se apresentam ao mesmo tempo”, pontua Sérgio.