Após menor número de inscritos da história em 2022, Enem deste ano tem expectativas de retomada pós-pandemia

Por: GIFE| Notícias| 19/06/2023

Abertura dos portões, segunda etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O período de inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) chegou ao fim na última sexta-feira (16). Em 2022, o exame teve o menor número de inscritos em 17 anos: 3,4 milhões. Também registrou 31,9% em abstenção, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

Rilza Souza é professora de Língua Portuguesa e Redação do estado de Alagoas, trabalha com redação pré-Enem há 10 anos, e já lecionou no Programa Universidade Para Todos. Para ela, as aulas remotas não foram suficientes para preparar os estudantes durante a pandemia de Covid-19.

“Foi uma luta conseguir algumas inscrições nas minhas turmas, a maioria tem autoestima baixa por observarem que outros estudantes têm melhores oportunidades. Mas vejo uma situação mais positiva esse ano.”

Marina de Oliveira é uma das coordenadoras do cursinho popular Tereza de Benguela. Ela lembra o número de pessoas em situação de fome no período do último Enem, mazela ainda não superada.

“Universidade é um plano a longo prazo, só que a juventude precisa trabalhar agora porque quem tem fome tem pressa”. A coordenadora acredita que os números de inscrições serão melhores esse ano. Mas, alerta para o Novo Ensino Médio (NEM). “Os alunos do cursinho estão extremamente insatisfeitos, buscando no cursinho conhecimento que não estão encontrando nas escolas.”

Para Cláudia Bandeira, assessora da Ação Educativa, é preciso mensurar os impactos na saúde mental e emocional de estudantes e profissionais da educação após os anos de pandemia junto com o aumento da pobreza e desemprego. “As expectativas para 2023 são melhores se comparadas à edição anterior, porém acredito que ainda ficaremos longe de atingir os 72% de concluintes do EM inscritos como em 2016”, pondera.

“Concorrência do Enem é desleal”

O estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, realizado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa em parceria com o Instituto Unibanco em 2021, mostra que entre estudantes que estão no 3º ano do ensino médio, a perda de aprendizagem é estimada em 74%. 

Marina de Oliveira ressalta que apesar dos estudantes terem passado de ano, o desafio é dar continuidade a um processo de aprendizagem que não aconteceu. Além das disparidades da educação pública e privada, que Rilza Souza viu de perto, já que durante a pandemia trabalhava em duas escolas particulares e em uma do estado.

“Nas escolas particulares foi uma adaptação de 15 dias. Na pública foram meses. No Enem a concorrência é desleal porque as oportunidades são desiguais. A resposta quando eu ia atrás dos alunos para se inscrever era: ‘isso não é pra mim, não vou conseguir’.”

Desafios atuais

As aulas presenciais voltaram em 2022. Mas, para Rilza Souza, apenas isso não resolve os problemas, já que muitos de seus estudantes hoje precisam conciliar a escola com trabalho para ajudar a família.

Para Cláudia Bandeira, é preciso buscar a revogação de programas como o Novo Ensino Médio e o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares “que acirram desigualdades educacionais impactando trajetórias de jovens, principalmente negros e de baixa renda. Não à toa estes foram os que mais deixaram de fazer o Enem na última edição”. Ela destaca ainda a necessidade de dados educacionais que estão atrasados, como o Censo da Educação Básica. 

Paulo Batista é CEO da Alicerce Educacional, e defende que o maior desafio e oportunidade da educação brasileira estão no Ensino Fundamental.

“Realizar investimentos no EM sem corrigir os problemas estruturais do Ensino Fundamental será um desperdício de tempo, energia e recursos. É impossível ensinar física e química para alguém que não sabe somar ou multiplicar”, argumenta.

Investimento Social Privado (ISP) deve caminhar junto com o investimento público

O CEO da Alicerce Educacional afirma que os países bem sucedidos em seus sistemas educacionais, mostram que a melhor estratégia para enfrentar essa crise é o reforço educacional no contraturno. Assim, o investimento social privado tem um papel importante como complemento ao investimento público. “O apagão de aprendizagem brasileiro é a maior crise humanitária e a maior oportunidade econômica que temos no Brasil.”

Diante desse cenário, a CEO da Fundação Otacílio Coser, Camila Rocha, acredita que é preciso trabalhar com articulação intersetorial para que jovens vulneráveis sejam apoiados até o ingresso no mercado de trabalho formal; além de fortalecer organizações de base territorial. 


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